Foi na bucólica Nhandeara dos meados dos anos setenta, em comício de eleição parlamentar, que saí da organização deste e entrei no boteco em frente a igreja, onde encontrei o seu Antônio. O corpo do violão, apoiado nas pernas, o rosto, apoiado no corpo do mesmo violão. Pergunto:
O senhor não vai participar do comício? Ele responde; não gosto desta coisa de política. Foi aqui que entrou o discurso pré-fabricado do militante político: Mas tudo na vida é política!
Ele encosta o rosto no braço do violão e me responde perguntando: "intão tu tá me dizendo, que aquele crime bárbaro, que deu no rádio, também foi política?
Até este instante, nunca tínhamos pensado na questão da violência, isto era apenas retratado pelos programas policialescos de rádio. Até a campanha eleitoral de 78, sempre destilávamos nosso ódio às figuras dos torturadores, nunca os tínhamos relacionado a uma política de estado.
Obviamente, o zero, que ainda compreendemos de psiquiatra forense, vai sempre buscar na antropologia argumentos para explicar as constantes violências sociais. Voltando um pouco à fala do seu Antônio, a expressão "crime bárbaro" se divide entre barbárie, raiz pré-orgazicional da humanidade, o ser bárbaro, no conceito romano, daquele que não fala nossa língua. Aqui nos debruçamos sobre ser político o crime, mas precisamente, os crimes cometidos por agentes do estado, em defesa de um estado de exceção.
Faço parte de uma geração que enfrentou a ditadura, "em diversas escalas", lembro, era um estado de exceção, só fomos à luta, não importa a escala, porque o estado agredia a integridade das pessoas e das organizações. Defendo, é claro, uma anistia ampla, geral e irrestrita, para quem coloca em risco sua segurança para combater um estado violento, mas nos causa urticária, anistiar agentes do Estado, que na defesa do direito de transgredir, cometa violências ainda mais bárbaras, que os bárbaros crimes relatados por programas policialescos de rádio, como o indagado pelo seu Antônio.
Muitos daqueles torturadores alegam em sua defesa, a tese, do cumprimento de ordem, "não se põe uma cobra na cela de uma mulher grávida, por obediência devida", para isto é necessária uma alta dose de perversidade. Além, deste absurdo, houve diversas mortes, inclusive, com destruição do cadáver, além, é claro, da criminalização da história e da honra das vítimas. Isto não pode ter o benefício do apagamento criminal, isto não pode ser angustiado.
Chegamos, infelizmente, aos trágicos anos do golpe de 16, e a consequente eleição do inominável e a micareta golpista, travestida de 'imploração" por uma anistia por seus crimes contra o Estado de direto.
Primeiro, a solicitação da anistia, é a confissão do crime, assim que nenhum patriotário, venha a alegar inocência depois de ontem. Depois, que não há crime culposo, para a anulação de um Estado de direito, é crime premeditado, é crime doloso, quem esteve em Brasília, no dia 08/01/23, são no mínimo por manipulação de uma mídia golpista, ou por ações premeditadas de lideranças religiosas, autores de uma tentativa de golpe, são, portanto, passíveis de imputação destes mesmos crimes, que devem ser imputadas com os agravantes de manipulação aos mandantes.
Ninguém viaja mais de mil quilômetros para fazer um turismo de quebradeira apenas por manipulação, há uma boa dose de predisposição.
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