Uma vez, no segundo ano do curso primário, levei uma surra, não só por ter ficado de castigo, mas a surra e o castigo foram "por um branco" na hora de responder uma questão oral. Lembremos, eu sempre fui o número um nas chamadas por ordem alfabética: Adão, o quê estaremos comemorando amanhã?
Perguntou a d. Nilse, naquilo que toda a sala esperava ser apenas a costumeira chamada. Se a situação das escolas, onde a disciplina era, até feroz, mas, verdadeiramente, a d. Nilse, tinha passado diversas aulas falando do treze de maio, era uma sexta-feira, doze de maio. Minha resposta foi, por mero lapso de memória mesmo, afinal, não tinha nenhuma criticidade ao significado da palavra "catimbó". Ou catimbeiro, como eram tratados uma família de negros que habitavam a hoje rua Tabatinga, uns trezentos metros mais próxima da rua Parapuã, onde ficava até então o ponto do ônibus, para o qual, "lata de sardinha", era motivos de inveja.
Apesar dos quatro dias seguidos falando do tema, o aluno que nunca escrevia nenhuma informação que respondia, quase literalmente as aulas "dadas" simplesmente esqueceu.
Esta, não foi minha primeira briga com a d. Nilse, assim como a segunda, que só lembro quando a questão reaparece, não teve nenhum peso na construção de minha militância política de esquerda, depois desta briga, depois deste zero, segundo zero, foi por "comportamento" na semana seguinte, depois deste "12/05/61", passei a silenciar durante as "rezas do pai nosso" mas aqui, pelo abrir da boca, ela só percebeu, no ano seguinte, quando já não era a professora da turma. Havia lá nos anos sessenta, o hábito desta reza nas aulas, minhas revoltas, era por discordar das posturas de uma igreja que nem mesmo na década de sessenta, tinha postura crítica quanto a escravização.
A presente crônica, talvez tivesse por objetivo, algo, hoje já pacificado, a lei áurea, é um grande primeiro de Abril, mas, não, registro, algo, que hoje é comum, os lapsos de memória, registro minha indignação mesmo, é com olhar colonialista que a educação sempre teve, pois, na nossa humilde ótica, esta educação colonialista, teve muita influência para que os "pobres de direita" apóiem um político, que como despresidente, faça reverências à bandeira de uma outra nação.
Os cultos às outras banheiras, sempre nos foi ensinada como natural, o culto "ao invador bonzinho", que domou os indomáveis "índios", ou que fez trabalhar os "preguiçosos", negros, com isto criaram uma nação pronta para ser "quintal" do império do mal, isto, é claro, como retribuição ao direito de existir.
Muitas poucas vezes, parei para compreender aquele meu lapso de memória daquele dia "12/05/61", ainda que o dia treze de maio, muito menos as referências a uma lei áurea promulgada por uma princesa Isabel, seja hoje em dia tema de projetos educacionais, claro, a criança de oito anos, que apanhou, não tinha alegria alguma das marcas do fio-de-ferro, mas minha mente, ainda se orgulha de tal esquecimento.

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