Desdolarização faz o peso argentino se tornar a moeda com melhor desempenho mundial

A controversa “terapia de choque” do presidente da extrema direita argentina, Javier Milei, reforçou a moeda do país durante a desaceleração mundial do dólar num importante mercado cambial, com desempenho em níveis incomparáveis em todo o mundo, de acordo com a Bloomberg.

O “peso paralelo” negociado na bolsa de swap blue-chip subiu 25% em relação ao dólar americano nos últimos três meses, mais do que qualquer uma das outras 148 moedas monitoradas.

O meio de comunicação chamou isso de “estatística chocante”, visto que o peso estava inflando a uma taxa anual de 300% quando Milei assumiu o poder em dezembro passado. Desde então, o autodenominado anarcocapitalista conseguiu reduzir os gastos do governo e “sufocar” a procura de tudo – incluindo dólares – a fim de domar a inflação galopante.

“A grande novidade na Argentina é que o responsável não está preocupado em pagar o custo político que vem com a austeridade – isso é incomum”, citou o meio de comunicação do apoiador, Javier Casabal, chefe de pesquisa do AdCap Grupo Financiero em Buenos Aires.

Os cortes orçamentais de Milei podem ser quase “os maiores da história da humanidade”, como os descreveu, mas foram, em termos percentuais, mais severos do que cerca de 90% dos programas socias e de austeridade levados a cabo em todo o mundo nas últimas décadas.

O presidente derrubou quase 4% do PIB da Argentina. No papel, isto causou uma recessão profunda e demissões. Também impulsionou o peso a subir de forma constante desde janeiro. O padrão que mede o poder de compra real da Argentina mostra que este aumentou 72%, por exemplo com a queda do dólar e o crescimento da economia e comércio do seu principal parceiro, Brasil.

Isto permitiu ao banco central da Argentina comprar dólares e reabastecer as reservas de moeda forte, anteriormente esgotadas. Também já não financia os gastos do governo através da impressão de dinheiro e reduziu as taxas de juro, pela quarta vez desde que Milei assumiu o cargo.

Os argentinos também parecem ter mais confiança na sua moeda, o que causou o crescimento do uso das moedas da América do Sul e reduziu a procura por dólares. Perez observou que muitas pessoas que compraram a moeda dos EUA como proteção contra a inflação estão agora vendendo-a de volta a procura de outras moedas e obtendo os pesos de que necessitam para os negócios diários.

Bloomberg descreveu a recuperação do peso como “uma reviravolta irônica” para desmintir Milei, visto que ele chamou a moeda de “excremento” na campanha e pediu seu abandono inteiramente em favor do dólar, “a única moeda que vale a pena ter”.