Por: Douglas N. Puodzius
Mesmo levando em conta o mau caratismo no modo de pensar ordinário do funesto ministro, durante uma entrevista coletiva sobre denuncias de Mauro Cid, a declaração do velho "simpático" surpreendeu a todos. E quando digo todos, digo; desde aqueles que bem o conhecem e sentem repulsa pelo que ele representa e mesmo entre os que o conhecem e o admiram justamente por representá-los tão a contento. Nesse último grupo, encontra-se o povo da Globonews. Até a bovina Miriam Leitão considerou a fala do ministro despropositada.
Disse ele que; a nação brasileira deve sua democracia aos
militares, pois, quando consultados pelo amigo dele, Bolsonaro, esses milicos heróis,
recusaram-se a dar o golpe militar.
Em meio de uma reflexão sobre esse imbróglio Muciolino, encontrei-me
debatendo intimamente com base na fabulosa história e nas implicações da espada de Dâmocles, no que se refere ao caso em tela. Achei muito interessante o nexo das compreensões e, por isso, resolvi descrever as cenas da suposta aventura, nesse texto. Essa passagem ajuda a dar melhor dimensão sobre o quanto foi
infame a declaração do Ministro da defesa, além de lembrar, porque devemos odiar e ter nojo da
ditadura, como bem lembrava Ulisses Guimarães.
Então, acompanhe o raciocínio e colabore para desprezar
qualquer um que, ao exemplo de José Mucio, relativize nossas conquistas democráticas,
desejando retirar das legitimas mãos do povo, a existência do estado de direito e da liberdade nesse país. Obras que,
embora frágeis, tem suas bases construídas e mantidas através de muitas batalhas e à custa do sangue de muitos heróis.
Pois então, vamos a parábola...
Conta-se que Dâmocles, conselheiro da corte de Dionísio. Aliás, Dionísio nesse caso, não se tratava daquele famoso Deus mitológico do Vinho e das festas, mas, de um Velho tirano de Siracusa, vivente no século IV AC...Posto isto, voltemos ao velho e bom: Conta-se...
Conta-se que Dâmocles, tomava certas liberdades com o
imperador e vivia a declarar sua inveja pela boa vida que o soberano levava.
Todos os dias; à medida que o cotidiano se desenrolava, o funcionário
reservava comentários invejosos a respeito das belas roupas ou da farta e
apetitosa comida, dos encantos das damas de companhia ou do refinado gosto das bebidas.
No mesmo diapasão, logo após as estocadas sobre a bem-aventurança
da vida real, punha-se a lamentar a má sorte de sua condição menos afortunada,
confessando que, se tivesse a chance de também viver aquela vida abastada, aproveitaria
bem mais do que seu senhor.
E assim, cansado da ladainha provocativa de seu súdito, Dionísio
resolveu conceder-lhe o desejo e permitiu que Dâmocles se sentasse ao trono
para viver como um rei, como tanto sonhara.
O homem logo estava cercado de belas damas a massagear seu
corpo e servir-lhe grandes taças de bom vinho. E enquanto, aproveitava a boa
vida, gabava-se com Rei demonstrando o quanto era feliz e o quanto sua
felicidade era grande. Comemorava a todo momento, que seu contentamento era bem
maior do que em tamanho de alacridade seria possível constatar em qualquer um dos
dias da existência real de Dionísio. Lembrava que o Rei jamais demonstrara ter
sido tão feliz como ele era ali, com tanta comida, bebida e serviçais. E
questionava como podia Dionísio ser aquele sujeito sem alegria, mesmo tendo
tudo daquela forma, tão bem estruturado só para o deleite dele?
E o soberano prometeu sanar as dúvidas de Dâmocles durante o
jantar devidamente preparado em homenagem a ele, o novo Rei de Siracusa.
À noite, tendo se fartado com a deliciosa comida, a boa bebida e com o ambiente de festas e carinhos de suas mulheres, Dâmocles cobrou a explicação que Dionísio prometera lhe dar sobre os motivos que o impediam de ser feliz, mesmo vivendo naquele nababo.
Ainda antes de o Rei começar suas explicações, Dâmocles se espreguiçou
largamente. Foi quando percebeu que por todo o tempo do jantar pairou sobre sua
cabeça, uma espada. Ela estava perigosamente pendurada desde o teto, apontada
em sua direção, presa por apenas o fio da crina de um cavalo.
O novo rei estremeceu. Ele deu um pulo para trás,
posicionando-se distante de onde certamente atingiria a espada se o fino fio
rompesse, conforme parecia destinado a acontecer em qualquer momento.
- Viste essa espada, meu senhor? Perguntou o assustado Dâmocles
a Dionísio.
- Por óbvio que a vi... Respondeu Dionísio, divertindo-se com
o pânico do funcionário. Depois completou o comentário mais seriamente.
- Aliás, eu a vejo por todo o tempo. Ela representa todos os
meus inimigos e invejosos que há qualquer instante podem me golpear. Eles são
senhores de outros reinos, súditos traidores, um daqueles soldados, uma dessas
moças, o cozinheiro que preparou estes pratos ou a senhora que serviu este vinho.
Esta é a espada que paira mortal e
silenciosa sobre a minha cabeça durante todas as horas e todos os dias de minha
existência. Agora, responda-me você: Como posso ser feliz?
Dâmocles simplesmente apanhou suas coisas e saiu correndo desesperado.
Deixou o palácio repetindo a resposta que dera ao soberano:
- Não sei como podes ser feliz, só sei que que não desejo
mais ser rei!
Sabemos bem que se ainda não foi cortado o cordão e se, por isso, a espada continua aí, pairando perigosamente sobre a cabeça de toda nação brasileira, não foi por patriotismo e nem em defesa da democracia, muito pelo contrário, foi por não haver consenso sobre a conveniência do golpe, que todos aqueles heróis de Mucio, têm certeza; ainda consumarão.
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