segunda-feira, 21 de abril de 2025

Crônica do Homem, que Carregava o Mundo nos Ombros


Sob o céu cor de púrpura, quando o sol se inclina como um ancião sobre a cordilheira, partiu o pastor que falava com a voz das favelas. Francisco, nome que ecoa florestas e revoluções, despiu-se do manto terreno, deixando nas calçadas da história, pegadas de barro e esperança. Primeiro papa das Américas, filho do tango e da missão, ele não veio do mármore dos palácios, mas, das entranhas de um continente, que sangra e canta.
Homem de mãos calejadas pelo rosário e pelo abraço aos esquecidos, lavou pés sujos de estrada, enxugou lágrimas de mães, que perderam filhos nas fronteiras do mundo. Em sua boca, as parábolas não eram metáforas, eram pão repartido, teto para os sem-nome, denúncia contra os que vendem céus, em troca de ouro. Conheceu os porões do poder, as sombras que habitam até os altares, e mesmo assim, plantou jardins no deserto, regando-os com versos de dignidade humana e a teimosia, dos que não se rendem.

Não foi um santo de vitral, mas um poeta do cotidiano: desafiou tronos ao lado de Lula, cuja cela foi visitada pelo seu apoio sincero, como quem visita um profeta encarcerado. Em suas homilias, o verbo era ação: defendeu a Amazônia, pulmão ferido da Terra, ergueu a voz pelos migrantes, cujas malas carregam sonhos e cicatrizes. Reformou não com decretos, mas com gestos — abriu janelas na Igreja, para que entrassem ventos novos, diálogos com ateus, abraços a muçulmanos e judeus, como se todas as religiões, fossem rios buscando o mesmo mar.

Sofrerá sempre, em silêncio, quem ousa pensar com a alma e amar com as vísceras. Os gigantes, esses que carregam o fardo da luz, conhecem a solidão das estrelas — tão altas, tão frias —, mas não deixam, que a noite apague seu brilho.

Agora, enquanto os poderosos contam suas moedas e os hipócritas, recitam preces vazias, Francisco dança com os pobres, em algum lugar além do tempo. Deixou-nos um mapa: não de rotas para o paraíso, mas de utopias possíveis. Sua herança, é um vinho novo em odres velhos — a certeza de que outra Igreja, outro mundo, são sementes a brotar, na fissura dos muros.

Barthes.


https://www.instagram.com/reel/DItcHDKua8j/?igsh=Y2wwMGk1dHFsM21y 

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