quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Chico Bicudo misturando Politica e futebol no Super Batepapo

Chico Bicudo - Jornalista e escritor, professor de jonalismo e apaixonado pelo Santos F. C.. Blogueiro dos bons ele é autor do livro Crônicas Boleiras e colunista no site Chuteira Futebol Clube... Ou seja, ninguém melhor para um Super Batepapo sobre política e futebol tudo junto e misturado.

Chico Bicudo
De professor e cronista à tese de mestrado
"De que adianta entrar em campo com jogadores trajando camisas que denunciam racismo e exclusão d@s negr@s na sociedade brasileira se, no mesmo jogo, o camarote da presidência do Santos abriga e acolhe um racista assumido?", questiona o jornalista Chico Bicudo. Esse homem que se indigna com a falta de humanidade e mesmo com a perversidade de dirigentes de futebol e politicos canalhas é o mesmo Chico capaz de tiradas hilariantes quando fala de seu assunto preferido - o que acontece dentro e fora das quatro linhas brancas que delimitam o tapete verde. Ele é biólogo, jornalista e um grande fã de futebol.

Torcedor do Santos. Professor e historiador do velho esporte bretão, esporte que conhece tão bem quanto a Biologia, trata do assunto com maestria por ser também dono de um texto. delicioso. Por tudo isso, não é a toa que o Chico virou Tese de mestrado na qual se encontra na ilustre companhia de ninguém menos que Nelson Rodrigues, um baluarte da crônica esportiva a quem Bicudo reverencia em cada artigo com qualidade nas observações de detalhes, no fantástico, nas ironias e até mesmo na acidez angustiante que imprime em determinados momentos de suas incursões pelos meandros da direção corrompida do futebol.




Aliás, porque não aproveitar o momento e trazer uma das crônicas que fazem parte do trabalho do mestrando para esse nosso corolário sobre Chico Bicudo. Todos nós bem o merecemos.


A Alemanha de novo no caminho do Brasil.

Na cidade de Temuco, no sul do Chile, onde estreia amanhã na Copa América contra o Peru, a Seleção Brasileira está hospedada no Hotel Dreams, que fica na Avenida... Alemanha. Sonhos e Alemanha. Não combina. Talvez devesse o estabelecimento se chamar Nightmare.
Corre à boca pequena que foi uma escolha pessoal do técnico Dunga. No melhor estilo militar “chega de bobagens infantis, aquilo já passou, é o melhor recomeço que poderíamos desejar, dez vitórias seguidas, somos homens feitos, profissionais, não tememos demônios passados”, o atual comandante da Canarinho disse ter certeza que a experiência fará bem aos boleiros nacionais. “Olhar para a placa com o nome da rua vai fortalecer nossos brios de guerreiros. Somos machos, chê”, disse aos dirigentes da Confederação Brasileira de Falcatruas, na hora de escolher a concentração. Parece não ter dado muito certo. Tentaram abafar, esconder, proibiram os atletas de dar declarações a respeito, mas o DataChico apurou que, já no desembarque, ao bater os olhos na palavrinha fatídica (A-LE-MA-NHA), Thiago Silva teve uma síncope. Desabou a chorar, inconsolável. Fernandinho começou a ouvir vozes. “Cuidado, olha o Kroos! Solta a bola, olha o Özil!”. David Luiz fez beicinho e começou a pedir desculpas, chacoalhando a vasta cabeleira e acenando para a galera que aguardava o esquadrão nacional. Entraram rapidinho no hotel, esquecendo malas esparramadas por todos os cantos. Sem perceber, deixaram um buracão no meio do saguão. Daniel Alves, tenso, olhava sem parar para a esquerda, para a direita, para a esquerda de novo, como se temesse ser surpreendido por algum alemão com camisa vermelha e preta. Deixou escapar, bem baixinho. “Minhas pernas estão tremendo. Sem alegria. Alguém viu o Bernard?”. Na recepção, momento do check-in, o funcionário sorridente tentou ser simpático e avisou: “o sétimo andar está todinho reservado para vocês. Ninguém vai importuná-los. Prometemos”. Como? O quê? O número reverberou como uma bomba. Neymar tentou argumentar, encostou no rapaz do hotel e sussurrou algo, colocando a mão na boca para evitar leitura labial. Robinho até achou legal. “Me lembro das sete pedaladas que mandei no Rogério na final do Brasileirão de 2002”. A balbúrdia foi geral. “Sete? Sétimo?”. Gritaria. Braveza. “No sétimo não dá. Não vou subir sete andares. Não vou apertar botão sete no elevador. Só pode ser sacanagem, armação”, berrou Thiago Silva, aos prantos. Quando soube que o apartamento em que ficaria seria o 71, só conseguiu dar sete passos e sentar numa bola que estava encostada num canto e lá ficou, parado, inerte, a mirar o infinito. Dunga enfureceu-se. “Deixe disso, che. Seja homem. Nem mais capitão você é. E já sei que não posso contar contigo em cobrança de 161 pênaltis. Levanta e anda”. O chefe da delegação, João Dória Junior, escolhido para o cargo por evidentes e relevantes contribuições oferecidas ao futebol e nada por critérios políticos, parecia uma barata tonta. Só conseguia repetir, abestalhadamente “é tudo culpa da Dilma, é tudo culpa do PT”. Ficou falando sozinho. Argumenta daqui, contesta dali, acerta acolá (Gilmar Rinaldi gesticulava freneticamente, pedindo respeito ao futebol pentacampeão do mundo), o impasse foi finalmente resolvido. Todos transferidos para o décimo andar. Enquanto se preparavam para subir, aliviados, os boleiros da Seleção foram surpreendidos por uma carta que tinha chegado dois dias antes ao hotel e que desejava sorte ao Brasil no torneio. Assinado: dona Lúcia. Ela só lamentava, no final do texto, que Felipão não fosse mais o técnico. Foi quando um torcedor chileno conseguiu furar o bloqueio de seguranças. Aproximou-se de Willian já berrando. “Vocês tiveram sorte, muita sorte. Deveriam ter saído antes da Copa. E aquela bomba no travessão do Julio Cesar nas oitavas, hein, aos quinze do segundo tempo da prorrogação, no Mineirão?”. Neymar largou as malas no chão. Fez menção de partir para cima do hermano, que precisou ser escoltado até a rua. O nome da arena ecoou forte pelo saguão. MI-NEI-RÃO. MI-NEI-RA-ÇO. Thiago Silva soluçava, amparado pelo ombro de Jeferson, que tentava sossegar o zagueiro. “Tudo bem, tudo bem. Já passou. Você nem estava em campo. Calma”. A muito custo, a algazarra só seria controlada uma hora depois. Todos finalmente recolhidos, acomodados em seus quartos. Quando foi fechar a cortina, Fernandinho bateu sem querer o olho na placa da rua. Iluminadíssima. AVENIDA ALEMANHA. O médico foi chamado. O volante só conseguiu dormir sob doses cavalares de calmante. Às três da madrugada, o silêncio foi bruscamente interrompido pelos toques dos telefones nos quartos, um a um, em sequência. 1010, 1011, 1012... O funcionário da recepção avisava aos que atendiam sonados. “Senhores, tivemos repentina queda de energia. Pedimos desculpas. Acabou a luz”. David Luiz saiu correndo, tresloucado. “Apagão! Apagão! Apagão!”. Tropeções, empurrões, quedas nas escadas, portas de incêndio chutadas, urros guturais. “De novo não! Apagão de novo não!”. Reuniram-se todos no térreo, decididos a exigir a mudança de hotel. “Aqui não vamos ficar!. Foi quando notaram a ausência de Thiago Silva. Foi encontrado no final do corredor do sétimo andar, pálido, sentado numa bola. Catatônico. Olhando para o número do quarto. 71. [Crônicas boleiras, 13/6/2015] 


Assista agora Chico Bicudo no Superbatepapo:

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