sábado, 1 de abril de 2023

MEIO SÉCULO PARA RECONHECER UM ERRO... REDE GLOBO E OSCAR, DESDE SEMPRE UNIDOS NA HIPOCRISIA


CINQUENTA ANOS DEPOIS: A RAZÃO DE MARLON BRANDO MANDAR UMA ÍNDIA RECUSAR O OSCAR EM SEU NOME. NÃO, NÃO FOI UMA PIADA.

Por: Benedito Carlos do Santos - Prof. Historia



No Massacre de Wounded Knee, quase trezentos nativos norte-americanos, incluindo idosos, mulheres e crianças , da tribo Lakota (parte da confederação dos povos siouxs) foram mortos por soldados do exército dos Estados Unidos . O massacre, chamado vergonhosamente pelo exército norte-americano de "batalha", ocorreu em 29 de dezembro de 1890, perto do riacho conhecido como Joelho Ferido na Reserva Indígena Lakota Pine Ridge, em Dakota do Sul , após uma tentativa frustrada dos soldados da União de desarmar o acampamento Lakota. Até hoje há um monumento no local, "celebrando" o feito.

Esse episódio vergonhoso está inserido, como vários outros, naquilo que os livros de História estadunidense denominam de Guerras Indígenas, na verdade massacres, deslocamentos territoriais forçados, tentativas de aniquilar a cultura dos nativos americanos e toda a sorte de arbitrariedades celebradas em Hollywood por centenas de filmes do gênero western, que nós aqui no Brasil chamamos de faroeste. Enfim, um genocídio.

Quase setenta anos depois, a partir de 1968, uma intensa movimentação levou à criação da Movimento Indígena Americano (AIM), que exigia direitos aos nativos do país, cobrava o cumprimento de antigos acordos sempre violado pelos brancos e denunciava a violência, os maus tratos, o racismo e a pobreza imposta aos indígenas. Esse movimento foi em parte influenciados pela militância dos movimentos pelos direitos civis dos afro-americanos, muito influentes e ativos entre as décadas de 1950 e 1970.

Entre 1971 e 1973 inúmeras manifestações indígenas ocorreram nos EUA, culminando com a ocupação de Joelho Ferido, fato que ligava a luta do presente com a memória do passado caracterizada pelo arbítrio e pelo genocídio. Para acabar com a ocupação foi montada uma verdadeira operação de guerra pelo governo dos EUA, que com raras exceções, foi aplaudida pela mídia mainstream, muitos acusando os indígenas de baderneiros. Insinuações de terrorismo e interferência de uma potência estrangeira - Sempre a Rússia! - foram ridiculamente sugeridas. Principalmente após a morte, nunca esclarecida, de um agente do FBI.

Líderes indígenas também encontraram um fim trágico. Até 1975 mais de 60 nativos americanos morreram, Além das autoridades, uma milícia indígena formada por criminosos a serviço de Richard Wilson, presidente do conselho indígena bancado pelo FBI, contribuiu com a sua cota de abusos, estupros de mulheres que militavam na AIM, além da prática descarada de corrupção acobertada pelas autoridades, que pagava alguns nativos para trair e alcaguetar seus iguais.

É nesse contexto que na cerimônia do Oscar de 1973, Marlon Brando, vencedor da estatueta de melhor ator por sua célebre interpretação de Dom Vito Corleone no filme The Godfather (em português, "O Poderoso Chefão"), e um indivíduo conhecido por seu engajamento em favor dos direitos civis dos negros e dos nativos americanos, deixou de comparecer à cerimônia e enviou no seu lugar uma atriz nativa aparamentada a caráter, Sacheen Littlefeather, que recusou o prêmio em nome do ator, e fez um discurso de sessenta segundos em favor dos indígenas. 
Na verdade o discurso mais longo e mais crítico escrito por Brando foi posteriormente distribuído à imprensa. Em junho de 2022, poucos meses antes de sua morte, a Academia de Hollywood desculpou-se com a atriz pela hostilidade destinada a ela quase cinquenta anos antes. Antes tarde do que nunca...
Diz a lenda que John Wayne, famoso por interpretar cowboys em Hollywood em numerosos faroestes, e um reacionário notório, teve que ser contido por seguranças, que evitaram que agredisse a emissária de Brando. 
A mídia - inclusive a brasileira na sua ignorância gritante! - criticou Brando ou fez piadas a respeito. Curiosamente consideraram o gesto mais uma esquisitice do ator, rotulado como "difícil", poucos associando a medida ao que realmente acontecia nos EUA na época e ignorando que o intérprete de Vito Corleone era um defensor entusiasta da causa indígena. Mas não é novidade: os norte americanos estão sempre prontos a defender direitos humanos em Cuba, liberdade de expressão na China e ignorar arbitrariedades no seu próprio país ou nos países amigos, como Israel e Arábia Saudita.

Resta ainda a polêmica a respeito da atriz Littlefeather. De ascendência mexicana, muitos negam sua herança indígena. o que na minha opinião não faz a menor diferença. Ao longo do restante de sua vida defendeu a causa dos nativos americanos, combateu pela preservação do meio ambiente e defendeu uma representação menos caricata e preconceituosa dos indígenas na mídia e no cinema.

Brando, que sempre desprezou a futilidade e a superficialidade de Hollywood, morreu em 2004. Recomendo às novas gerações que o assistam nos seus melhores momentos: "Viva Zapata!" (1952), Júlio César" (1953), "Sindicato de Ladrões" (On the Waterfront, 1954), "Queimada" (Burn!), o já mencionado "The Godfather" (1972) e o magnífico "Apocalypse Now" (1979). Vocês não se arrependerão. É interpretação na veia!

RECOMENDAÇÃO DO SBP

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