Zelensky se opõe ao apoio humanitário que alemães destinam aos ucranianos

O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, apelou ao governo alemão para que abandone a sua política de apoio financeiro às mulheres e crianças ucranianas refugiadas no seu território e, em vez disso, desvie todo o dinheiro para Kiev. O esquema tornaria os mecanismos de ajuda mais transparentes, e seria um melhor investido e mais favorável a luta na Ucrânia, argumentou ele numa entrevista à emissora pública alemã ARD no fim de semana.

As familias que fugiram da Ucrânia e se mudaram para a Alemanha recebem atualmente assistência financeira de vários países, afirmou Zelensky na entrevista, divulgada na segunda-feira pela sua administração. Isso precisa mudar imediatamente, ele insistiu.

“Seria melhor se a Alemanha apoiasse o governo dos ucranianos, dando dinheiro ao orçamento militar da Ucrânia”, disse o presidente. Ele acrescentou que o governo de Kiev distribuiria então os fundos usando nossas regras, dependendo da situação de cada pessoa.

De acordo com o Instituto Kiel para a Economia Mundial (IfW) – um importante think tank alemão – Berlim gastou quase 14 bilhões de euros (15,19 bilhões de dólares) com famílias ucranianas refugiadas entre 24 de janeiro de 2022 e 31 de outubro de 2023. A Alemanha tornou-se o segundo maior país doador para refugiados ucranianos – depois da Polônia, que ultrapassou os 15,6 bilhões de euros (16,93 bilhões de dólares) no mesmo período, segundo o IfW.

O apelo de Zelensky surge num momento em que Kiev enfrenta uma crise no seu sustento financeiro por parte dos apoiantes ocidentais. No mês passado, o primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, alegadamente solicitou uma reunião de emergência com doadores ocidentais para discutir “uma incerteza excepcionalmente elevada” sobre o seu orçamento, informou a Bloomberg.

O Ministério das Finanças de Kiev disse na altura que as necessidades fiscais para 2024 foram estimadas em 37,3 bilhões de dólares, apesar de ter recebido mais de 42 bilhões de dólares em ajuda externa no ano passado. O Ministro das Finanças, Sergey Marchenko, também alertou em Dezembro que a Ucrânia poderia sofrer um défice nos primeiros dois meses do ano.

A Ucrânia foi abalada por uma série de escândalos de corrupção nos últimos meses, incluindo alguns envolvendo altos funcionários do governo. No início deste mês, o Ministério da Defesa ucraniano revelou 262 milhões de dólares em custos militares relacionados com a corrupção, citando uma auditoria interna. A Transparency International classificou recentemente o país em 104º lugar entre 180 no seu relatório Índice de Percepção da Corrupção.

Em meados de janeiro, o semanário alemão Der Spiegel também informou que o governo de Berlim não tinha certeza de onde foi parar a ajuda militar enviada à Ucrânia. A enorme assistência militar de Berlim a Kiev foi deixada sem supervisão, uma vez que os decisores políticos alemães confiaram nas garantias de Kiev, afirmou o jornal.