Ontem, 10 de dezembro de 2025 — data em que se celebra o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos — assistimos também à vexatória aprovação, pela Câmara Federal, da chamada “PEC da Dosimetria”.
Na prática, ela vai muito além de um suposto perdão aos golpistas de 8 de janeiro de 2023: concede uma espécie de autorização vitalícia às tramas golpistas e impede o país de se libertar de um passado sombrio.
Coincidentemente, nesse mesmo dia, estive em uma loja de roupas. Reclamei com o caixa sobre o número reduzido de atendentes: apenas duas pessoas para vários terminais, o que gerava uma longa fila de clientes — entre eles, este cronista.
Mesmo sabendo da inocência do atendente, provoquei: — Vocês, que recebem mais das comissões do que do salário, precisam cobrar da gerência mais pessoas nos caixas. A gente fica quase uma hora para pagar, muitos acabam desistindo.
O atendente, sem hesitar, repetiu o velho discurso que culpa o Bolsa Família. Foi nesse momento que falei sobre a jornada “6/1”, os baixos salários e as condições impostas aos trabalhadores do comércio em geral.
A conversa mudou de patamar. Após um breve silêncio, como se tivesse despertado de um transe, o atendente admitiu que as condições de trabalho eram injustas: vestiários apertados, almoço quase sempre no meio do estoque, intervalos menores que o declarado para não perder comissão.
O Congresso Inimigo do Povo
Escrevo hoje para convencer a mim mesmo de que precisamos rever nossas abordagens diante das pessoas que não apenas votam em propostas conservadoras, mas que também reproduzem discursos que funcionam como fermento das idiotices transformadas em votos para um congresso inimigo do povo.
Esse congresso não surgiu do nada. Primeiro, parte da população passou a odiar as esquerdas. Depois, odiou a política em si. Em seguida, a extrema direita se vendeu como “anti-política”, ou melhor, “anti-sistema” — uma pseudo-verdade que se travestiu de discurso anti-sistêmico.
O chamado “anti-sistemismo” dos filhotes do próprio sistema veio, claro, com as bênçãos dos eternos pastores que se imaginam porta-vozes de um Deus único. Um Deus que, paradoxalmente, contradiz tudo o que se espera de um Deus único. Como nos lembra o freireanismo, a leitura do mundo precede a leitura das palavras: se Deus é único, as pessoas são iguais; se são iguais, são comuns. Mas, na lógica desses pregadores, ser comum significa ser inferior.
Assim, para eles, não há relação entre salários baixos e condições vexatórias de trabalho. A culpa, dizem, é sempre dos partidos de esquerda.

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