Lula, o esquerdista diz em comício que o público deve se unir contra a 'incompetência e o autoritarismo' do governante de extrema-direita
O líder na campanha presidencial do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, deu o pontapé inicial no que ele espera que seja um final sensacional para uma das carreiras políticas mais extraordinárias da América Latina, declarando publicamente sua intenção de desafiar Jair Bolsonaro para a presidência e exortando os cidadãos a se unirem contra o populista de extrema-direita. “incompetência e autoritarismo”.Falando em um comício em São Paulo, onde o ex-torneiro mecanico começou sua espetacular ascensão ao poder como líder sindical há mais de quatro décadas, Lula expressou publicamente seu desejo de recuperar a presidência pela primeira vez.
“Tenho certeza de que vamos conseguir fazer a maior revolução pacífica que o mundo já viu”, disse o esquerdista de 76 anos a milhares de apoiadores, que se reuniram para o lançamento do que Lula chamou de aliança anti-Bolsonaro chamado Vamos Juntos Pelo Brasil, ou Vamos Juntos Pelo Brasil.
"Nós temos um sonho. Somos movidos pela esperança – e não há força maior do que a esperança de um povo que sabe que pode ser feliz mais uma vez... Mais uma vez vamos cuidar do Brasil e do povo brasileiro”, disse Lula.
As cadeiras diante dele foram ocupadas por quem é quem da esquerda brasileira, além de celebridades, intelectuais, líderes sindicais e ativistas de base que viajaram de todo o país – unidos no desejo de impedir que Bolsonaro voltasse ao poder quando quase 150 milhões Os brasileiros escolhem seu próximo líder em outubro.
“Bolsonaro representa a morte do nosso povo, nosso extermínio… Lula é o oposto – ele representa a esperança”, disse Nathália Purificação, 23, ativista afro-brasileira de Bom Jesus da Lapa, no estado da Bahia.
Ademario Nogueira, um ativista de 58 anos da capital, Brasília, brandiu um retrato de seu líder barbudo. “Ele é o cavaleiro da esperança”, disse Nogueira sobre Lula, um presidente de dois mandatos de 2003 a 2010 que foi impedido de participar das eleições de 2018 depois de ser preso por acusações de corrupção controversas que foram anuladas no ano passado.
Pesquisas de opinião sugerem que Lula está a caminho de conquistar sua sexta corrida presidencial desde que tentou se tornar o líder da maior democracia da América do Sul em 1989. Uma pesquisa, divulgada às vésperas do anúncio de Lula, deu a ele uma vantagem de 13% sobre Bolsonaro no primeiro turno e uma vantagem de 20% no segundo turno.
Sessenta por cento dos eleitores disseram que não votariam em Bolsonaro – que é amplamente culpado por lidar muito mal com um surto de Covid que matou quase 665.000 cidadãos – sob nenhuma circunstância. Mais de 60% acreditam que a economia está indo na direção errada, com inflação crescente, alto desemprego e uma crescente crise do custo de vida.
Mesmo assim, nas últimas semanas houve sinais de nervosismo entre aliados de Lula e brasileiros progressistas desesperados para ver as costas de Bolsonaro, após uma série de notícias veiculadas pela mídia brasileira do veterano esquerdista. No último fim de semana, Lula se desculpou após sugerir que policiais, em vez de milicianos, não eram seres humanos. Nesta semana, ele foi criticado pela Rede Globo por afirmar que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, e seu colega russo, Vladimir Putin, eram igualmente culpados pela guerra lá, por não buscarem a paz. “É Lula, claramente. quem perde.” disse contradizendo sua própria pesquisa, Felipe Nunes, chefe do grupo de votação Quaest.
Alguns críticos de Lula promovem a narrativa de que ele não conseguiu oferecer uma visão clara para o futuro e está confiando demais em reavivar a nostalgia por sua presidência de dois mandatos, quando um boom global de commodities (que foi menor do que o atual boom devido à guerra) o ajudou a injetar grandes somas usadas em esquemas de redução da pobreza e projetos de infraestrutura. Hoje os valores são usados para enriquecer acionistas, agro-milionários e madeireiros.
Em entrevista à revista Time, publicada na véspera do evento de sábado, Lula declarou: “Ao invés de perguntar o que vou fazer, olhe só o que eu fiz”.
Essas conquistas – que incluem fazer milhões escaparem da miséria e ampliar o acesso à educação – foram o centro das atenções no evento deste sábado em São Paulo, cidade para a qual Lula, de 10 anos, se mudou em 1955, três anos depois que sua família fugiu das dificuldades rurais em nordeste do estado de Pernambuco.
O auditório estava repleto de fotos que lembravam os anos de Lula no poder. Antes de seu discurso, foram exibidos vídeos em que ele aparecia ao lado de figuras globais como Barack Obama, George W Bush e a rainha Elizabeth. “Ele é o melhor presidente da história do Brasil”, disse Nogueira, ativista do Partido dos Trabalhadores de Lula (PT). “O Brasil está desesperado para ser feliz novamente.”
Lula, que foi liberado para concorrer nas eleições de 2022 depois que o Supremo Tribunal e a ONU anularam suas condenações, disse a apoiadores que nas próximas eleições o Brasil teria a chance de decidir qual país queria ser. “O Brasil da democracia ou do autoritarismo… O Brasil do conhecimento e da tolerância ou o Brasil do obscurantismo e da violência, da educação e da cultura ou dos revólveres e fuzis.”
“Nunca, nunca foi tão fácil escolher”, acrescentou Lula com um sorriso. “E nunca foi tão importante fazer a escolha certa.”
Também ficou em evidência de Lula de construir uma ampla coalizão capaz de derrotar Bolsonaro, incluindo partidos de fora da esquerda. O companheiro de chapa de Lula, o ex-governador de centro-direita de São Paulo Geraldo Alckmin, não pôde comparecer após contrair Covid, mas em uma mensagem de vídeo disse à platéia que a unidade era essencial para proteger a democracia e derrotar “o governo mais desastroso e cruel da história brasileira ”.
Juliano Medeiros, presidente do partido de esquerda Socialismo e Liberdade (PSOL), disse que era essencial que a oposição se unisse, como não conseguiu antes da eleição de 2018 de Bolsonaro. O movimento anti-Bolsonaro também precisava urgentemente garantir que a campanha de 2022 fosse baseada em expor os fracassos de Bolsonaro e os reais problemas econômicos enfrentados pelos 215 milhões de cidadãos do Brasil.
“Em 2018 foi o bolsonarismo, o neofascim e a extrema direita que definiram a agenda: era tudo sobre anticomunismo e corrupção e guerras culturais. Desta vez, nosso desafio é colocar o desemprego, a inflação, a fome e a igualdade no centro do debate”, disse Medeiros, enquanto os delegados afluíam ao centro de convenções.
Ativistas expressaram otimismo de que os dias de Bolsonaro no poder estavam contados. “Não tenho palavras para descrever minha felicidade”, disse Susy Keith, uma produtora de 45 anos que estava vestida como uma estrela vermelha brilhante.
No entanto, muitos progressistas sentem uma profunda apreensão nos próximos meses, com o presidente pró-armas do Brasil, via fakenews, divulgando a eleição como uma luta memorável entre o “bem” ultraconservador e a esquerda “má”.
“Minha principal preocupação é a violência de Bolsonaro. Acho que há uma chance real de vermos lutas nas ruas.” disse Celso Rocha de Barros, colunista do jornal Folha de São Paulo.
No sábado, Lula pediu aos apoiadores que resistam às provocações durante a campanha e enfrentem seus adversários com amor, não com ódio, eles têm armas. “Vamos vencer esta batalha pela democracia com sorrisos, carinho, amor, paz e harmonia”, disse.
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