quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

TOMO MMLXIII - AS DOSIMETRIAS DO SISTEMA


Não faço parte da liderança do governo no Congresso. E como poderia? Defender um governo que mal arranha um terço da Casa é como tentar equilibrar-se numa corda bamba… só que essa corda está esticada sobre um labirinto, em plena temporada de tufões. Um espetáculo digno de circo, mas sem palhaços — ou melhor, com palhaços demais.
Chega dezembro e o Congresso abre sua caixa de presentes: pacotes de maldades embrulhados em papel celofane constitucional. O dilema é cruel: deixar passar, vetar depois, ser acusado de crime de responsabilidade, assistir ao veto cair como castelo de cartas e, por fim, empurrar a batata quente para o Supremo, que já está mais queimado que churrasco de domingo. A tal dosimetria? Inconstitucional, claro. Mas o sistema adora fingir que não percebe.
E não é só a matemática torta das penas que revela o peso do sistema. Há também o silêncio imposto ao padre Júlio Lancelot. Silêncio que não vem da fé, mas da conveniência. A cúria, com sua régua burocrática, aplica a aposentadoria compulsória aos 75 anos. Em tese, tudo certo. Na prática, quando o padre é amigo do sistema, a compulsoriedade vira opcional, quase um “se quiser”.
Eis a verdadeira dosimetria: se você é patriota ajoelhado diante do Tio Sam, o Congresso corre para aprovar reduções de pena às vésperas do Natal, mesmo que seja um atentado à Constituição. Mas se você é padre que enfrenta o mercado imobiliário e defende moradores de rua — esses incômodos que depreciam o valor dos apartamentos de luxo — a cúria se junta aos vereadores, inventa CPIs mágicas e tira suspeitas do nada, como coelhos da cartola. E quando a filantropia atrapalha a ganância, a solução é simples: aposentadoria compulsória, o truque preferido do sistema.
O sistema nunca está do lado do povo. Nunca esteve, nunca estará. E nós, pobres espectadores, temos três opções:
Capitalizar: ceder ao sistema e fingir que está tudo bem.
Enfrentar: gritar com ódio irracional, em críticas que não mudam nada.
Aprender: decifrar o manual de instruções do sistema, mesmo sabendo que ele foi escrito para nos enganar.
No clero, o enfrentamento é quase impossível: o dízimo é a senha de acesso ao enriquecimento alheio. No Congresso, resta aprender. Porque, no fim das contas, a direita continua sendo inimiga do povo — e o povo, ironicamente, continua pagando o ingresso para assistir ao espetáculo.

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