Mas, falemos de outros ritos das sextas-feiras maior, nestas datas, o leite era simplesmente banido da casa, exceto, é claro, para os lactantes, tenho quatro irmãos mais novos.
Meu pai, seu Enéas, e suas poucas palavras, organizava todos os anos, excursões para Aparecida do Norte, uma no dia Sete de Setembro, outra em doze de outubro, uma marca inquestionável de sua fé na padroeira, via de regra, só ia a igreja nestas datas, ou para batizados. O único lanche que ele conhecia era um "copo de leite quente", algo que eu nem conseguia segurar, quanto mais colocar na boca, e para comer, uma broa de milho, "na verdade fubá", algo que mesmo com o leite, travava na boca. Mas, nas sextas-feiras maior, o leite que era banido da casa, era banido mesmo
Um dia, ousei perguntar para o seu Enéas, porque ele, que não tinha nenhum outro rito religioso, a não ser o "Surubim salgado" na sexta-feira maior, não tomava leite também neste dia. O velho, ainda não tinha o direito de o tratar assim, me apoiado no cabo da enxada, estavamos colhendo batata-doce no quintal, ele pausadamente respondeu: antes de conhecer sua mãe, ao contrário de minha família, eu era bem "virado do avesso" e fui "tirar leite" de uma vaca, numa sexta-feira maior, em vez de leite, o que saiu dos peitos da vaca, foi sangue, desde então, não ponho leite na boca neste dia.
Posso, depois de uma infância, "virado do avesso" exceto durante os tempos da teologia da libertação, numa ter sido fiel frequentador das igrejas, mas ignorar a somatização da fé popular, algo, quase sempre para o mal. Mas é justamente a mesma somatização, "real ou não" do sangue nos peitos da vaca, na história de meu pai, que trouxe finalmente o primeiro filho homem para o casal, ainda que meu nome, não seja, necessariamente, algo que eu goste.
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