O Ministério da Saúde boliviano informou esta terça-feira que 29 pessoas ficaram feridas, a maioria policiais, numa operação de desobstrução de uma rodovia, após 16 dias de bloqueios por parte de seguidores do ex-presidente Evo Morales que tensionaram o clima político entre o ex-presidente e o presidente Luis Arce.
A ministra da Saúde, María Renée Castro, em conferência de imprensa informou que, dos 29 feridos, 27 são polícias, um manifestante e um jornalista devido a espancamentos.
Pouco antes, o Comandante da Polícia, Augusto Russo, denunciou que os manifestantes explodiram dinamite para repelir a acção da polícia, que mobilizou um grande número de tropas para desobstruir uma rota que liga as cidades do leste às do oeste, onde se encontra a Paz.
“Quatro dos policiais têm traumatismo crânio-encefálico e tiveram que ser evacuados por via aérea para serem levados aos hospitais”, explicou Castro e pediu aos manifestantes que deixassem as ambulâncias e os medicamentos passarem para os centros de saúde que estão no meio dos bloqueios nas estradas.
Arce, na sua conta no Facebook, “condenou veementemente os atos de violência” onde agentes policiais e jornalistas foram agredidos no exercício do seu trabalho e apelou a uma “investigação exaustiva com o objetivo de impor sanções exemplares”.
Os bloqueios de estradas, que duram mais de duas semanas em apoio ao ex-presidente Morales diante da investigação que se realiza contra ele por abuso de menor quando era presidente, geraram desabastecimento nas cidades do país e acentuaram o atrito entre ambos os números da liderança do partido no poder, Movimento ao Socialismo, e da próxima candidatura presidencial.
Morales informou no domingo que agentes da polícia encapuzados atiraram em seu carro com a suposta intenção de matá-lo quando ele se dirigia a uma estação de rádio de plantadores de coca. O Ministro de Governo (Interior) boliviano, Eduardo del Castillo, negou esta versão e garantiu que Morales e seus companheiros resistiram a uma busca de uma patrulha antidrogas, atiraram e atropelaram um agente enquanto fugiam.
O ex-presidente, que governou durante quase 14 anos, reconheceu no seu programa de rádio que o carro em que viajava pertencia à petrolífera estatal venezuelana PDVSA, acrescentando assim um novo elemento ao aquecido clima político do país andino.
Até agora, a polícia não conseguiu desobstruir as rotas, à medida que aumenta a agitação devido à escassez de alimentos e combustível, o que está a aumentar o preço de produtos básicos no meio de uma economia em crise.
Segundo as autoridades, mais de mil caminhões com alimentos e combustíveis estão retidos nas estradas. Na semana passada, outros 14 policiais ficaram feridos em confrontos com manifestantes.
Entretanto, o coronel Fríder Jiménez, comandante da polícia na região cocaleira do Chapare, anunciou em declarações à estação de televisão Unitel a retirada da polícia daquela zona devido ao assédio dos seguidores de Morales.
O ex-presidente refugiou-se naquela zona, o seu bastião político, desde que se soube que tem ordem do Ministério Público para responder por acusações de abusos a uma menor que engravidou. Ele acusou o governo Arce de “montar” um processo judicial para retirá-lo da corrida para as eleições presidenciais do próximo ano.
Enquanto isso, a Associação Nacional de Imprensa da Bolívia condenou os ataques ao trabalho de jornalistas e cinegrafistas por parte dos manifestantes.
“A vida de cada pessoa merece respeito e, no caso dos trabalhadores da imprensa, o seu trabalho não tem relação com a luta política que tem levado a ações de protesto de militantes partidários em diferentes regiões do país”, afirmou a ANP.
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