segunda-feira, 24 de março de 2025

Milei chama grupos humanitários de "guerrilheiros comunistas"

Durante a comemoração na segunda-feira do 49º. No aniversário do golpe de Estado que estabeleceu a última ditadura militar na Argentina, o governo neoliberal do líder de extrema direita Javier Milei questionou a narrativa que acreditava ter sido promovida por organizações humanitárias sobre aquele período sangrento, pediu que as ações "terroristas" dos grupos guerrilheiros comunistas fossem lembradas e anunciou um projeto legislativo para declarar imprescritíveis os crimes que eles cometeram.
Milei postou em sua conta X, antigo Twitter, um vídeo oficial pedindo que as vítimas de grupos armados de esquerda sejam lembradas para “completar” a memória histórica na Argentina. A medida está alinhada à batalha cultural que o presidente vem travando desde que chegou ao poder no final de 2023 contra o socialismo e o que ele considera uma interpretação tendenciosa por parte de organizações humanitárias da ditadura e da violenta década de 1970.

O vídeo foi divulgado poucas horas antes da marcha liderada por ativistas de direitos humanos para comemorar o golpe militar que levou a uma ditadura de sete anos que implementou um plano sistemático de sequestros, torturas e desaparecimentos. A mobilização, que também contará com a participação de organizações sociais e estudantis e diversas forças políticas, deverá ser massiva e ocorrerá sob slogans antigovernamentais.

“Memória, Verdade e Justiça. Completas”, disse Milei em seu post. O vídeo questionou o fato de que, no século XXI, as gerações mais jovens foram "doutrinadas" pelos governos atuais, ignorando as ações violentas das organizações guerrilheiras de esquerda e peronistas que começaram a operar nos anos que antecederam o golpe de 1976. Também criticou o fato de a história ensinada pelo Estado ter se concentrado nos crimes cometidos pelas Forças Armadas desde que chegaram ao poder.

Especialistas em direitos humanos apontaram que Milei está negando a extensão do horror que ocorreu ao equiparar a violência de guerrilha ao terrorismo de Estado, justificando assim a repressão exercida contra qualquer pessoa considerada subversiva.

Carlos Pisoni, do grupo que reúne filhos de pessoas desaparecidas durante a ditadura, argumentou que "é necessária uma lei contra o negacionismo na Argentina hoje". Sobre o vídeo oficial que pede a ruptura com a narrativa "imposta" pelas organizações humanitárias, ele afirmou que "a única coisa que o governo deveria pedir para quebrar são os pactos de silêncio dos genocidas".

Além disso, o governo voltou a desmentir o número de 30 mil desaparecidos, que as organizações de direitos humanos vêm sustentando em seu apelo para que o paradeiro das vítimas da repressão militar ilegal seja descoberto e todos os responsáveis ​​sejam punidos com penas de prisão.

O vídeo ressalta que esse número contradiz as investigações oficiais realizadas desde a restauração da democracia, que apontam para mais de 7.000 mortos e desaparecidos. Ele também questionou o fato de que o "negócio dos anos 1970" implicava um alto custo econômico para o Estado em termos de indenização e que as organizações de direitos humanos "serviam como centros de doutrinação e trampolins políticos para seus líderes".

No dia da comemoração, o governo também anunciou que decidiu apoiar a "demanda de justiça" da família do Capitão Humberto Viola, "fuzilado em 1974, em plena democracia, junto com sua filha María Cristina, de 3 anos, pelas mãos do Exército Revolucionário Popular (ERP)", que qualificou como uma organização terrorista, e instruiu um departamento do Ministério das Relações Exteriores "a fazer reconhecer perante a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) que este crime deve ser considerado um crime contra a humanidade".

O governo disse que a medida faz parte de um acordo com a família de Viola e que, como parte dele, enviará ao Congresso um projeto de lei para estabelecer "a imprescritibilidade criminal e civil para esses tipos de crimes". Isso significaria que seu processo e punição não teriam prazo para acontecer, o que é o que acontece atualmente nos meios judiciais argentinos.

Por outro lado, anunciou a desclassificação de informações em poder do serviço de inteligência sobre ações militares durante a ditadura, o que implica sua transferência para o Arquivo Nacional, a fim de acabar com a "opacidade que cercou os documentos durante décadas".

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