É inevitável, as lembranças fervem, aquele tempo em que as meias só calçavam os pés nos dias de gélido inverno de uma Sampa da garoa. Também era um tempo de estações do tempo, bem definida. Já no final de fevereiro, a temperatura caia, o Sol, quando aparecia, antes de setembro, era o famoso "Sol discurso de político", não aquecia o chão, que não aquecia a água, que não aquecia o vento, que fazia doer mãos e rosto.
Neste tempo, falar em escola, era falar no primário, qual, falando naquilo que a sociedade hoje conhece, são apenas as primeiras quatro séries.
Neste tempo, as crianças, iguais a mim, que moravam a mais de um quilômetro da escola, que desconhecia o quê e uma praça, estas crianças, que quando ganhavam uns (Cruzeiros, "nome da moeda da época"), corriam para comprar uma bola de borracha, que quando caia no quintal de um morador, principalmente de um evangélico, a tal bola era "rasgada, pois bola, era uma coisa do capeta". Quase sempre, a bola era um monte de meias velhas, que minha mãe ganhava nas casas que trabalhava.
Anos depois, já aos dezesseis, as outras quatro séries, daquilo que hoje é educação básica, ainda que fosse um direito, não era um direito automático, havia um exame de admissão, que também "criou uma série de cursos preparatórios".
Ah, não dá para esquecer, o tal curso ginasial, sofria a desleal concorrência do transporte público anterior a primeira gestão progressista na capital paulista, acreditem, o trânsito era bem menos intenso, o que não amenizava o tempo de percurso, tanto pela demora para aparecer um ônibus, tanto para aparecer um, em que conseguíssemos por um dos pés, assim os jovens iguais a mim, que passaram nos tais exames de admissão, terminavam sendo reprovado por faltas.
Claro, entre estes dias e os dias de hoje, há uma constituição, que em tese, só em tese, deveria ter sepultado os entulhos autoritários da feroz ditadura militar, só que não.
Hoje, um governo progressista, cria o "PROGRAMA PÉ DE MEIA" numa clara tentativa de fazer com que os adolescentes concluam o ensino médio, lembro, isto é uma ação pratica de uma gestão progressista. Por ser uma ação pratica de uma gestão progressista, não tem uma ação publicitária favorável na grande mídia e não fura a bolha das redes sociais da extrema direita. Apesar dos montantes repassados a estes jovens.
O PÉ DE MEIA, precisa manter os jovens na escola, para que estes, aprendendo a ler, se possível numa perspectiva freireana, consigam perceber que a direita defende a parte mais rica, não só a parte mais rica da sociedade.
Além da parte mais rica, precisa também ser mais atrasada intelectualmente falando, já que a burguesia com um mínimo de informação, percebe, que quando há uma melhoria na renda da população, isto aumenta as vendas da própria burguesia que insiste nos atrasos sociais e da distribuição de renda.
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