REGISTRO DE UMA MEMÓRIA, QUIÇÁ, INEXISTENTE
Meu trabalho era interno,
Logo, não lembro do clima,
Ops, não, mergulhado na militância,
Num longínquo Estado do Pará,
Longe mesmo era de informação.
Dias depois, de volta a Belém,
Num jornal de dias, jogado no quintal vizinho.
Não tive dúvidas, apesar de querer ser invisível,
Ser invisível, era obrigação da militância,
Pulei o muro, para folhear o jornal,
Dez dias, era o tempo, único dos dez jornais,
Curiosamente abrigado das diárias chuvas,
Chuvas, que diariamente caem em Belém do Pará.
Passei horas sentado, invadindo o quintal vizinho,
Por sorte, o vizinho, também militante,
Reapareceu dias depois,
A sorte, é, o que vizinho sumido,
Assim, como eu, também queria a invisibilidade.
Quando, mais dez dias depois, ele voltou,
Cabisbaixo, pela mesma manchete do jornal,
Sumido, no entanto, pelo mesmo "pavor",
Necessidade de segurança,
Que me reteve por mais dez "invisível",
Naqueles dias na Belém do Pará.
A notícia, em garrafais letras,
"Terrorista morto em tiroteio com forças policiais".
A notícia deveria ser:
"HERÓI NACIONAL, MORTO POR USURPADORES DO PODER".
Certamente, não sou redator do jornal,
Certamente, minha militância,
Acharia melhor, que a militância soubesse,
Mataram Carlos Mariguella,
Mesmo que para isto,
Eu tinha que conviver,
Com a inaceitável censura,
Ainda ardam uma saudade de 45 anos,
O herói Mariguella, continua um herói.
Anesino Sandice
MARGENS DO MEU SER
É, óbvio, minha pele,
Assim, como a ciliar mata,
Ops, esta, já quase inexistente,
Estão às margens, ou os pontos,
Que separam, as águas dos Rios,
Das terras que as rodeiam,
Já, minha pele, assim como a ciliar mata,
Separa, além das águas,
As necessárias defesa da pureza,
As matas defendem as águas,
Minha pele, o corpo.
Assim, como as ciliares matas,
São fundamentais para a pureza das águas,
O espaço a elas, as margens, também,
Devem ser compreendidas,
Como parte integrante dos rios,
Minha pele, ou qualquer pele de qualquer ser,
(Como os ares), que cercam o corpo,
São dádivas.
A defesa do ar que me cerca,
É tão crucial como a defesa das margens.
Ja, na sociedade, vivo assim, como a maioria,
Às margens da sociedade dos lucros,
(Dos luxos, das luxúrias).
Resta à minha pele exalar as loucuras dos questionamentos.
Questiono, não a existência das margens,
Mas, o insalubre hábito,
De darem as margens dos Rios,
Aos sabores do lucro,
Lucros, estes, que constroem, luxos e luxúrias.
Neste dar as margens, a exploração,
Permitem, ainda, a negação a minha pele.
Neste capetalista sistema,
Minha pele, é proibida de pensar,
Uma sociedade que defenda os direitos das margens
Anesino Sandice
PINELAGEM
Tem gente ficando Pinel,
Está parecendo uma "pinelagem'
"Substantivo derivado de Philippe Pinel"
Médico psiquiatra, médico dos loucos.
Instituto Pinel, hospital psiquiátrico,
Região de Pirituba, Sampa,
Quando queríamos chamar alguém de louco,
Dizíamos, "tu tá ficando Pinel".
Mas, tem muita gente, parecendo pinel,
Tem muita gente querendo o mundo pinel,
Tem muita gente, que está realmente pinel,
Imaginem um balde de parlamentares,
Auto-entitulados "patriotários",
Querendo convencer os racionais,
Ops, quem tem capacidade mínima de raciocínio,
Que o bozo yanque, pode interferir, kkkk,
Que o bozo de lá, tem poder de interferir,
No judiciário de cá.
Ops, deve lembrar, patriotários,
Os patriotários, estão muito longe de ser patriotas,
Ops, deve relembrar, patriotas,
Não beijam, de joelho,
Uma bandeira estrangeira,
Ops, devo lembrar,
Quem é patriota,
Quando descontente,
Com os governos de plantão,
Organizam e disputam eleições.
Quando perdem, cumprimentam os vencedores,
Quando perdem, são patriotas.
As pinelagens, é desculpa para gente sem caráter.
Anesino Sandice
A MORTE DE UM VIVO, VIVO
Sou, como uma palavra,
Vivo, enquanto dita,
Deveria, portanto morrer,
Num sepulcral silêncio,
Mas, se este sepulcral silêncio,
For complentativo,
Ou, uma pausa para reflexão,
Vivo, também durante o silêncio.
Sou como uma pulsante palavra,
Que para viver, não basta ganhar o ar,
Como toda e qualquer palavra,
Para estar vivo, preciso da liberdade,
Não só da liberdade de quem fala,
A palavra para estar viva,
Lembremos, o estar vivo,
É uma condição temporal,
De quem de fato vive.
Se para uma palavra,
O pão, a água e o ar,
São as liberdades do ambiente,
Para o ser humano que fala, ou que ouve,
A mesma liberdade é fundamental.
O ser humano que ouve,
Um dia poderá, também, ser ponto de irradiação.
O ser humano, quando fala,
Irradia, primeiro, os saberes aprendidos,
Um dia, quem sabe,
Os saberes apreendidos,
Noutro dia, quem sabe?
Saberes frutos de auto-construção.
Para que o ser humano,
Irradie saberes, ele precisa de alguns pãoes,
Entre estes, o pão da liberdade,
Mas, de uma liberdade,
"Aquela vendida pela direita",
Que é a liberdade de não existir.
O pão, o ar e água, da liberdade,
Passa, pelo pão,
Pão que só nasce do chão,
Chão, que limitado pela cerca,
Limita a liberdade do pensar.
Anesino Sandice
DISTORCIDAS OPINIÕES REFLEXIVAS
Talvez, um mero sofisma,
Mas, há quando,
O pau que bate no Chico,
Jamais baterá no Francisco.
Quem não estuda,
"Mas, finge ser doutor",
Acaba por se operar, sem anestesia,
Assim, é o pobre de direita,
Tira de si, o que nunca teve,
Também aquilo que jamais terá,
Para aumentar as tetas que amamentam,
"Quem toma banho de leite.
Como desculpas, se desculpam,
Que as águas, sempre correm para o mar.
Mas, só se esquecem de lembrar,
Que na natureza, onde, as águas,
Sempre findam nos mares,
Mas, findam no mar,
Depois de findar o círculo.
Lá do mar a água evapora,
Como também, evapora de todos os cantos,
Viram chuvas que irrigam os vales,
De onde saem o pão.
Ou seja, as águas chegarem ao mar,
É parte da renovação,
Já o dinheiro que chega ao banco,
Revela só a exploração.
Esta exploração só acontece,
Com a total cumplicidade,
Dos tais pobres de direita,
Que sempre elegem o patrão,
Anesino Sandice
Nenhum comentário:
Postar um comentário