Escândalo aumenta com vazamento de entrevista manipulada

O escândalo que eclodiu na Argentina na sexta-feira passada, quando o presidente Javier Milei promoveu uma criptomoeda que acabou se revelando um golpe multimilionário, cresce a cada hora: a entrevista que ele deu à emissora de televisão TN, parte do grupo de mídia Clarín, foi transmitida editada, mas devido a um erro começou a circular na íntegra, revelando assim a parte censurada onde apareceu uma resposta que pode complicar a situação do presidente.

Quando o jornalista Jonatan Viale perguntou como ele iria se defender no tribunal por ter promovido a $Libre no X, Milei afirmou que se expressou em sua conta pessoal como cidadão.


Outro erro grave de Milei foi dizer que todas as questões judiciais estavam nas mãos do Ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona, que não tem nada a ver com isso.


O entrevistador lembrou que ele era o presidente em todos os momentos, e então interveio seu assessor Santiago Caputo, que pediu para interromper a gravação, aproximou-se do presidente e disse algo inaudível ao seu ouvido. “É claro que isso pode levar a uma confusão jurídica”, diz o jornalista.


O jornalista então perguntou a Caputo por onde ele deveria começar novamente. O vídeo completo foi transmitido em todos os meios de comunicação e foi revelado que houve censura antes da entrevista.


Conforme as horas passam, mais pessoas se envolvem. Foi revelado que a conspiração já estava em andamento nos dias 15 e 30 de janeiro, e agora Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da presidência, viu tudo em todas as suas dimensões.

O homem-chave na instalação da Libra está se vingando e afirmou que subornou Karina Milei para ter acesso ao presidente. Hayden Davis disse: “Para ser honesto, estamos tentando tirar o máximo proveito dessa situação. É tudo uma loucura, eu mando dinheiro para a irmã dele (Milei) e ele assina o que eu digo e faz o que eu quero."

O jornal La Nación revelou que fazia parte do complô. Karina Milei aparece no triângulo formado pelos empresários Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy.

Novelli é amigo de longa data do presidente, compareceu a todas as reuniões com Davis e até contratou Milei para dar cursos, incluindo um sobre criptomoedas.

Todos estão esperando para ver o que pode sair das investigações dos advogados nos Estados Unidos que supostamente representam mais de 40 vítimas do golpe e que também apresentaram o caso ao Fundo Monetário Internacional.

O jornal Perfil noticiou que Diógenes Cáceres, um empresário de criptomoedas, disse ter pago cinco milhões de dólares a alguém muito próximo do governo para promoções.

Enquanto isso, Davis disse a um programa de rádio que deu a Milei 48 horas, que já se passaram, para dizer a ele o que fazer com os cem milhões de dólares arrecadados no golpe, supostamente para entregá-los.

Há muito mais pessoas envolvidas e empresas que compõem uma espécie de mundo obscuro onde opera um enorme aparato oculto de corrupção. Novelli começou a se distanciar de todo o escândalo. "Em razão do impacto que o lançamento do $Libra teve na opinião pública nas últimas horas, queremos esclarecer que o Tech Forum é uma empresa criada por Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy cujos objetivos são a consultoria sobre criptoativos e a realização de eventos temáticos para empresas de tecnologia", afirmou em comunicado.

A ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner questionou a entrevista e a intervenção para impedi-la e, dirigindo-se a Milei, ela o chamou de “golpista de criptomoedas e também um golpista com entrevistas” . 

Ela disse que a intervenção de Milei na entrevista foi patética e descreveu as ações do jornalista como "vergonhosas". Ela se referiu aos argumentos do presidente para justificar a promoção da criptomoeda: "O que nos resta? Seu posto de X não era para ajudar as PMEs argentinas? Ou era, na verdade, para atrair especuladores que apostariam no cassino montado por você, sua irmã e seus sócios."

Sobre Davis, ela disse em X: "Como ele pôde anunciar que você daria uma entrevista? Você o ouviu quando ele disse que isso não é problema meu; o problema de Milei e sua equipe é o dinheiro deles e o dinheiro da Argentina? Você também não o ouviu quando ele lhe deu 48 horas para apresentar a ele um plano de ação para ver o que fazer com o dinheiro?"

O governador da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, chamou o presidente de mentiroso, não só neste assunto, mas também nos números que ele apresenta e na maneira como fala sobre a Argentina. Ele acusou o presidente de ser um "promotor" desse esquema que enganou milhares de investidores, considerando que esse fato nada mais é do que "uma metáfora do que está acontecendo em nível nacional".

“Eles lavam as mãos, fogem e culpam os outros (…) Já tivemos um golpe econômico e este (o escândalo da Libra) é outro golpe.”