segunda-feira, 31 de julho de 2023

Elias Jabbour - Assessor de Dilma no Banco dos Brics - é atacado pela direita mundial

The Brazil-China relationship, as seen through the BRICS bank

O The China Project, um sítio de notícias anti-China e desinformação sediado em Nova York, preparou este artigo sobre a contratação de Elias Jabbour, um proeminente economista brasileiro, como assessor da presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff. E aqui está ele traduzido para sua revisão.


Em março, a ex-presidente brasileira Dilma V. Rousseff foi eleita para liderar o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), criado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS). Poucos meses depois de sua eleição para o cargo, Dilma contratou Elias Jabbour, um proeminente economista, como pesquisador e assessor. A contratação gerou polêmica imediata na mídia brasileira, em grande parte devido aos pontos de vista de extrema esquerda de Jabbour.

Embora a nomeação de Jabbour não indique necessariamente uma mudança na política do Brasil para a China, sua contratação levanta questões sobre o futuro relacionamento bilateral entre os dois países, que têm crescentes aspirações internacionais. Jabbour é claramente simpático ao Partido Comunista Chinês (PCC) – como isso pode afetar as relações do Brasil com seu segundo maior parceiro comercial, os Estados Unidos? Sua contratação é ilustrativa do relacionamento cada vez mais amigável do Brasil com a China?


Grande parte da polêmica em torno da contratação de Jabbour inicialmente se concentrou em uma entrevista que ele deu ao Inteligência Ltda, popular podcast brasileiro. “Durante todo o governo Bolsonaro e a última eleição [em 2022], [Jabbour] compartilhou suas opiniões contra o governo participando de muitos podcasts, inclusive alguns muito conservadores”, Rafael Abrão, pesquisador brasileiro do International Institute for Estudos Asiáticos, disse ao The China Project. O ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, do conservador Partido Liberal, que perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva, do esquerdista Partido dos Trabalhadores, foi franco em suas críticas à China, enquanto Lula disse que espera trabalhar de perto com Pequim.


Abrão diz que Jabbour, membro do Partido Comunista do Brasil, tornou-se uma importante voz anti-Bolsonaro.

Na entrevista da Inteligência Ltda de um ano atrás, Jabbour aparentemente justificou o uso da pena capital para os opositores do socialismo. Vários meios de comunicação brasileiros publicaram artigos com manchetes como “assessor de Dilma no banco do BRICS defendeu a pena de morte para aqueles que se opõem ao socialismo”. Os brasileiros de direita também usaram, novidade, esse clipe para pintar Jabbour como um extremista e para criticar Rousseff por contratá-lo.


Os defensores de Jabbour, no entanto, argumentaram que ele não acredita em tal coisa. Eles argumentam que Jabbour estava se referindo ao caso de Cuba, onde, dizem eles, os dissidentes podem ser financiados pelos EUA e representar uma ameaça existencial ao estado.

Jabbour fez comentários menos contestados que receberam menos atenção da mídia. Ele criticou um relatório da ONU sobre o genocídio em Xinjiang, desconsiderando o relatório como resultado das forças ocidentais. Ele já chamou Xinjiang de a maior notícia falsa da história. Ele também criticou o Brasil por ser o único país do BRICS a votar a favor da resolução da ONU pedindo que a Rússia se retire da Ucrânia.

Mas são suas crenças na “desdolarização” e na multipolaridade que são as mais importantes, dado seu papel no banco, e podem estar levantando algumas sobrancelhas entre as autoridades americanas. Em abril, Jabbour escreveu que um movimento para transformar o dólar em uma “arma de destruição em massa” começou com a presidência de Barack Obama. Ele também elogiou a política externa de Lula na medida em que aproxima o Brasil “da China e do Sul Global”. Na visão de Jabbour, o Brasil deve fortalecer sua relação com a China e enfraquecer sua relação com os EUA.


As opiniões de Jabbour sobre essas questões ilustram o que Lula também acredita?

Em cúpula de presidentes sul-americanos que Lula organizou em maio, o presidente brasileiro disse que seria um “sonho” ter uma moeda regional “para podermos fazer negócios sem depender do dólar porque o dólar é dos Estados Unidos e pode fazer o que quiser com ele.” Em abril, durante discurso proferido em Xangai no banco dos BRICS, Lula também disse: “Todas as noites me pergunto por que todos os países têm que basear seu comércio no dólar. Por que não podemos negociar com base em nossas próprias moedas, como a Europa fez?

As declarações de Lula foram bem recebidas por Xí Jìnpíng 习近平, que também está tentando reduzir a dependência da China do dólar e promover o uso do renminbi no comércio exterior e nas trocas econômicas. Além disso, no mês passado, foi relatado que Alexander Babakov, vice-presidente da Duma da Rússia, está liderando esforços para desenvolver uma nova moeda do BRICS. Os planos para essa moeda possivelmente serão anunciados na Cúpula do BRICS na África do Sul em agosto.


Essa ideia de criar uma nova moeda é uma ideia que tem sido vocalizada pelo Brasil e pela China ao longo dos anos”, disse Abrão ao The China Project. “Mas a diferença agora, eu acho, é que a China… se tornou uma superpotência global. Portanto, a China tem muitas maneiras de consolidar uma nova moeda. Mas precisa de aliados para fazer isso.”

E, segundo Abrão, o Brasil é o aliado perfeito da China nessa empreitada; os principais objetivos da política externa de Lula são criar uma nova ordem mundial multipolar e reduzir a dependência brasileira do dólar.

O Brasil e a China vêm forjando laços econômicos cada vez mais robustos nos últimos anos. A China é o maior parceiro comercial do Brasil, enquanto o Brasil detém a mesma distinção de maior parceiro comercial da China na América Latina. Em 2020, as exportações do Brasil para a China representaram US$ 67,8 bilhões, representando 52% do total das exportações dos países da América Latina e Caribe para a China. Apesar de não aderir formalmente à Iniciativa do Cinturão e Rota da China, o Brasil, o maior país do continente, ainda atraiu mais da metade de todos os investimentos chineses na América Latina em 2020, segundo estudo de Luiz Augusto de Castro Neves e Tulio Cariello, da Brazil -Conselho Empresarial da China. Durante o mandato do ex-presidente, o comércio bilateral entre as duas nações experimentou um crescimento substancial, passando de aproximadamente US$ 100 bilhões em 2019 para US$ 135 bilhões em 2021.


À luz da expansão do relacionamento do Brasil com a China, os dois especialistas brasileiros que conversaram com o The China Project disseram que Jabbour era a escolha natural para esta posição. Eles também concordaram que a contratação de Jabbour não pretendia antagonizar os EUA ou outros países ocidentais.


Jabbour é um dos nossos maiores pesquisadores”, disse Kelly Ferreira, professora da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas), ao The China Project. “Sim, ele é de extrema esquerda, mas acho que a racionalidade de escolhê-lo é mais para demonstrar à China que realmente nos importamos… e que queremos estar mais próximos da China, principalmente depois de quatro anos desastrosos do governo Bolsonaro.”

O Brasil não teria contratado alguém que defende pontos de vista anti-China para um cargo em um banco com sede em Xangai. Mas, como aponta Ferreira, sua contratação demonstra à China que o Brasil está disposto a nomear aliados para cargos baseados na China.

E dado o recente embaraço que a China enfrentou depois que o canadense Bob Pickard fez comentários explosivos ao renunciar ao cargo de chefe de comunicações globais do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), a China provavelmente também quer evitar esse tipo de situação novamente. Com Jabbour, a China sabe que Dilma será assessorada por um campeão do PCCh.


A função de Jabbour no banco será assessorar Dilma Rousseff e conduzir pesquisas.

Dilma pode ignorar tudo o que Jabbour [diz a ela]”, disse Ferreira. “Mas devemos entender que haverá alguma influência... O que ela lê influencia o que ela decide, e o que ela lê será produzido por ele.

Rousseff, uma sobrevivente de tortura de extrema direita, estava aparentemente disposta a levantar questões de direitos humanos com a China enquanto era presidente do Brasil. No entanto, hoje em dia não há nenhuma indicação de que ela tenha tais escrúpulos sobre o histórico de direitos humanos de Xi Jinping. Pelo contrário, ela falou com entusiasmo sobre como a China tirou centenas de milhões da pobreza e apresentou Hong Kong como uma chave para o sucesso do Novo Banco de Desenvolvimento.

Apesar das tentativas do Brasil e da China de abandonar sua dependência do dólar, isso pode ser difícil de fazer.


Reportagem do Wall Street Journal no mês passado descobriu fontes anônimas que indicaram que “o banco de desenvolvimento do BRICS está lutando por sua própria sobrevivência, ameaçado por sua própria dependência da moeda dos EUA”. A peça tenta explicar sua a teoria supondo que, desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, Wall Street tem hesitado em emprestar a um banco com 20% de propriedade russa, por isso, isso possivemente levou o banco a assumir dívidas caras. Os repórteres também detalham como as fontes notaram que supostamente “dois terços dos empréstimos do banco” são “dominados pelo dólar” e que muito possivemente as autoridades chinesas estão agora tentando distanciar Xi Jinping do banco.

O Projeto China procurou Xi Jinping,  Dilma Rousseff e o Novo Banco de Desenvolvimento para comentar, mas não obteve resposta. Elias Jabbour não pôde fazer nenhum comentário oficial para este artigo.

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