As embaixadas finlandesas na China, Japão e Coreia do Sul divulgaram o pedido de desculpas do primeiro-ministro finlandês pelo escândalo de racismo
O primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, emitiu um pedido formal de desculpas na quarta-feira devido a um escândalo de racismo envolvendo a Miss Finlândia e, posteriormente, alguns membros do parlamento. "Expresso minhas sinceras desculpas pelas declarações ofensivas feitas recentemente por alguns membros do parlamento nas redes sociais", disse Orpo em um comunicado em chinês publicado na conta do Weibo da Embaixada da Finlândia na China, afirmando que os comentários contrariam os valores finlandeses de igualdade e inclusão.
De acordo com a emissora pública finlandesa Yleisradio Oy (Yle), o pedido de desculpas de Orpo foi publicado nos canais de mídia social das embaixadas finlandesas na China, no Japão e na Coreia do Sul, com algumas variações na redação.

A Embaixada da Finlândia na China publicou em 17 de dezembro de 2025, no Weibo, uma declaração do primeiro-ministro finlandês, Petteri Orpo, na qual ele se desculpava por um escândalo de racismo envolvendo a Miss Finlândia e, posteriormente, alguns membros do parlamento. Foto: Embaixada da Finlândia na China.
Na declaração, Orpo enfatizou que o racismo e a discriminação não têm lugar na sociedade finlandesa, afirmando que o governo finlandês leva o racismo a sério e está empenhado em resolver o problema. Ele acrescentou que os líderes dos grupos parlamentares dos partidos governistas discutiram o comportamento dos parlamentares envolvidos e condenaram conjuntamente as ações insultuosas e inapropriadas.
O mais recente pedido de desculpas ocorreu em meio a um escândalo de racismo crescente que eclodiu após a destituição da Miss Finlândia e posteriormente se expandiu para envolver vários membros do parlamento, desencadeando reações negativas nacionais e internacionais e, segundo relatos, afetando a companhia aérea finlandesa Finnair.
Orpo havia declarado na terça-feira que o escândalo de racismo que levou à destituição da Miss Finlândia e à publicação de imagens depreciativas por vários políticos estava "prejudicando a imagem do país", informou a AFP na quarta-feira.
"Ontem, durante um debate no parlamento, eu disse que isso causou danos ao nosso país. Certamente é o caso", disse Orpo a repórteres na terça-feira, à margem de uma cúpula que reunia líderes de países europeus. "Pessoalmente, não aceito o racismo em nenhuma forma", afirmou, de acordo com a reportagem da AFP.
A Miss Finlândia pediu desculpas à China e à comunidade asiática em 11 de dezembro. Ela perdeu o título três meses após conquistá-lo, em decorrência de críticas por uma publicação
em suas redes sociais, no final de novembro, que continha conotações racistas. Na foto, Dzafce aparece fazendo um gesto com os dedos puxando os olhos, um gesto amplamente interpretado como uma zombaria de traços asiáticos. A legenda da foto dizia: "kiinalaisenkaa syömäs", que se traduz como "jantando com uma chinesa", segundo reportagens do news.com.au.
De acordo com vídeos divulgados pela agência de notícias Xinhua International Headlines, Dzafce disse "Desculpe, China" (duibuqi zhongguo) em chinês e "Sinto muito" em inglês.

A ex-Miss Finlândia Sarah Dzafce pede desculpas à China em 11 de dezembro de 2025 por seu gesto racista. Foto: captura de tela do Xinhua International Headlines.
Após o escândalo do gesto, dois deputados, Kaisa Garedew e Juho Eerola, e o deputado federal Sebastian Tynkkynen, do Partido dos Finlandeses (um dos partidos da coligação governamental da Finlândia), de direita, publicaram posteriormente imagens nas redes sociais fazendo o mesmo gesto, alegando apoio a Dzafce e criticando a organização por lhe ter retirado o título, segundo relatos da imprensa. Eerola pediu desculpas posteriormente pela publicação da imagem, de acordo com a AFP.

O deputado Juho Eerola, do Partido Finlandês, publicou uma foto sua nas redes sociais fazendo o mesmo gesto de "olhos puxados" que a Miss Finlândia. Eerola posteriormente pediu desculpas pela publicação. Foto da página de Eerola no Facebook.
Na terça-feira, os presidentes dos grupos parlamentares do governo finlandês condenaram conjuntamente as publicações feitas por seus colegas.
"Isso não deveria ter acontecido. Nem agora, nem no futuro", disse Jukka Kopra, presidente do grupo parlamentar do Partido da Coligação Nacional, a repórteres, segundo a AFP, classificando as publicações como "derrogatórias", "inapropriadas" e prejudiciais à reputação da Finlândia.
Ainda não se sabe se os parlamentares sofrerão sanções por seu comportamento, já que a decisão sobre isso será tomada pelo grupo parlamentar do Partido dos Finlandeses apenas no final desta semana, informou a reportagem.
Orpo disse confiar que o grupo parlamentar "lidará com o assunto com a devida seriedade".
Cui Hongjian, professor da Academia de Governança Regional e Global da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, disse ao Global Times na quarta-feira que o incidente reflete a persistência do preconceito racial enraizado em fatores históricos e culturais entre um pequeno número de europeus, que pode ressurgir sob certas condições.
Cui observou que a questão, se mal administrada pelo governo finlandês, não só prejudicaria a imagem nacional da Finlândia, como também minaria seriamente as relações do país com a China e a comunidade asiática em geral, particularmente os intercâmbios interpessoais e culturais, além de exacerbar as tensões sociais internas.
"Cientes da gravidade da situação, os principais setores políticos da Finlândia tomaram medidas", afirmou o especialista. "Enquanto isso, de forma mais ampla, outros países europeus precisam permanecer vigilantes e manter distância de tendências negativas como essas, moldadas por preconceitos históricos e culturais."
Segundo a BBC News, na quarta-feira, as publicações relacionadas também geraram reações negativas em outros países, incluindo Japão, Coreia do Sul e até mesmo contra a companhia aérea finlandesa Finnair.
A Finnair informou à emissora pública Yle que a controvérsia afetou a empresa e que houve apelos para que turistas boicotassem a Finlândia, de acordo com a reportagem da BBC.
"As declarações ou publicações mencionadas por alguns membros do parlamento finlandês não representam os valores da Finnair", escreveu a companhia aérea em sua conta no Google+ na terça-feira. "Como uma companhia aérea apoiada por funcionários de diversas origens e clientes em todo o mundo, prometemos receber a todos com respeito", escreveu, segundo reportagem da BBC.
A Finlândia também deve aproveitar este incidente como uma oportunidade para promover a reflexão social, ajudando o público a reconhecer as consequências reais que a discriminação racial e o pensamento xenófobo trouxeram para o país, e para fomentar um consenso social mais claro e bem definido, disse Cui.

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