Vivemos em um mundo repleto de contradições. Muitas delas estão tão entranhadas em nossa rotina que já não nos causam estranhamento, tampouco nos levam a buscar uma saída.
O brasileiro, ainda no século XXI, parece ávido por seguir como colônia de alguma potência estrangeira. Basta observar o número de bandeiras de outros países — Estados Unidos e Israel — hasteadas em celebrações do dia da pátria.
Essa questão pode ser vista sob uma ótica antropológica, como parte do nosso cotidiano, ou simplesmente como um dado histórico recente.
Recordo-me das notícias da mídia — ou “mérdia”, como já se dizia — muito antes mesmo de eu aprender a ler. Num tempo em que televisão não havia em casa, e sequer luz elétrica, chamávamos a energia de “luz”. As manchetes expostas nas bancas ou narradas por um mesmo jornalista, que imaginávamos ser sempre o repórter Esso, moldavam nossa percepção.
Desde então, o populismo nacionalista era tratado como afronta aos interesses estadunidenses. O golpe foi dado sob inúmeras desculpas: o vice-presidente que foi à China, o presidente que renunciou. Mas pouco se registrou, na memória coletiva, sobre o aumento real do salário mínimo, a aprovação do décimo terceiro salário ou as reformas de base. A “mérdia” entreguista via tais iniciativas como um flerte com o comunismo, algo supostamente danoso aos interesses americanos.
Mais de seis décadas se passaram desde o plebiscito de 7 de janeiro de 1963, que decidiu entre parlamentarismo e presidencialismo. O “centrão” da época, assim como o de hoje, impediu por dois anos que a Constituição fosse plenamente exercida, sempre ávido por interferências externas em nossa pátria.
A questão da soberania permanece a mesma de 1822 ou de 1963: é essencialmente política, mas ditada pelas condições sociais e econômicas.
Nos anos sessenta, a conclusão foi a entrega da soberania. Na política, vivemos uma ditadura de 21 anos. Na economia, abandonamos o modal ferroviário para depender quase exclusivamente do petróleo — na época, em sua maioria importado. O resultado foi o aumento da dependência financeira em relação a outras nações.
Quer que eu dê continuidade a este Tomo como uma série de crônicas numeradas, mantendo esse estilo memorialista e crítico, ou prefere que eu ajuste para um tom mais editorial e analítico, como artigos de opinião voltados a debates contemporâneos sobre soberania?
ERRATA: Ontem, errei novamente a numeração. Era para ser 2049, saiu 2044.
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