sexta-feira, 1 de março de 2024

A primazia do Bem sobre o mal

(por Francisca Rutigliano)
“Peço desculpas ao meu irmão e amigos por deixá-los assim. Mas a máquina requer sangue. Nada disso é justo. Desejo que meus restos mortais sejam cremados. Não desejo que minhas cinzas sejam espalhadas ou que meus restos mortais sejam enterrados, pois meu corpo não pertence a nenhum lugar deste mundo. Se chegar um momento em que os palestinos recuperem o controle de suas terras, e se as pessoas nativas da terra estiverem abertas a essa possibilidade, eu adoraria que minhas cinzas fossem espalhadas em uma Palestina livre."
(Aaron Bushnell)
O reporto recíproco entre Bem e mal é uma das questões primordiais da Filosofia. Heráclito o compreendeu nos termos de uma oposição complementar inerente ao Todo, Empédocles enquanto dois ciclos completos em si e consecutivos. Heráclito não diz qual ponto da oposição é o originário, porque não compreende a possibilidade de um se originar sem a complementariedade do outro. Empédocles estabelece o ciclo de Bem, apreendido na figura do Amor, como o originário, porque como o princípio genético de toda a vida; deste modo, o Filósofo apreende o mal, visto na figura do ódio, como um resultante eterno da decadência do Bem.
Há que fazer um esforço para imbricar de algum modo estas duas perspectivas do Pensamento essencial dos gregos.
Interessa-nos a perspectiva de Empédocles pelo fato que ela permite reconhecer a primazia do Bem, não apenas enquanto circunstância genética, mas ainda porque vemos desde aí que o mal não se mostra auto-sustentável, tal como o Bem o faz perfeitamente – o mal só se permite desdobrar sob a máscara do Bem; está interditado a ele se exprimir e em seus próprios termos, os quais não são jamais justificáveis nem lógica, nem moral, nem ontologicamente. Interessa-nos do mesmo modo a perspectiva de Heráclito porque ela nos permite verificar o embate contínuo destes dois fenômenos eternos.
Porque Empédocles pensa o Bem como o originário, isto nos concede a esperança de um depuramento da existência, no sentido de uma diminuição paulatina da decadência no curso de sua história, em vista sempre do ideal de superação do mal – com tal propósito, a humanidade estaria se aperfeiçoando no Bem e, quem sabe, lograsse mesmo se subtrair ao mal moral (moral aqui entenda-se no sentido de histórico), nas suas figuras mais perversas: preconceito, hipocrisia, cinismo, vulgaridade, cobiça, engodo, exploração... Deste modo, o homem poderia aspirar superar a contingência humilhante de estar sempre a cobrir a face com a máscara do Bem para proceder ao mal. Se é verdade que o homem aspira à felicidade, o estar à vontade com a sua própria figura é a forma mais extraordinária de ser feliz, porque é a forma ser na Liberdade.
É justamente sob a perspectiva desse propósito de superação do mal, que a concepção de Heráclito do reporto de Bem e mal, vem muito a calhar. Se o reporto é permanente, se ele assinala a luta interna e contínua do Ser com o não-Ser, não há que se tomar a concepção do Filósofo por respeito aos pontos extremos de ambos os fenômenos, mas sim ao todo do curso da vida. E esta concepção nos permite mesmo apreender nessa luta a possibilidade de um predomínio extensivo do Bem.
Nada impede ao homem de tomar o partido do Bem, porque todas as perdas possíveis consequentes dessa tomada de partido não se configuram jamais enquanto perdas essenciais, uma vez que nenhuma delas tem feição espiritual. Ao contrário, todas as perdas consequentes da tomada de partido pelo mal, são necessariamente perdas essenciais.
Reflitamos algo acerca disto dentro do contexto da crise moral que a humanidade está atravessando com o recrudescimento dos movimentos neo nazi-fascistas configurados agora pelo Sionismo mundial.
O crime impetrado pelos Governos de parte da Europa, de Israel e dos Estados Unidos contra o Povo Palestino, tem dizimado vidas e demolido a estrutura físico-existencial desta População. Mas de forma alguma tem podido lhe soterrar o Mundo. Muito ao contrário, quanto mais se massacra esse Povo inocente e espoliado, mais o Mundo Palestino brilha para o Todo da humanidade. E ainda que a alma desse Povo se encontre de joelhos, o espírito Palestino se mantém ereto, intacto e transparente. O mesmo não se dá com os Governos que lhe agridem ferozmente e nem com seus membros.

Neste momento, os Governos pró-sionismo oscilam como edifícios a beira da queda. Seus membros, todos desonrados publicamente perdem em velocidade surpreendente o seu futuro político – estão todos já derrotados para o futuro. Sem apreço, sem respeito, fixados na história como fascistas assassinos, estes homens e mulheres deliberados para o mal, são já virtuais mortos civis. Todos destruíram sua própria vida, ao perderem seu futuro. De modo que se sua alma arrogante não abaixa a cabeça, seu espírito, contudo, já rasteja.

O exemplo americano é muito propício para que meditemos sobre as deliberações que nos são concedias na vida entre Bem e mal. Um jovem piloto, enredado dos pés a cabeça na máquina de guerra de seu País, reconhece a direção criminosa que essa máquina tomou e salta para fora se negando a operá-la. Um velho cidadão que logrou chegar a Presidência, com liberdade para quebrar a máquina, delibera por operá-la ele mesmo. O homem velho deu a vida por prestígio e vantagens e, no entanto, não conseguiu senão enxovalhar de lama a sua velhice. O jovem é hoje o verdadeiro Presidente dos Estados Unidos da América e o velho é agora unicamente persona non grata em seu próprio País. Esta verdade já evidente para muitos tem que poder nos fazer pensar sobre o nosso destinamento histórico, porque a melhor das possibilidades que uma vida mortal tem para pleitear é um lugar digno na memória de seu Povo.
Eu quero crer que a luta do Bem e do mal tende a poder reconduzir sempre a vida para o Bem, porque o mal é de todo desprovido de necessidade. Nós poderíamos viver sem o mal, mas de modo algum seríamos capazes de sobreviver sem o Bem. É dele que necessitamos como o ar que nos permite existir.

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