La défaite de l'Ukraine ne signifie pas la fin de la guerre por Thierry Meyssan |
Os números da Aliança Atlântica, transmitidos pelas agências de imprensa ocidentais, levam-nos a pensar que o povo ucraniano está unido e resiste graças às armas ocidentais. No entanto, os da Mossad, difundidos pelo sítio turco Hürseda Haber atestam que eles não têm relação com a realidade.
Este fenômeno não é novo. Por ter publicado durante a guerra no Kosovo um boletim diário transmitindo os despachos das agências de notícias ocidentais cruzando-os com as agências de imprensa dos Balcãs não fico seguro. A OTAN tem uma longa prática em mentir aos seus cidadãos. Não se trata aqui de exageros, mas sim de mentiras descaradas. Os leitores mais velhos lembram-se que eles conquistaram o coração de todos os ocidentais, mesmo os que perceberam. No fim deste conflito, a Aliança aceitou generosamente deixar os restos do Exército sérvio (diziam «jugoslavo» à época) recuar sob a proteção do Exército russo. Foi então que, para estupefação de todos, se viu uma enorme quantidade de tanques e de aviões emergir intactos dos seus abrigos subterrâneos.
É certo que não é possível, durante uma guerra, saber as coisas com precisão num campo de batalha. Os exércitos contam eles próprios como suas perdas, mas ignoram se os homens desaparecidos estão mortos ou feridos, prisioneiros ou em fuga. Os oficiais têm sempre de decidir na confusão da guerra, sem nunca dispor de estatísticas precisas tal como existem em tempos de paz.
Seja como for, enquanto todos os governantes sabem que a Rússia venceu e que ela irá continuar a libertar a Novorossia até à Transnístria, alguns fingem acreditar que ela vai invadir a Moldávia tal como fez na Ucrânia. Pouco importa que aquando da redução da URSS, a Transnístria se tenha proclamado independente tal como a Crimeia. O essencial é continuar a apresentar a Rússia como uma tirania conquistadora que devasta tudo à sua passagem.
É preciso lembrar ainda que, quando a Moldávia se proclamou independente, ela deu como nulas e inexistentes as consequências do Pacto Germano-Soviético de 1939, nomeadamente a união da Transnístria à sua entidade política. Pouco tempo depois, no entanto, ela reivindicou-a como sendo seu território. Em Junho de 1992, o Coronel Howard J.T. Steers, oficial da Secretaria Militar dos EUA e conselheiro da Aliança Atlântica, coordenou uma operação militar para conquistar a Transnístria. Para tal, não se contentou com o pequeno Exército moldavo, mobilizou o Exército romeno e reclamou prisioneiros romenos de direito comum.
A Transnístria era um pequeno vale com um microclima que a tornou numa base secreta do complexo militar-industrial soviético. Era, pois, povoada ao mesmo tempo pelos seus habitantes originais, mas também por muitas famílias de cientistas soviéticos. Era protegido por uma pequena base, a do 14º Exército Soviético. O Presidente russo, Boris Ieltsin, foi defensor da Transnístria, assim como foi a adesão da Crimeia à Federação da Rússia. O 14º Exército, agora russo, com mais de um milhar de homens, recebeu ordem de não intervir. Mas milhares de mulheres transnístrinas sitiaram uma base militar. Os soldados russos não atiraram contra elas, antes desobedeceram às ordens do presidente Ieltsin e levaram-nas entrar. Elas apoderaram-se de 1.000 Kalashnikovs, 1,5 milhão de cartuchos e 1.300 granadas. Foi esse povo em armas que repeliu o Exército Romano dirigido pelo Coronel Steers.
Esta derrota da Aliança Atlântica nunca foi contada na Europa. Para saber foi preciso ter estado no terreno. Ela afetou de tal maneira os que a viveram que alguns mudaram de campo. Foi, nomeadamente, o caso do Chefe da estação da CIA, Harold James Nicholson, que nos meses seguintes se colocou ao serviço do KGB russo, do qual se tornou um dos mais importantes informadores.
A Transnístria afirma-se hoje em dia como a única herdeira da União Soviética, da qual conserva as melhores práticas, sem os seus aspectos autoritários e burocráticos.
Quando a Rand Corporation planeou uma guerra real na Ucrânia, informaram os deputados representantes no Congresso. Foi em 5 de setembro de 2019. Ela baseou-se em dois relatórios. Aí ela explicou que o objetivo da operação desviar é o de provocar a Rússia para que esta se movasse para fora das suas fronteiras, numa altura em que não poderia defendê-las. Era, pois, preciso forçá-la a entrar na Ucrânia e depois na Transnístria.
É preciso perceber bem o que o Pentágono faz, não em relação à situação imaginada pelas agências de imprensa ocidental, mas dos planos da Rand Corporation, na ocorrência de uma jogada suplementar à volta, não mais da Novorossia, mas da Transnístria.
O Ministro da Defesa dos EUA, o General Lloyd Austin, continua a pressionar os seus aliados para que cedam as suas armas e as suas munições, até que invadem exangues (e assim ainda mais necessitados da sua protecção). Simultaneamente, ele acaba de os forçar a modificar o funcionamento da OTAN. Esta pode agora se transformar numa «coligação (coalizão-br) de voluntários» para operações fora do Artigo 5 (quer dizer, não respondendo a um ataque contra um dos seus membros). O que não tem nada de novo. Fora já o caso da operação contra a Líbia. À época, os membros da Aliança que se opunham a essa guerra foram postos à margem, enquanto outros, como o Catar, a ela foram associados. Agora, a OTAN irá agir sem ter que violar os seus próprios estatutos. Na prática, isto quer dizer que o Conselho Atlântico perdeu todo o seu poder. Um Aliado já não poderá opor-se à entrada na guerra da OTAN, uma vez que assim os EUA utilizarão os meios da OTAN com uma coligação de voluntários.
A derrota da Ucrânia, que perdeu já para o Donbass e quatro oblasts, não significa, no entanto, o fim da guerra. Enquanto o Kremlin explicou que só ele restava libertar Odessa e efetuar assim a ligação com a Transnístria, a OTAN refina o seu discurso. Trata-se de criar confusão entre a Transnístria (dita República Moldava do Dniester) e a Moldávia. Depois, fazer acreditar que o Urso russo invadiu esta última.
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