sexta-feira, 13 de maio de 2022

Porque a América Latina precisa de uma nova ordem mundial


Why Latin America needs a new world order 

O mundo quer ver o fim do conflito na Ucrânia. Os países da OTAN, no entanto, querem prolongar o conflito aumentando os envios de armas para a Ucrânia e declarando que querem “enfraquecer a Rússia”. Os Estados Unidos já haviam alocado US$ 13,6 bilhões para armar a Ucrânia. Biden acaba de solicitar mais US$ 33 bilhões. Em comparação, seriam necessários US$ 45 bilhões por ano para acabar com a fome no mundo até 2030.

Mesmo que as negociações ocorram e a guerra termine, uma solução pacífica real provavelmente não será possível. Nada nos leva a acreditar que as tensões geopolíticas diminuirão, pois por trás do conflito em torno da Ucrânia está uma tentativa do Ocidente de interromper o desenvolvimento da China, romper seus vínculos com a Rússia e encerrar as parcerias estratégicas da China com o Sul Global.

Em março, comandantes do Comando Africano dos EUA (General Stephen J. Townsend) e do Comando Sul (General Laura Richardson) alertaram o Senado dos EUA sobre os perigos percebidos do aumento da influência chinesa e russa na África, bem como na América Latina e no Caribe. Os generais recomendaram que os Estados Unidos enfraquecessem a influência de Moscou e Pequim nessas regiões. Essa política faz parte da doutrina de segurança nacional de 2018 dos Estados Unidos, que enquadra a China e a Rússia como seus “desafios centrais”.

SEM GUERRA FRIA

A América Latina não quer uma nova guerra fria. A região já sofreu décadas de regime militar e políticas de austeridade justificadas com base na chamada “ameaça comunista”. Dezenas de milhares de pessoas perderam a vida e muitas outras dezenas de milhares foram presas, torturadas e exiladas apenas porque queriam criar países soberanos e sociedades decentes. Essa violência foi um produto da guerra fria imposta pelos EUA na América Latina.

A América Latina quer paz.  A paz só pode ser construída na unidade regional, processo que começou há 20 anos após um ciclo de revoltas populares, impulsionado pelo tsunami de austeridade neoliberal, que levou à eleição de governos progressistas: Venezuela (1999), Brasil (2002), Argentina (2003), Uruguai (2005), Bolívia (2005), Equador (2007) e Paraguai (2008). Esses países, unidos por Cuba e Nicarágua, criaram um conjunto de organizações regionais: a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) em 2004, a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) em 2008, e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em 2011. Essas plataformas tinham como objetivo aumentar o comércio regional e a integração política. Seus ganhos foram recebidos com crescente agressão de Washington, que procurou minar o processo tentando derrubar os governos em muitos dos países membros e dividindo os blocos regionais para atender aos interesses de Washington.

BRASIL


Por seu tamanho e sua relevância política, o Brasil foi um ator fundamental nessas primeiras organizações. 

Em 2009, o Brasil juntou-se à Rússia, Índia, China e África do Sul para formar o BRICS, uma nova aliança com o objetivo de reorganizar as relações de poder do comércio e da política global.

O papel do Brasil não agradou à Casa Branca, que, evitando a grosseria de um golpe militar, realizou uma operação bem-sucedida, em aliança com setores da elite brasileira, que utilizou o legislativo, o judiciário e a mídia brasileiros para derrubar o governo do presidente Dilma Rousseff em 2016 e para causar a prisão do presidente Lula em 2018 (que então liderava as pesquisas nas eleições presidenciais). Ambos foram acusados ​​de um esquema de corrupção envolvendo a petroleira estatal brasileira, e uma investigação do judiciário brasileiro conhecida como Operação Lava Jato se seguiu. 

A participação do Departamento de Justiça dos EUA e do FBI nessa investigação foi revelada após um vazamento maciço dos bate-papos do Telegram do promotor principal da Operação Lava Jato. No entanto, antes que a interferência dos EUA fosse descoberta, o afastamento de Lula e Dilma da política trouxe a direita de volta ao poder em Brasília; O Brasil não mais desempenhava um papel de liderança nos projetos regionais ou globais que poderiam enfraquecer o poder dos EUA. 

O Brasil abandonou a UNASUL e a CELAC e permanece no BRICS apenas formalmente – como também é o caso da Índia – enfraquecendo a perspectiva de alianças estratégicas do Sul Global.

NOVOS VENTOS


Nos últimos anos, a América Latina experimentou uma nova onda de governos progressistas. 

A ideia de integração regional voltou à mesa.  Após quatro anos sem uma reunião de cúpula, a CELAC se reuniu em setembro de 2021 sob a liderança do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador e do presidente argentino Alberto Fernández. Caso Gustavo Petro vença a eleição presidencial colombiana em maio de 2022, e Lula vença sua campanha para a reeleição à presidência do Brasil em outubro de 2022, pela primeira vez em décadas, as quatro maiores economias da América Latina (Brasil, México, Argentina e Colômbia) seria governado pela centro-esquerda, notadamente partidários da integração latino-americana e caribenha. Lula disse que, se vencer a presidência, o Brasil voltará à CELAC e retomará uma postura ativa no BRICS.

O Sul Global pode estar preparado para ressurgir até o final do ano e criar espaço para si mesmo dentro da ordem mundial. A evidência disso está na falta de unanimidade que saudou a tentativa da OTAN de criar a maior coalizão para sancionar a Rússia. Este projeto da OTAN despertou uma reação em todo o Sul Global. Mesmo os governos que condenam a guerra (como Argentina, Brasil, Índia e África do Sul) não concordam com a política de sanções unilateral da OTAN e preferem apoiar negociações para uma solução pacífica. A ideia de retomar um movimento dos não-alinhados – inspirado na iniciativa lançada na conferência realizada em Bandung, Indonésia, em 1955 – encontrou ressonância em vários círculos.

A intenção deles está correta.

Eles buscam diminuir as tensões políticas globais, que são uma ameaça à soberania dos países e tendem a impactar negativamente a economia global. O espírito de não confronto e paz da Conferência de Bandung é urgente hoje.


Mas o Movimento dos Não-Alinhados surgiu como uma recusa dos países do Terceiro Mundo em escolher um lado na polarização entre os Estados Unidos e a URSS durante a Guerra Fria. Lutavam por sua soberania e pelo direito de manter relações com os países de ambos os sistemas, sem que sua política externa fosse decidida em Washington ou Moscou.

Este não é o cenário atual. Apenas o eixo Washington-Bruxelas (e aliados) exige alinhamento com sua chamada “ordem internacional baseada em regras”. Aqueles que não se alinham sofrem com sanções aplicadas contra dezenas de países (devastando economias inteiras, como as da Venezuela e Cuba), confisco ilegal de centenas de bilhões de dólares em ativos (como nos casos da Venezuela, Irã, Afeganistão e Rússia), invasões e interferências resultando em guerras genocidas (como no Iraque, Síria, Líbia e Afeganistão) e apoio externo a “revoluções coloridas” (da Ucrânia em 2014 ao Brasil em 2016). A demanda por alinhamento vem apenas do Ocidente, não da China ou da Rússia.

A humanidade enfrenta desafios urgentes, como a desigualdade, a fome, a crise climática e a ameaça de novas pandemias. Para superá-los, as alianças regionais no Sul Global devem ser capazes de instituir uma nova multipolaridade na política global. Mas os suspeitos de sempre podem ter outros planos para a humanidade.

RECOMENDAÇÃO DO SBP

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