É abismal observar a contradição: aquele que expôs uma adolescente trans por simplesmente ser trans, sem qualquer respeito à sua individualidade, agora se coloca como vítima de invasão de privacidade, justamente quando está proibido de utilizar redes sociais. A incoerência é gritante, pois quem nunca respeitou ninguém exige respeito para si.
Confesso ser leigo no tema da violação de tornozeleira eletrônica. Mas, como um setentão convicto, dono de uma proeminência abdominal que dificulta até cortar as próprias unhas do pé, consigo imaginar o quão complicado deve ser traçar uma linha perfeita em torno de um objeto preso ao tornozelo. Não é tarefa simples.
O que me intriga é a narrativa de que o “bozo” teria sofrido um surto psicótico em meio a dois episódios aparentemente desconexos: a visita de um conhecido por expor uma menina trans até mesmo em um banheiro — espaço onde a privacidade deveria ser inviolável — e a convocação de uma vigília religiosa pelo filho 01, que, até onde me lembro, jamais havia demonstrado fervor religioso em público. Essa coincidência, somada ao fato de que nenhum dos medicamentos supostamente utilizados poderia provocar um surto psicótico, levanta sérias dúvidas. O vídeo da perita que inspecionou a tornozeleira tampouco mostra qualquer sinal de alteração mental.
A rapidez com que os “bozos” se apressaram em contestar tanto o vídeo quanto o laudo também desperta curiosidade.
Retomando minha metáfora da protuberância abdominal e da dificuldade em pontilhar a tornozeleira, fica evidente que a tentativa de violação não poderia ter sido obra de uma única pessoa. Suspeito que tenha havido a participação de alguém próximo, talvez um dos quatro irmãos do “bozo”, que, junto com o tal “chupetinha”, estavam presentes na mansão naquele dia.

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