Às 4h30 da manhã de 10 de agosto, caças israelenses sobrevoaram a Cidade de Gaza e lançaram bombas GBU-39 de 250 libras, de fabricação americana, na escola e mesquita de al-Taba'een. Durante esse tempo, muitos dos habitantes fizeram fila na mesquita para ir ao Fajr ou oração do amanhecer. As bombas atingiram as pessoas perto da mesquita, matando pelo menos 100 palestinos.
É um massacre grotesco que ocorreu justamente quando os Estados Unidos decidiram rearmar Israel com esse tipo de arma. Sarah Leah Whitson, ex-diretora do Oriente Médio da Human Rights Watch, escreveu que as vendas de armas para Israel pelos EUA no dia desse bombardeio demonstraram um "condicionamento pavloviano para um exército selvagem".
Os Estados Unidos, apesar de declarações ocasionais sobre a retenção de armas, têm consistentemente armado Israel durante esta guerra genocida. Desde 1948, os Estados Unidos forneceram 130 bilhões de dólares em armas para Israel. Entre 2018 e 2022, 79 por cento de todas as armas vendidas para Israel vieram dos Estados Unidos (a próxima foi a Alemanha, que forneceu 20 por cento das importações de armas de Israel).
Essas vendas de armas vieram em pequenos grupos deliberadamente de menos de 25 milhões de dólares por venda para que não exijam o escrutínio do Congresso dos EUA e, portanto, debate público. Até março, os EUA aprovaram uma centena dessas pequenas vendas desde outubro de 2023, que somam mais de 1 bilhão de dólares em vendas de armas, incluindo a GBU-39. É importante saber que a bomba, criada nos Estados Unidos, provavelmente foi carregada em um caça israelense por um técnico americano destacado para as bases israelenses.
UM PADRÃO DE ATACAR ESCOLAS
Mahmoud Basal, o porta-voz da unidade de defesa civil de Gaza, disse que os médicos que chegaram ao local na escola al-Taba'een, muitos deles já veteranos desse tipo de violência, ficaram confusos com o que encontraram. ‘A área da escola está coberta de cadáveres e partes de corpos’, ele disse. ‘É muito difícil para os paramédicos identificarem um cadáver inteiro. Há um braço aqui, uma perna ali. Corpos estão despedaçados. Equipes médicas estão impotentes diante dessa cena horrível’. Pelo menos 40.000 palestinos foram mortos pelos bombardeios israelenses desde outubro passado, e dois milhões de palestinos foram deslocados de suas casas.
Na preparação para o ataque à escola al-Taba’een, as forças israelenses têm intensificado seus bombardeios de escolas em Gaza que servem como abrigos. Em julho, o exército israelense atacou dezessete escolas em Gaza, matando pelo menos 163 palestinos. Na semana anterior a 10 de agosto, Israel atingiu as escolas Khadija e Ahmad al-Kurd em Deir al-Balah, matando 30 palestinos (27 de julho), a escola Dalal Moghrabi em Shujaiyah, matando 15 palestinos (1º de agosto), as escolas Hamama e Huda em Sheikh Radwan, matando 16 palestinos (3 de agosto), as escolas Hassan Salame e Nasser em an-Nassr, matando 25 palestinos (4 de agosto), e as escolas al-Zahraa e Abdul Fattah Hamouda, matando 17 palestinos (8 de agosto).
Essa sequência de ataques a escolas ocorreu antes do bombardeio de 10 de agosto, o que mostra que há um padrão de alvejar civis que buscam abrigo em escolas. O massacre em al-Taba’een é o 21º ataque de Israel contra uma escola que está servindo como abrigo desde 4 de julho. Ahmed Abed perdeu seu cunhado Abdullah al-Arair no massacre em al-Taba’een. ‘Não há mais para onde ir’, ele disse. ‘Qualquer lugar em Gaza é um alvo’.
NEGAÇÕES ISRAELENSES
Israel aceitou que bombardeou essas escolas, mas nega que tenha matado civis. Na verdade, Israel não nomeia mais esses lugares como al-Taba'een e Dalal Moghrabi como escolas; ele os chama de "instalações militares terroristas". O exército israelense disse que matou pelo menos 20 ‘terroristas’, já que alega ter atingido uma ‘sala de comando ativa vital do Hamas e da Jihad Islâmica Palestina embutida em uma mesquita’. As autoridades israelenses divulgaram os nomes de pelo menos 19 pessoas que alegaram serem agentes seniores do Hamas e da Jihad Islâmica.
O Euro-Med Human Rights Monitor, uma organização independente sediada na Suíça, estudou as alegações feitas pelos militares de Israel e descobriu que elas eram factualmente insuficientes. A equipe do HR Monitor foi até a escola, fez uma pesquisa com os sobreviventes e revisou o registro civil controlado por Israel para os nomes. A ‘investigação preliminar da equipe descobriu que o exército israelense usou nomes de palestinos mortos em ataque israelense – alguns dos quais foram mortos em ataques anteriores – em sua lista’. As três pessoas mortas anteriormente, mas cujos nomes apareceram nas listas israelenses, incluem Ahmed Ihab al-Jaabari (morto em 5 de dezembro de 2023), Youssef al-Wadiyya (morto em 8 de agosto de 2024) e Montaser Daher (morto em 9 de agosto de 2024). A lista israelense também tinha três civis idosos que não tinham nenhuma conexão com nenhum grupo militante, incluindo Abdul Aziz Misbah al-Kafarna (diretor de escola) e Yousef Kahlout (professor de língua árabe e vice-prefeito de Beit Hanoun). A lista também inclui seis civis, ‘alguns dos quais eram até mesmo fortes oponentes do Hamas’.
É notável que, mesmo em suas próprias declarações, as autoridades israelenses pareçam inseguras sobre suas próprias alegações. O contra-almirante Daniel Hagari, do exército israelense, disse que "várias indicações de inteligência" mostram que havia uma "alta probabilidade" de que Ashraf Juda, um comandante da Brigada dos Campos Centrais da Jihad Islâmica, estivesse na escola al-Taba'een. Mas os israelenses não puderam confirmar. Então, os israelenses mataram cem civis, embora não tivessem certeza se seu alvo estava na instalação naquele momento.
O exército israelense estabeleceu um padrão para sua campanha genocida. Primeiro, ele bombardeia bairros civis, enviando pessoas aterrorizadas para abrigos como escolas e hospitais. Então, ele anuncia ordens de evacuação geral de uma área inteira, forçando as pessoas nesses abrigos a viverem com medo, já que muitas delas não têm os meios para deixá-los para outros lugares (de fato, "não há outro lugar para ir", disse Ahmed Abed). Tendo feito essas ordens de evacuação, Israel então bombardeia os abrigos protegidos, incluindo hospitais e escolas, com o argumento de que estes são alvos militares. Esta fórmula foi promulgada na Cidade de Gaza e em outras partes de Gaza.
Agora, Israel anunciou ordens de evacuação forçada para pessoas em Khan Younis, a cidade no centro de Gaza. Junto com essas ordens, as forças israelenses começaram ataques aéreos e de artilharia na extremidade leste de Khan Younis. Agora veremos esse tipo de ataque em escolas e hospitais que são abrigos para pessoas desesperadas no centro de Gaza, cada prédio visto pelos israelenses como um alvo legítimo.
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