Confesso: até pouco tempo atrás eu era um completo ignorante sobre quem era o tal do Mirosmar. E, acredite, éramos felizes nessa ignorância. Mesmo obrigados a consumir suas idiotices, ainda havia certo alívio em não saber. Mas essa felicidade se desfez no domingo, 14 de dezembro de 2025.
A amplitude quase inexistente do QI do personagem não surpreende dentro do universo bolsonarista. Essa ausência de inteligência costuma vir acompanhada de uma hipocrisia religiosa ímpar, que por sua vez alimenta uma ganância financeira sem limites. A crença cega de que ganhos monetários são fruto da vontade divina legitima a bênção de pastores picaretas, comprada com dízimos. E, assim, o absurdo se torna normal.
Infelizmente, a junção desses três elementos — ignorância, hipocrisia e ganância — não arrasta apenas indivíduos, mas sociedades inteiras para um poço sem fundo.
As fortunas de Mirosmar e de tantos outros “artistas” semelhantes são construídas a partir de verbas públicas. Muitas vezes via Lei Rouanet, instrumento que eles mesmos atacam. A lei exige projetos estruturados, captação junto ao empresariado e, sobretudo, prestação de contas. Mas esse rigor não agrada à turma que, além do péssimo gosto artístico, prefere uma sociedade estamentada, onde a liberdade de explorar vale mais do que a garantia de vida.
Por isso, artistas como Mirosmar abandonam o rito da Rouanet e recorrem às emendas parlamentares. Justificativas frouxas, pouca transparência e muitas brechas para corrupção.
Seria apenas estranho, se não fosse trágico, que ministros do Supremo estejam investigando justamente o caminho dessas emendas — inclusive aquelas que financiam shows de artistas que fazem campanha contra a própria Lei Rouanet. Flávio Dino, hoje o segundo ministro com mais pedidos de impeachment, e Alexandre de Moraes, o primeiro, não enfrentam questionamentos jurídicos fundamentados em seus votos. Todos os pedidos contra eles nascem do fato de enfrentarem as hipocrisias “tipo Mirosmar”.
Mirosmar é apenas um exemplo. Eu, pessoalmente, torço para que as investigações avancem e revelem também os escândalos de enriquecimento de pastores evangélicos via dízimos. Porque, no fim, o problema não é apenas um artista ou um pastor: é a engrenagem que transforma fé em negócio e política em espetáculo.

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