Em seus primeiros dias, a assistência internacional americana se dedicava a apoiar os aliados de Washington na luta contra o comunismo . De acordo com um resumo do Escritório do Historiador do Departamento de Estado, uma das primeiras tarefas atribuídas ao que foi chamado de Agência para o Desenvolvimento Internacional (AID) foi se juntar a um grupo especial (contrainsurgência) que incluía a CIA, o Pentágono e o Departamento de Estado. O grupo se dedicava a defender o governo sul-vietnamita e a AID era encarregada de coordenar programas de assistência econômica com programas de ação civil-militar.
Aparentemente a agência estava fazendo bem o seu trabalho. Em 1962, o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Robert Komer, escreveu que a AID era mais valiosa do que as Forças Especiais em nossos esforços globais de contrainsurgência . O papel da agência expandiu-se rapidamente para além do Sudeste Asiático e, no final da década de 1960, a AID financiava programas de treinamento policial de contrainsurgência em todo o mundo.
Quando Dan Mitrione, chefe do Escritório de Segurança Pública da AID no Uruguai, foi sequestrado e assassinado na década de 1970, começaram a surgir informações sobre o ex-chefe de polícia de Richmond, Indiana, e seu papel no Uruguai no treinamento da polícia daquele país em novas técnicas para torturar e matar guerrilheiros Tupamaro. Uma citação atribuída a Mitrione é que seu objetivo era produzir dor precisa, no local preciso, na quantidade precisa, para o efeito desejado . O personagem Mitrione seria retratado no filme Estado de Sítio, de Costa-Gavras, em 1972. Em 1973, o Congresso dos Estados Unidos ordenou o fechamento da unidade de Segurança Pública da AID.
Mas muitas das funções de treinamento policial não foram descontinuadas, mas simplesmente transferidas para o Departamento de Estado e outras agências dos EUA, algo que ficou evidente durante os conflitos na América Central na década de 1980. Até agora, a USAID foi percebida em Washington apenas como uma ferramenta da política externa dos EUA, mas a maior parte de seu financiamento foi transferida para programas humanitários. Mas mesmo nesta área mais benigna , vários problemas são relatados.
Em 2018, o inspetor-geral dos EUA para a reconstrução do Afeganistão relatou que o apoio da USAID aos agricultores daquele país havia inadvertidamente apoiado a produção de papoula . Em outro caso, a agência concedeu mais de US$ 30 milhões a uma instituição de caridade no Quênia que sabia ou deveria saber de vários incidentes de abuso sexual infantil, sem tomar nenhuma providência. O financiamento de ambos os programas acabou sendo suspenso. O Gabinete do Inspetor Geral da USAID alertou esta semana que o congelamento de fundos tornará mais difícil detectar casos de fraude ou uso indevido de fundos. Ele foi demitido no dia seguinte pelo governo Trump.
Uma das maiores e mais antigas iniciativas da USAID é aquela focada em Cuba. A USAID fornece assistência humanitária contínua a presos políticos e suas famílias, e a indivíduos marginalizados para aliviar dificuldades devido às suas convicções políticas ou esforços para exercer liberdades fundamentais , escreveu a agência em 2014. Mas há evidências de que eles fazem mais do que isso. Em 2009, o governo cubano prendeu o contratado da USAID Alan Gross, que tentava entrar na ilha com um cartão SIM, necessário para ativar um serviço de comunicação via satélite, supostamente para a comunidade judaica em Cuba.
O tipo de cartão SIM usado por Gross não está disponível no mercado aberto e é distribuído apenas para governos , informou a agência de notícias Associated Press na época. Um especialista em sistemas de telefonia via satélite e um ex-oficial de inteligência que usou esses chips disse à AP que os chips são geralmente emitidos para o Departamento de Defesa e a CIA, mas também podem ser obtidos pelo Departamento de Estado, que supervisiona a USAID . Um porta-voz da agência disse à AP que a USAID não teve nenhum papel na aquisição desse equipamento para seu contratante Gross. Somos uma agência de desenvolvimento, não uma agência de inteligência , disse ele.
Impacto na mídia
O atual congelamento da USAID também impactou os US$ 2,3 milhões em financiamento que o governo dos EUA dá ao que ele chama de mídia independente antigovernamental em Cuba. O CubaNet, sediado em Miami, e o Diario de Cuba, sediado em Madri, emitiram solicitações públicas urgentes de contribuições, já que seu financiamento via USAID foi suspenso, informou a Reuters.
Em 2023, os Estados Unidos forneceram mais de US$ 265 milhões em assistência a 707 veículos de comunicação não estatais e apoiaram 279 organizações da sociedade civil no setor de mídia dedicadas ao fortalecimento da mídia independente e ao livre fluxo de informações , de acordo com a USAID. Nove dos 10 meios de comunicação independentes na Ucrânia são apoiados pela USAID, e o governo dos EUA fornece apoio financeiro a organizações da sociedade civil que apoiam a mídia independente em toda a América Latina.
Trump, durante seu primeiro mandato, tentou revogar alguns desses programas de promoção da democracia , mas os fundos continuaram a fluir após apelos de legisladores cubano-americanos, incluindo o então senador Marco Rubio, agora o novo secretário de Estado. Mas ex-funcionários familiarizados com as discussões internas sobre o destino da USAID dizem que desta vez não está claro se tais programas serão restaurados.
O que se espera é que qualquer assistência externa restante dos EUA seja mais focada em interesses políticos. Cada dólar que gastamos, cada programa que financiamos e cada política que promovemos deve ser justificado pela resposta a três perguntas simples: Isso torna a América mais segura? Isso torna os Estados Unidos mais fortes? e isso torna os Estados Unidos mais prósperos? , disse Rubio sobre a suspensão dos programas da USAID.
Mas essas questões já foram respondidas pelas conquistas e metas da USAID, argumentam os democratas. Na semana passada, o senador democrata liberal Chris Murphy, falando em um comício em frente ao prédio que até poucos dias atrás era a sede da USAID, declarou: A cada dia, a América está mais segura por causa do que a USAID faz. A agência combate grupos terroristas e apoia combatentes pela liberdade em todo o mundo .
Para o governo Trump, fechar a USAID é parte de uma suposta guerra simbólica contra um governo federal excessivamente grande, e não uma tentativa de reduzir os gastos federais. Mesmo que Elon Musk consiga eliminar todos os gastos com a USAID, isso representaria apenas uma redução de 1,2% no orçamento federal. Por enquanto, o que resta da missão e do propósito da USAID pode parecer muito mais com o que era quando começou.
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