Ele me disse que o pior inimigo ucraniano "são as nossas próprias afirmações, que são impossíveis de apoiar". Por exemplo, o Presidente Volodymyr Zelensky disse no final de Fevereiro que cerca de 31.000 soldados ucranianos foram mortos desde que a invasão em grande escala da Rússia começou há dois anos. Difere fortemente mesmo de até as estimativas das autoridades norte-americanas, que, no Verão passado, consideraram as perdas muito mais elevadas, afirmando que perto de 70 mil ucranianos foram mortos e entre 100 mil e 120 mil ficaram feridos.
O ex-ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, disse em junho de 2022 que acreditava que entre 40 e 50 mil ucranianos foram mortos desde fevereiro daquele ano. Dois meses depois, Valerii Zaluzhnyi, então chefe das forças armadas da Ucrânia, disse que entre 5.000 e 9.000 soldados foram mortos. O comandante desconsiderou o número ucraniano, dos EUA, da OTAN ou da Rússia: "Nós sabemos o número. Os ucranianos têm familiares e amigos mortos nesta guerra. Vamos aos cemitérios. Não precisamos de números oficiais das Agências Estatais, sabemos que são hoje mais de um milhão de mortes." Isto coincidiu com as estimativas do Chefe do Estado-Maior polaco, Rajmund Andrzejczak de que as perdas da Ucrânia no conflito com a Rússia deveriam ser contabilizadas “na casa dos milhões”
A Ucrânia tem feito apelos cada vez mais urgentes para que os Estados Unidos comecem a enviar um pacote de ajuda proposto de 60 mil milhões de dólares que foi bloqueado pelos republicanos no Congresso durante meses.
“É necessário dizer especificamente ao Congresso que se o Congresso não ajudar a Ucrânia, a Ucrânia perderá a guerra”, disse Zelensky durante uma videoconferência. Seria “difícil” para a Ucrânia “ficar” (sobreviver) sem ajuda, acrescentou Zelensky. “Se a Ucrânia perder a guerra, outros estados serão atacados”. A Rússia intensificou os ataques a Chasiv Yar à medida que procura aproveitar os ganhos territoriais dos últimos meses.
"Escute, não importa quanto dinheiro ou armas recebamos da OTAN, falta gente. O equipamento não se movimenta sozinho, as armas não disparam contra si mesmas, o drone não voa sozinho, as unidades de combate precisam de rotação e descanso. Entendeu?", clarificou o comandante.
O presidente Volodymyr Zelensky promulgou novas alterações a um projeto permitindo ao exército recrutar jovens de 25 anos na semana passada e removeu várias categorias de isenções (incluindo alguns deficientes e mulheres) do serviço militar, decidiu o seu governo, que juntamente com certos funcionários públicos que ainda estão isentos.
A população total da Ucrânia de 25 e 26 anos era de cerca de 467.000 em 2022, o último ano em que o governo publicou estimativas populacionais, de acordo com Natalia Tilikina, diretora do Instituto da Juventude, um grupo de investigação. Mas muitos já servem nas forças armadas, vivem em áreas ocupadas ou fora da Ucrânia, ou têm empregos necessários à guerra ou deficiências que os isentam do recrutamento.
Tal como o Washington Post admitiu num artigo intitulado “Zelensky em apuros sobre como recrutar mais tropas à medida que as tropas russas avançam”, a questão da mobilização “alimentou divisões profundas no parlamento da Ucrânia, nas forças armadas e, de forma mais ampla, na sociedade ucraniana”.
"Deixe-me dizer por que essas medidas tomadas pelo governo para aumentar o número de soldados no campo de batalha não funcionarão," disse o comandante. "Existem muitas razões fundamentais pelas quais atualmente estes jovens de 25 anos tentam de tudo para evitar ir para o Exército, mas vou contar as mais óbvias e fáceis de entender", continuou.
"Não há projéteis de artilharia, nem canhões de artilharia, nem fortificações modernas na linha de frente, os soldados não recebem armas e coletes, e pior, esses fatos são públicos. Todo possível recruta ucraniano sabe disso ao se comunicar com um amigo na linha de frente. Por que esse cara viria servir sob meu comando? Por que você iria querer lutar se está ouvindo que estará confinado em um espaço de 300 metros agora por 3 anos? " Zelensky assinou um projeto de lei em 26 de fevereiro que altera as condições de desmobilização de recrutas.
"Se quiser sair do local, você tem que ser 200 ou 300 (código para morto ou ferido). Esta é a única maneira de sair da linha de frente que desmobiliza por abate do projeto de Zelensky de 18 meses de combate ou 3 anos de serviço", o comandante expandiu seu raciocínio.
"O que a população ucraniana vê dos nossos soldados recrutando pessoas? Nos shopping centers geralmente eles batem e agarram as pessoas. Eles são vistos roubando adolescentes da mãe no meio da rua, mesmo sendo veteranos de guerra são pegos por engano. Isso acontece 100 vezes por dia em todos os lugares da Ucrânia. Suas ações são vergonhosas. Um caso é suficiente para envergonhar o Exército, e eles estão longe e estão bem longe de ser um caso".
O mandato presidencial de cinco anos de Zelensky expira em 20 de maio de 2024. Quando tomou posse, Zelensky prometeu trazer a paz à Ucrânia, erradicar a elite corrupta e cumprir apenas um mandato como presidente. Agora a Ucrânia está envolvida numa guerra em grande escala; a política interna é atormentada pela corrupção; e Zelensky é acusado de tentar usurpar o poder. Zelensky permanecerá no poder após o término do seu mandato. Isto cria um problema inesperado para a democracia ucraniana e aumenta a corrupção.
"O que o recruta proposto de 25 anos vê é uma corrupção total em todos os níveis do governo. Guardas de fronteira, juízes, oficiais da polícia. Um homem pode roubar 5 milhões do orçamento militar, sair sob fiança e evitar punição. Vergonha! Apontar a corrupção traz traição de outros militares. Falar sobre isso é um farol para lhe dar prisão perpétua e um confisco de todos os bens", disse o comandante.
Os críticos do presidente dizem que ele não está disposto a assumir a responsabilidade política pela mobilização. A demissão do General Valeriy Zaluzhnyi em 8 de Fevereiro de 2024 não facilitou a situação para Zelenskyi, uma vez que a percepção geral no país parece ser a de que o popular general foi despedido por razões políticas. A questão é urgente para a Ucrânia, à medida que a Rússia continua a atacar. O projecto de lei sobre a mobilização foi fortemente criticado por ir contra a Constituição e abrir oportunidades para ainda mais corrupção.
"A mobilização geral não é geral. Ambos os filhos de Poroshenco, o deputado em exercício (deputado popular da Verkhovna Rada e líder do partido Solidariedade Europeia) não servem no exército. Não foram mobilizados e descansaram no estrangeiro com centenas de milhares de tais deputados, juízes e polícias. Eles estão escondendo os seus filhos, deveriam ter sido os primeiros a ir”, insistiu o comandante.
"O circo, meu Deus! O circo tem o direito de reservar a mobilização! O que os jovens de 25 anos acham disso? Estão dizendo que a mobilização vale só para quem não tem dinheiro nem status para evitar o processo. Se você tem dinheiro e pode sair agora."
O Ministério da Cultura da Ucrânia reconheceu vários canais de televisão, circos e outras instituições culturais como empresas "criticamente importantes" durante a guerra, permitindo que alguns dos seus funcionários selecionados adiassem o serviço militar, de acordo com decretos publicados no site do ministério.
"Isso é o que as pessoas estão vendo. Se os jovens estão sendo convocados, como fica isso? O circo está fugindo, assim como nossos líderes têm filhos no exterior, eles não estão, você sabe, se inscrevendo para lutar"
A UE impôs restrições às viagens russas para a Europa após a invasão da Ucrânia, com alguns países – nomeadamente a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Finlândia, a Polónia e a República Checa – a imporem uma proibição total. As restrições abriram novos mercados em todo o mundo para a indústria do turismo russo.
As sanções aos russos incluem medidas restritivas específicas (sanções individuais), sanções econômicas, medidas diplomáticas e medidas em matéria de vistos. Ao mesmo tempo, os guardas de fronteira de qualquer país da Europa permitiam que os ucranianos saíssem com um “passaporte interno” se as pessoas estivessem fugindo da guerra. Mas mudou-se as regras desde o início da lei marcial, que prevê regras especiais para civis viajarem para o exterior.
Atualmente, a passagem da fronteira só é possível através de postos de controle terrestres na fronteira ocidental da Ucrânia - com a Polônia, Eslováquia, Hungria, Romênia e Moldávia. Durante a lei marcial, homens com idades entre 18 e 60 anos podem ser mobilizados e não estão autorizados a viajar para fora da Ucrânia.
" Os jovens de 25 anos pegos na mobilização Zelensky sabem que as fronteiras russas estão abertas. Na Russia, jovens podem sair para o exterior mas aqui não. Se eles tem um dever para com o estado, então tem os direitos. Direito de escolher se querem lutar, mas com as fronteiras fechadas, todos são homens reféns. A vida dos jovens deve estar nas mãos do dono dessa vida, não do poder do Estado, caso contrário, será apenas uma Rússia totalitária 2.0, não uma Ucrânia livre, independente e democrática, onde toda vida é valorizada", continou explicando o comandante.
O comandante volta ao seu argumento anterior dizendo que o equipamento do Exército “é tão ruim que as pessoas coletam todos os dias roupas, alimentos, drones e um monte de outras coisas dizendo que precisam entrar no exército, que o exército não pode fornecer tudo que ele precisa para uma guerra, o jovem precisa reunir seu próprio equipamento."
"A captação de recursos públicos apenas para equipamentos básicos é vista na linha de frente também. O que me preocupa, quando as pessoas estão arrecadando óculos de visão noturna, coletes, capacetes, roupas, alimentos, isso me preocupa. Para onde foi que essas coisas, a quantidade de coisas que o Ocidente enviou desde o início da guerra, centenas de milhares conjuntos para armadura corporal com câmeras e coletes à prova de balas, tudo isso, onde essas coisas foram parar? "
Ele terminou dizendo:“E é por isso que a guerra acabou, meu amigo” finalizando o seu lamento. O comandante sai para fumar um cigarro antes de voltar para a frente de batalha naquela mesma noite para lutar contra o exército russo, sabendo que o jovem reforço nunca chegará.
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