domingo, 10 de março de 2024

Por que a Copa do Mundo Feminina de 2023 foi a mais competitiva na história

Esse artigo traz a luz uma serie de razões que levam a acreditar no futuro muito promissor para o futebol feminino, um futuro muito provavelmente inverso ao jogo masculino; se insistirem aplaudir o mequetrefe cai-cai neymariano, mantendo-o como modelo de grande ídolo da massa, aliás, nem tanto apaixonada pelo bom e velho esporte bretão.
O artigo foi originalimente publicado no FIFA Training Centre - a plataforma da FIFA com métodos de treinamento, análises táticas e técnicas e muito mais.

Para cada torneio FIFA, acionamos nosso Grupo de Estudos Técnicos (TSG, na sigla em inglês) para analisar todos os seus jogos do ponto de vista técnico, tático, físico e mental. Fazemos isso para entender como se comporta a elite mundial e detectar e definir as tendências do futebol que estão surgindo no jogo moderno.
Liderado por Arsène Wenger, chefe da Divisão Global de Desenvolvimento do Futebol da FIFA, o TSG analisa os jogos através do ponto de vista de técnico, enquanto nossa equipe de Football Performance Insights gera e decodifica os dados coletados por nossa extensa equipe de analistas.
Durante e após cada torneio, todas essas informações são verificadas e agrupadas pela nossa equipe de especialistas, para gerar um amplo quadro sobre que está acontecendo em todos os níveis da modalidade, da base às equipes principais. 
Esta coleta de dados e insights, quando comparada com torneios anteriores, nos dá uma visão verdadeira de como o jogo moderno está mudando e evoluindo.
Estas métricas fornecem pontos de referência válidos a partir dos quais podemos avaliar o desempenho, características das equipes vencedoras, caminhos para desenvolvimento de jogadores, formação de treinadores e programas de desenvolvimento de talentos para todas as 211 federações-membro.
Neste artigo, exploramos alguns dos números que extraímos da Copa do Mundo Feminina da FIFA Austrália e Nova Zelândia 2023™ antes de explorarmos mais detalhadamente algumas das principais características marcantes das seleções bem-sucedidas.

Aumento da competitividade

Apesar do aumento de seleções participantes de 24 para 32 em 2023, esta foi a Copa do Mundo Feminina da FIFA mais competitiva se comparada às de 2019 e 2015. De acordo com Chan Yeun Ting, do TSG, chegar a esta conclusão “foi realmente interessante".

"Antes desta Copa do Mundo havia a preocupação de que haveria grandes placares, mas isso não aconteceu. Os estreantes no torneio eram muito competitivos, extremamente bem organizados e tinham estruturas sólidas. Foi muito difícil de quebrar suas linhas. As estratégias defensivas das equipes melhoraram muito.
O padrão na posição de goleiro melhorou, as equipes mais ofensivas tiveram menos tempo e espaço para tentar o gol e a gestão do jogo ficou melhor.” Mesmo com 12 jogos adicionais disputados, quando os dados do torneio são normalizados, o número de gols por jogo diminuiu 9%, para 2,56 em 2023, em comparação com 2,81 em ambas as competições anteriores. Com oito seleções estreando na Copa, havia algumas preocupações sobre como essas seleções se sairiam contra nações que tinham mais experiência.
No entanto, a decisão da FIFA de expandir o torneio, como parte do nosso compromisso com o desenvolvimento do futebol feminino, foi justificada com fases de grupos muito competitivas, onde os gols por jogo (2,65) foram reduzidos em 12% desde 2015. Além disso, o número de jogos sem sofrer gols aumentou 14% desde 2015, com desempenhos defensivos impressionantes no coletivo.
Houve dez empates por 0 a 0 (incluindo prorrogações) em 2023, em comparação com apenas quatro em 2015 e 2019 combinados. Nadine Angerer sente que a melhoria no nível das goleiras também é um fator-chave nesse processo. “As goleiras me surpreenderam muito, houve uma diferença muito grande em relação aos torneios anteriores.
O envolvimento delas na construção das jogadas, quando suas equipes tinham a bola, foi excelente, pois estavam confiantes e bem postadas com a bola nos pés e na distribuição. Elas tiveram muita variedade nos passes e conseguiram fazê-lo sob pressão.
Também vimos altos níveis de entendimento do jogo e visão para perceber onde estava o espaço. Quando as suas equipas não tinham bola, elas protegiam esse espaço atrás das linhas defensivas, permitindo que as suas defesas jogassem mais altas e estivessem muito mais envolvidas no jogo, sendo mais fortes e confiantes no jogo aéreo. Também vimos algumas defesas excelentes. Foi impressionante.”

Foram 2,56 gols por jogo em 2023, uma queda de 9% em relação aos dois torneios anteriores.
A Copa do Mundo Feminina de 2023 teve menos gols por jogo na fase de grupos do que em 2019 e 2015.



Houve mais jogos sem gols em comparação com as duas edições antriores.

Perfil etário

O desenvolvimento das jogadoras no futebol feminino está crescendo em um nível exponencial. À medida que mais clubes se tornam totalmente profissionais e têm divisões de base e centros de treinamento em tempo integral, vemos jovens jogadoras chegarem às seleções principais já no início de suas carreiras. Curiosamente, 42|% das jogadoras com menos de 21 anos neste torneio representavam times estreantes. Haiti (10), Panamá (5) e Zâmbia (5) eram os países com maior número de jogadores Sub-21 nas suas equipas. 
A atacante colombiana Linda Caicedo (18) e a atacante espanhola Salma Paralluelo (19) estiveram entre os jovens talentos que se destacaram nesta competição. Ambas as jogadoras também estrelaram por seus países tanto nas edições anteriores da Copa do Mundo Feminina Sub-20 e do Mundial Sub-17. Caicedo jogou as três competições em onze meses. 
A progressão dos jogadores Sub-21 no nível superior é particularmente interessante, segundo Gemma Grainger. “É um sinal do investimento contínuo no nível juvenil e da exposição que estas jogadoras estão tendo contra jogadoras de maior qualidade em torneios internacionais e nos seus clubes. Os países têm identificado mais cedo suas jogadoras de maior potencial e estão melhorando seu desenvolvimento. Essas jovens jogadoras são muito técnicas, fortes e têm leitura de jogo. Sem contar que não sentem a pressão de jogar diante de grandes torcidas”, explicou. 
Quando estendemos a métrica do perfil etário para menores de 25 e maiores de 25 anos e a comparamos com 2019, obtemos uma visão interessante sobre a evolução das seleções principais de diferentes países. Vice-campeã, a Inglaterra teve a maior mudança no perfil etário de elenco desde 2019, com sete jogadores a mais com menos de 25 anos do que quatro anos antes, enquanto a Noruega e o Canadá tiveram seis jogadores a mais com mais de 25 anos do que em 2019.

Estreante no torneio, Haiti tinha dez jogadoras com menos de 21 anos em seu elenco.

Em 2023, a Inglaterra teve mais sete jogadores com menos de 25 anos do que em 2019.

Gestão de elenco e uso de substituições

Em 2023, e pela primeira vez no Mundial feminino da FIFA, as equipes puderam fazer cinco substituições no jogo (sem incluir substituições por concussão). Essa maior oportunidade para mudanças durante as partidas fez com que um grande número de jogadoras de linha ganhassem preciosos minutos na competição. 
Para Chan Yeun Ting, do nosso Grupo de Estudos Técnicos, ser capaz de fazer cinco substituições é significativo. “Dá mais opções aos treinadores mais opções. Permite aos treinadores fazerem mudanças táticas mais cedo e lançar jogadoras que podem realmente mudar a partida. Muitas vezes, nas Copas do Mundo anteriores, as substituições eram como seis por meia dúzia, mas agora o técnico pode realmente alterar o jogo taticamente. As mudanças extras significam que as equipes podem manter altos níveis de desempenho, e a velocidade do jogo não diminui nos minutos finais. Isso também significa que mais jogadoras terão tempo em campo, e isso é ótimo para o seu desenvolvimento.” 
Das 32 seleções, sete (França, Portugal, Espanha, Suécia, China, Japão, Holanda e Noruega) utilizaram todas suas jogadoras de linha durante o torneio, enquanto nenhuma equipe utilizou menos de 17 jogadoras de linha. Não há correlação direta entre o número de jogadoras utilizadas e o sucesso na competição. A vencedora, Espanha, utilizou todas os atletas de linha, enquanto a vice-campã, Inglaterra, utilizou 17. Em comparação com 2019 (quando cada equipe tinha apenas três substituições cada), foram usadas mais reservas em 2023. Ainda assim, a nova quota (cinco cada) não foi totalmente utilizada. Em 2019, foram utilizados em média 5,6 reservas por jogo (de seis possíveis), enquanto em 2023 a média foi de 7,4 por partida (de dez possíveis). 
Curiosamente, a vencedora Espanha utilizou toda a sua quota de cinco reservas em cinco dos sete jogos. A profundidade do elenco, o tempo restante no cronômetro, o placar, a relevância do placar e a tabela de jogos são fatores relevantes na decisão dos treinadores de fazerem uma substituição.

Nenhuma seleção da Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023 usou menos de 17 jogadoras durante o torneio.

Em 2023, foram utilizados em média 7,4 reservas (dos dez permitidos) por partida.

Campeã mundial, a Espanha utilizou toda sua cota de substituições em cinco dos sete jogos.

Conclusão

Apesar de ter aumentado de 24 para 32 participantes, a Copa do Mundo Feminina da FIFA 2023 foi um torneio mais competitivo do que em 2019 ou 2015. Com menos gols marcados por jogo e mais jogos sem gols anotados do que nas duas competições anteriores, há uma evolução no nível de competitividade. 
A disponibilidade das jovens jogadoras para competir em alto nível, no início de suas carreiras, foi notada neste torneio -- o aumento do número de participantes no torneio de 24 para 32 deu a mais equipes exposição e rodagem. Além disso, a profissionalização contínua do futebol feminino e das bases de clubes em tempo integral são fatores que contribuem para esta evolução.
O aumento do limite de cinco substituições normais por equipe e por jogo também está abrindo caminho para que mais jogadoras tenham tempo de jogo durante a Copa do Mundo, o que melhora ainda mais seu desenvolvimento e a capacidade dos técnicos principal de fazerem mudanças mais cedo e com maior diversidade tática.

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