Sucessos Esmagados por Retrocessos em Angola – Artur Queiroz
Angola tem muitas riquezas mas falta-lhe a mais importante, recursos humanos qualificados. Essa parte é que faz a pobreza que vai da envergonhada à extrema. O problema vem de longe, muito longe. Nos primórdios do colonialismo português, a actividade mais lucrativa na colónia era o tráfico de escravos.
Durou desde a ocupação até à publicação da legislação que aboliu a escravatura, em 10 de Dezembro de 1836, mas que apenas foi aplicada, lentamente, entre 1850 e 1860. Até final do século XIX estava tudo falido. Entre 25 de Abril, 1974 e 11 de Novembro 1975, regredimos a essa época. Nem Economia nem Estado.
As debilidades económicas eram evidentíssimas no último quartel do século XIX. Os colonialistas de Lisboa impuseram à economia angolana os interesse da metrópole. A indústria era praticamente proibida. Agricultura, só o que não se produzia em Portugal. A Conferência de Berlim, em 1885, deu lugar ao nascimento do “capitalismo colonial”. Trabalhos forçados dos angolanos, em vez do negócio de escravos puro e duro. Nem a I Guerra Mundial (1914-1918) mudou este quadro. A rebelião armada de Jonas Savimbi, em 1993, fez Angola regredir a esses anos mas com a máscara do petróleo.
Na última década do século XIX aconteceu o milagre da borracha, petróleo da época num quadro de economia totalmente dependente da metrópole e perda de poder económico da burguesia negra. Entrou em cena o nacionalismo. Triunfo da Imprensa Livre sob o comando dos angolanos negros, excepção feita a Silva Rocha (jornal O Mercantil) e Alfredo Troni (jornal Mukuarimi).
Arantes Braga, um angolano negro, fundou o jornal Pharol do Povo, subtítulo Folha Republicana, em plena monarquia. Júlio Lobato, jornalista negro, fundou em 1908 o jornal A Voz de Angola que tinha como legenda: Libertando pela Paz; Igualando pela Justiça; Progredindo pela Autonomia. Não estamos a honrar esse passado. Os Media angolanos de hoje regrediram pelo menos cem anos em relação à Imprensa Livre do século XIX. Ninguém luta pela liberdade e seus suportes: Pão, saúde, educação, trabalho com salário digno. Ninguém liberta pela paz nem iguala pela justiça.
Portugal, em 1886, começou a construir as vias férreas em Angola. Primeiro entre Luanda e Malanje. Em 1903 começaram os trabalhos para construção do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB). No ano seguinte começaram as obras do Caminho-de-Ferro de Moçâmedes. Angola começou a exportar borracha, cera e marfim. Mas Salazar, o Savimbi da época, depois de 1930 cortou as pernas aos próprios colonos com o Acto Colonial.. O mesmo que faz Vera Daves com as micro, pequenas e médias empresas A senhora não deixa pedra sobre pedra.
A agricultura no final do século XIX ganhou protagonismo quando foram introduzidas as culturas do milho, batata-doce, mandioca, banana e arroz. Estimulados para a cultura do trigo, os agricultores foram traídos pelo governo que os empurrou para a falência. Uma tragédia. Foi então que entrou em cena o café, cujos pés foram importados da Etiópia. Logo a seguir nasceram as plantações de cacau, tabaco, algodão e sisal. E de repente tudo ruiu.
O Acto Colonial (1930) impôs em Angola o princípio do “comércio preferencial” com Lisboa. A colónia de Angola ficou reduzida ao papel de fornecer matérias-primas. Ao mesmo tempo surgiu a crise económica mundial que durou até 1933. Os funcionários públicos em vez de dinheiro recebiam como salários “vales” (declarações de dívida). Compravam tudo a crédito enquanto os comerciantes aguentavam vender fiado.
Angola já avançou muito desde a Independência Nacional mas no tratamento ao funcionalismo público regrediu cem anos. Os funcionários, da Saúde à Educação, das Forças Armadas à Justiça não recebem salários a tempo e horas. Porquê? Políticas incorrectas. Opções erradas. Uma mistura explosiva de Irresponsabilidade, ignorância e incompetência.
Em nome do combate à corrupção destruíram os grandes grupos económicos angolanos, criados quando foi tomada a decisão de trocar o socialismo e a democracia popular pelo capitalismo e a democracia representativa. Destruíram riqueza e postos de trabalho. Entregaram e continuam a entregar a riqueza nacional aos estrangeiros.
Para colocarem a cereja no topo do bolo adoptaram políticas fiscais suicidárias. Aplicaram o IVA como se a economia angolana fosse igual à da Alemanha. Entregaram o ouro aos bandidos do Banco Mundial e do FMI. Agora torram milhões em propaganda par esconderem o gato. Mas o rabo do bicho é muito grande e está sempre de fora. A UNITA é um atraso de vida. Mas a equipa económica do Executivo e o Ministério das Finanças não lhe ficam atrás. Temos algumas e alguns sábios nesta área. Chegou a hora de todos se unirem na patriótica missão de encontrarem soluções para os problemas económicos e financeiros. Acabou a conversa.
Maputo é uma lição. Olhem para Moçambique por favor. A União Europeia já mostrou o jogo. Uma flausina burocrata do cartel disse, sem se rir, que o Presidente Chapo tem que dialogar com o palhaço pago por Bruxelas, Venâncio Mondlane. Daqui a dois anos vamos ter o nosso. E ninguém se mexe para matar a serpente no ovo.
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