terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Argentina registrou em 2024 o maior nível de repressão aos cidadãos em 41 anos

Mais de uma centena de organizações que compõem a Rede Federal de Defesa dos Direitos Humanos e da Democracia alertaram que este ano foi registrado o maior número de eventos repressivos na Argentina desde a restauração da democracia em 1983.

“Hoje atravessamos, de longe, a situação repressiva mais tensa e intensa desde 1983”, alerta o relatório depois de destacar “um ano de luta contra a destruição planeada dos direitos humanos e da democracia”.

Nas conclusões, o estudo sustenta que durante as operações desenvolvidas pelas Forças de Segurança, 1.146 pessoas ficaram feridas ao longo deste ano, pelo que ocorreram três feridos por dia.

Toda a política de transferência de rendimentos daqueles que têm menos para os setores mais concentrados da economia, incluindo o capital estrangeiro, tem sido apoiada por uma política repressiva que tem variado desde a repressão direta nas ruas”, disse à agência Sputnik. o secretário-geral do Poder Autônomo da Central Operária Argentina (CTA-A), Hugo “Cachorro” Godoy.
O dirigente deste sindicato alertou que o número de feridos se multiplicou em todo o país e que neste cenário houve “uma estratégia concertada de justiça para processar diferentes atores sociais, políticos e sindicais” que se opuseram ao governo do presidente.

Das 41 ações repressivas detectadas no ano passado, 21 ocorreram na capital argentina e outras cinco na província de Buenos Aires (leste).

O relatório também apurou "um total de 430 mortes" devido à violência institucional, entre as quais 302 são mortes sob custódia, em prisões, esquadras ou guardas, e 108 mortes devido a tiroteios, segundo a Coordenadoria Contra a Repressão Policial e Institucional (Correpi).

Além disso, foram registradas 14 mortes intraforça ou intrafamiliar, sendo quatro feminicídios, outro feminicídio vinculado e seis corresponderam a outras modalidades (uso de viatura como arma ou asfixia no momento da prisão).
O relatório, no qual trabalharam organizações como a Assembleia Permanente dos Direitos Humanos (APDH), a Comissão de Defesa da Ética, da Saúde e dos Direitos Humanos e a Associação dos Advogados Laborais, referia também 171 processos-crime contra manifestantes ou referências.

Criou-se uma multiplicidade de causas promovidas pela capacidade do governo de governar por decreto”, disse Godoy.

O representante do ramo autónomo da CTA lembrou que o decreto de necessidade e urgência (DNU) 70 de Milei em vigor desde 29 de dezembro declarou situação de emergência em diversas áreas.

Enquanto isso, “a Câmara dos Deputados não concorda em tratá-lo como rejeição e tirar essa soma de poder público em que se constituiu o governo de Milei”, questionou Godoy.



Prisões e ataques

No primeiro ano do Governo Milei, foram detidas 161 pessoas, o que dá uma média de uma prisão a cada dois dias, segundo o relatório da Rede Federal de Defesa dos Direitos Humanos.

O estudo, que aborda as medidas implementadas em matéria económica, repressiva, laboral, social e de género, reflecte que pelo menos 77 organizações sociais foram invadidas com violência.

Com estas ferramentas, o Executivo “tem arbitrado desde protocolos repressivos anticonstitucionais até iniciativas de viabilização de processos contra combatentes populares, articulados numa estratégia de instauração do medo e de militarização das ruas”, distinguiu o secretário-geral da CTA-A.

Na semana passada, a atual administração publicou um decreto que permite a participação das Forças Armadas em questões de segurança interna, como operações antiterroristas ou tráfico de drogas, lembrou Godoy.

“São vários decretos que tentam estabelecer o medo, desmobilizar e processar os combatentes e líderes populares e, diante desta situação, a partir da Cta Autônoma vamos continuar lutando contra essas estratégias para que o povo se recupere e consolide sua capacidade de mobilização”, assegurou o secretário-geral da CTA-Autónoma.

Nos últimos doze meses, a Rede fez apresentações perante o Congresso e o Supremo Tribunal, bem como perante organizações internacionais como o Alto Comissariado para os Direitos Humanos e outros relatores especiais da ONU.

Nas suas declarações, as organizações que compõem esta organização denunciaram o impacto nos direitos civis e políticos, económicos, sociais, culturais e ambientais que, na sua opinião, levaram ao colapso das instituições e do Estado de direito na Argentina.

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