Valas clandestinas em Perus |
"Quando a Argentina se olhou no espelho,
Marcelo Piñeyro
5 de março de 1953 - Buenos Aires
Cineasta argentino que aborda
em sua obra os anos de chumbo
de seu país.
O Brasil ainda não se olhou no espelho. E feito um Dorian Gray hedonista ainda tenta manter sua beleza intacta, buscando esconder o quadro cheio dos horrores de seu passado sob o manto das instituições democráticas de seu presente.
Todos os males estão lá, na Lei de anistia reafirmada pelo STF, anistiando torturadores; nos documentos secretos, escondendo as atrocidades dos agentes do estado contra o povo, confinados na legalidade sutil do carimbo de Sigilo eterno.
Todos os males estão lá, ocultados nos quartos escuros das sinistras mansões Dorianas que modernamente se transvestem em Palacetes e Delegacias do judiciário, suntuosos prédios de Ministérios e nos quartéis de fortalezas militares ultrapassadas. E tal qual o retrato também vertem sangue e envelhecem enrugando-se pelo insensível Gray, pelo insensível Brilhante, longe dos olhos e dos corações brasileiros.
O Brasil é feio? Não! O Brasil ainda não se convenceu de que, ao contrário do personagem de Wilde, o segredo de seu encanto está exatamente na retirada do lençol que encobre suas entranhas e não o deixa seguir adiante, enfrentando seus medos, aprendendo com seus erros e reconhecendo seus verdadeiros heróis, aqueles que num tempo sombrio corajosamente marcharam na cadência de um hino que clamava por ficar a Pátria livre ou morrer por ela.
O Brasil começou a jogar luz sobre o retrato e a mirar o espelho com a instalação da Comissão Nacional da Verdade.
Essa Comissão foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, com a finalidade de apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988.
No Estado de São Paulo também se instituiu a Comissão da Verdade estadual com o objetivo de promover a apuração e o esclarecimento público das graves violações de direitos humanos e agressões aos direitos da cidadania praticadas no período de 1964 a 1985.
A Zona Norte da cidade de São Paulo é uma região altamente militarizada que abriga o cemitério de Perus, a famosa Vala de Perus. Esse território, portanto, tem repercussão na história e no paradeiro de vários presos políticos, desaparecidos nas mãos da ditadura. Também é uma região que atualmente vive a cultura da violência oficial contra a população mais pobre de sua comunidade. Um vício gestado nos porões dos órgãos de repressão na época do militarismo.
Nesse terreno nebuloso foi onde o Motoboy, Eduardo Luiz Pinheiros, morreu com traumatismo craniano e hemorragia três horas após ser abordado por policiais militares e levado para a 1ª Companhia do 9º Batalhão, na Casa Verde. E onde o adolescente, Douglas Rodrigues, de 17 anos, foi morto com um tiro no peito disparado por policial da Força Tática, quando passeava com o irmão de 13 anos no Bairro do Jaçanã.
Mãe de Douglas, Rossana Souza — Foto: Rosane D'Agostino/G1 A Justiça informou que "o juiz o absolveu o PM por insuficiência de provas". |
Assim se perdem centenas de vidas e o retrato fica mais horroroso dia após dia.
Lembrar e debater a democracia, desvendar o Regime Ditatorial, dar ciência aos mais jovens de que quem amou seu País jamais o deixou; é garantir um futuro de Paz, de respeito aos direitos humanos e de cidadania plena.
Portanto, ao fazer a reflexão desse tema nesse momento, pouco mais de meio século depois dessa verdadeira diáspora brasileira, cada um de nós estará colaborando para pintar um quadro eloquente da beleza desse esplendoroso Brasil, onde o Sol da liberdade pode e deve nascer para todos - todos os dias - e assim estaremos assegurando que a aurora de nossa democracia não seja impedida de brilhar com seus raios fulgidos num futuro próximo.
RECOMENDAÇÃO SBP
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