terça-feira, 24 de setembro de 2024

'Brasil! Brasil!' revela uma visão vibrante do Modernismo brasileiro

A exposição Brasil! Brasil!: O Nascimento do Modernismo, inaugurado no Zentrum Paul Klee, oferece uma visão vibrante desse movimento artístico no país sul-americano através da obra de 10 artistas, cinco deles autodidatas e pouco conhecidos internacionalmente. As obras expostas saem do Brasil pela primeira vez. A exposição coincide tematicamente com a Bienal de Veneza, onde também participam mais da metade dos artistas aqui presentes.

O Modernismo brasileiro situa-se no crescente interesse europeu pela arte do sul global, destacando a produção de artistas desconectados da estética tradicional ocidental. A exposição é coorganizada com a Royal Academy of Arts (RAA) de Londres, onde ficará exposta de janeiro a abril de 2025. Curiosamente, a exposição Pinturas Modernas Brasileiras foi apresentada neste mesmo local em 1944, em apoio aos aliados. durante a Segunda Guerra Mundial, após ser exposta no Museu de Arte Moderna de Nova York.

A exposição foi organizada por Fabienne Eggelhöfer, Roberta Saraiva Coutinho e Adrian Locke, este último, curador-chefe do museu londrino, que também analisou o Modernismo Mexicano na exposição A Revolution in Art, 1910-1940 (2013) e in Aztecs (2002). ).

O primeiro grupo inclui os clássicos do Modernismo, artistas de origem burguesa, como Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Vicente do Rego Monteiro, Geraldo de Barros, todos formados em Paris, enquanto Anita Malfatti e o lituano Lasar Segall, em Berlim. Integraram a vanguarda brasileira no contexto internacional, mas ao mesmo tempo começaram a buscar uma identidade artística nacional.

O segundo inclui artistas autodidatas ou com carreiras difíceis de classificar, como o sofisticado Flávio de Carvalho, além de Alfredo Volpi, Djanira da Motta e Silva e Rubem Valentim. Esses artistas, que até recentemente não eram aceitos no cânone do Modernismo brasileiro, apresentam uma perspectiva mais popular e mais próxima das raízes culturais do país, combinando elementos indígenas, africanos e coloniais.

A exposição destaca a importância da Semana de Arte Moderna de 1922, evento fundador do modernismo no Brasil, realizada no Theatro Municipal de São Paulo. Patrocinada por Paulo Prado, a Semana reuniu escritores, pintores e músicos que buscavam uma arte autenticamente brasileira, em diálogo com as vanguardas europeias, mas sem depender delas. São Paulo, com sua próspera indústria cafeeira, estabeleceu-se então como o epicentro cultural e financeiro do Brasil. A cidade, que contava apenas com a Pinacoteca do Estado (inaugurada em 1905), logo se tornou um centro cultural com museus e galerias, e seria sede da famosa Bienal de São Paulo.

O Manifesto Antropófago de 1928, escrito por Oswald de Andrade e inspirado na obra Abaporu de Tarsila do Amaral, também teve papel fundamental nesse movimento. Este texto propunha devorar a cultura europeia para transformá-la, abrindo caminho para uma estética mais nativa.

Apesar do entusiasmo pelo Modernismo, estudos recentes apontam uma contradição na obra de artistas como Tarsila e outros criadores. Filha de proprietários cafeeiros, ela representou em suas pinturas uma visão idealizada dos trabalhadores explorados, que reflete, segundo os curadores, uma realidade vista pela perspectiva do outro.
Uma mudança crucial no Brasil ocorreu com a Revolução de 1930, que acabou com a oligarquia cafeeira e pecuária do café con leche. Com a chegada de Getúlio Vargas, foram implementadas reformas em favor dos trabalhadores, o que promoveu a industrialização do país. Este contexto social e político influenciou o trabalho de muitos artistas da época. Tarsila, por exemplo, passou da pintura de paisagens rurais e urbanas à representação de cenas do mundo industrial, como em Segunda Turma (1933). Portinari também focou temas como pobreza e exploração em sua obra Coffee Worker (1934).

Os autodidatas também refletiram essas mudanças em suas obras. Djanira da Motta e Silva, de origem indígena, misturou o popular e o erudito, conseguindo um equilíbrio estético através de formas geométricas e cores saturadas, bem como do uso do branco, que se destaca pela beleza e originalidade. Alfredo Volpi, migrante italiano, capturou fachadas de cidades e bandeiras de festas populares, enquanto Rubem Valentim incorporou símbolos do candomblé em suas obras.

Este período foi seguido pela construção de Brasília e pelas inovações arquitetônicas de Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, que lançaram as bases para a arte concreta e o tropicalismo da década de 1960, movimento que fundiu a cultura popular e erudita, afetando diferentes disciplinas, da música à. arquitetura.

A exposição, que ficará patente até 5 de janeiro de 2025, e seu catálogo também abordam questões contemporâneas, como a centralidade das mulheres artistas no Modernismo brasileiro e aspectos raciais, entre outros. Ao todo, Brasil! Brasil! revela uma rica fusão de influências locais e globais, mostrando como a arte brasileira evoluiu em resposta às tensões sociais e políticas do país e oferecendo ao público um banquete visual de grande arte moldada pelo simbolismo, pela cor e pela criatividade transformadora.

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