Entre Bozos, Bozolóides e Bolzominins: o preço que todos pagamos
Às vezes chego a me divertir, embora contra a vontade. Afinal, quem arcou com os preços fomos nós — todos nós — inclusive os chamados bolzominins. Enquanto os bozolóides e os bozos nadaram em privilégios, os bolzominins, sem compreender plenamente as dimensões da tragédia, perderam parentes e amigos na pandemia sem sequer usufruir dos cargos públicos ou das benesses de funcionários “fantasmas”. Esses, como se sabe, recebem uma pequena parte dos rendimentos declarados, enquanto o grosso alimenta a fantástica fábrica de chocolate e, muito provavelmente, financia a compra de imóveis com dinheiro vivo.
Os bozos agora reclamam das consequências “inevitáveis” de suas aventuras golpistas. Dizem ser vítimas de uma tortura planejada. Mas não seria o caso de perguntar: quem mesmo desfilava por aí com camisetas estampando a imagem de um torturador?
Por enquanto, apenas o bozo-mor vê o sol nascer quadrado. Os demais, “exceto a madama”, parecem não ter assimilado o que significa estar preso. Afinal, como dizia o próprio bozo-mor, não se trata de um spa, mas de um regime de restrição de liberdade — em bom e claro justifiquês.
Sempre que essa turma posta algo nas redes sociais, sinto-me como quem visita um fã de jornalismo policial ou como alguém obrigado a trabalhar às margens do Rio Tietê em pleno verão: o cheiro fétido domina o ar e não há para onde escapar.
Não consigo rir do humor barato. As piadas que eles repetem lembram aquelas do primário, lá nos anos 1960, quando, confesso com peso na consciência, também ri de muitas piadas discriminatórias. Mais de sessenta anos depois, ainda tenho muito a aprender.
Se diante dos bozos e bozolóides sinto como se assistisse a um show de humor de qualidade duvidosa, diante dos bolzominins — inclusive os da família — a sensação é ainda mais desconcertante. Tenho certeza de que sabem aritmética, sabem fazer contas. Então como não percebem que o preço de um quilo de patinho a R$43,00 é menor do que há três anos, quando custava R$50,00?
Mas quando o poder de abstração falha, a dor se torna invisível, mesmo diante de uma evidência matemática incontestável. Minha relação com os bolzominins lembra o reencontro com antigos colegas do primário: muitos convertidos ao protestantismo, mas ainda presos às velhas piadas. Se loiros, fazem piadas de loiras; se negros, de negros; até os portugueses entram na roda. E, ironicamente, muitos nordestinos riem das piadas em que os “cabeças-chata” são o alvo do deboche.
O preço da cegueira política
O mais curioso é perceber como parte dos bolzominins insiste em negar a realidade, mesmo quando ela se apresenta em números simples e incontestáveis. É como se a matemática fosse uma inimiga ideológica. Não importa se o preço da carne caiu, se o arroz estabilizou ou se a inflação recuou: para eles, tudo continua sendo culpa de um inimigo invisível, convenientemente fabricado para justificar a própria cegueira.
Essa recusa em enxergar o óbvio lembra os tempos de escola, quando colegas repetiam piadas preconceituosas sem perceber que estavam rindo de si mesmos. O ciclo se repete: nordestinos rindo de piadas sobre nordestinos, negros rindo de piadas sobre negros, e assim por diante. A lógica é a mesma — rir da própria dor, sem perceber que o riso apenas reforça a humilhação.
Enquanto isso, os bozos e bozolóides seguem tentando reescrever a narrativa. Falam em perseguição, em injustiça, em conspirações. Mas esquecem que foram eles mesmos que aplaudiram torturadores, que celebraram a violência como método político e que transformaram a mentira em estratégia de poder. Agora, diante das consequências, fingem surpresa.
O mais trágico é que, nesse espetáculo grotesco, todos nós pagamos a conta. Pagamos com vidas perdidas na pandemia, com a degradação das instituições, com a corrosão da confiança pública. Pagamos também com o descrédito internacional, que não se recupera com memes ou bravatas. E, claro, pagamos com o bolso — porque a matemática, essa sim, não perdoa.
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