AO SOM DA TRADICIONAL CANÇÃO JULINA: FOGO NOS FASCISTAS!
Por: Douglas N. Puodzius
Todos sabem que 24 de julho é
data própria para se opor ao ódio e empreender ativismo social contra genocidas,
como o é qualquer dia e hora de vida para quem luta por estabelecer na
sociedade valores mais elevados de humanitarismo.
Pois muito bem... Foi nesse dia que, enquanto milhões de pessoas engajadas num protesto cívico contra facínoras e fascistas saiam as ruas Brasil afora, nas paragens de Santo Amaro se acendeu uma grande fogueira para lembrar os assassinatos de negros e indígenas cometidos pelo Capitão do mato, São Borba Gato.
O Santo Borba Gato era um bandoleiro
usado pelo invasor Português para espoliar o povo brasileiro. Ele saqueava os
lugarejos em nome da coroa e não media esforços para obter também para si
propriedades e riquezas da terra brasilis, principalmente, dotadas de minas de
ouro e prata. E nesse desvio, o ladrão sempre
foi apoiado pela igreja, razão pela qual, a cada sucesso de suas empreitas
criminosas, dedicava fartas orações ao Senhor Deus cristão e não esquecia de prover
ricos dotes para encher as burras dos templos que se estabeleciam no novo continente.
A pratica delituosa era meio de
vida já estabelecido na família de São Borba, tendo ele herdado do sogro; São Fernão
Dias Paes, o patrimônio que este acumulara durante vários anos de saques e delinquência
cometidos contra os legítimos donos das terras e trabalhadores submetidos a um
regime escravocrata.
O nexo criminoso era tão entranhado
nas relações que, para solucionar as pendengas, até mesmo entre sua gente, o
Santo não titubeava em resolve-las através da morte, como era o costume. E
nesse caso, embora o problema tenha se apresentado sob tutela da própria coroa,
ele não pensou muito antes de assassinar a sangue frio o Fidalgo Dom Rodrigo de
Castelo Branco. O homem da corte lhe apresentara autorização expressa por El
Rey, para o novo governante retirar-lhe as minas. Embora, a ordem se apoiasse
na estranha alegação de que, Borba – o gatuno - tungara a propriedade de outrem
sem a devida obediência à burocracia que regrava o saque, o Fidalgo seguiu destino
reservado a qualquer um disposto a roubar do Santo aquilo que ele tomara do
povo – com ou sem boa justificativa.
Por óbvio, como é próprio dos
costumes da elite branca, o crime ficou impune e São Borba logo recebeu o
perdão de Vossa Majestade, visto que os interesses pelo que ele rendia através
de suas habilidades na gatunagem era bem maior do que a perda de tempo inútil defendendo
causas apoiadas em um hipotético valor absoluto consignado a qualquer vida
humana.
Não se tem precisão do momento de
canonização de Borba Gato. Sabe-se apenas que em algum tempo da história,
através dos ardis pusilânimes utilizados para reescrever seu passado inglório
na formação de nosso país, a elite branca elevou esse funesto personagem a
condição de grande bandeirante, desbravador dos sertões e herói lendário, tido atualmente
no panteão das figuras icônicas, com status de modelo que inspirou o espírito
empreendedor dos paulistas.
De fato, faz todo sentido a
concessão deste lugar de honra a São Borba, pois, o personagem simboliza o que
em verdade está posto na constituição de nossa nação e o que em concreto se
observa no dia a dia de nosso povo. A sociedade depauperada e vilipendiada pela
sanha da casta abastada deste estado e que assim se conserva como terra
explorada, mantendo-se intocadas as estruturas coloniais que operam na
administração e as submetendo à razão escravocrata que rege a relação capital
trabalho no Brasil.
Na outra face dessa moeda Gatuna
sempre esteve o cidadão, aquele que bem vivia de sua terra e de seu trabalho
antes da chegada do grande bandeirante, e se viu alijado de tudo e posto em correntes
para apenas servir aos desejos mais mesquinhos de El Rey e seus apaniguados. Então,
no que concerne a elite branca, muito bem se conforma o título honorifico de
São Borba, entretanto, ao trabalhador paulista, pelo contrário, expressa-se
através dele o horror a que foram submetidos os seus antepassados e lembra o
motivo de ainda hoje persistir o sofrimento.
Esse foi o sentido do 24 de julho
deste corrente ano, quando se acendeu a pira utilizando como combustível um
enorme monumento erigido pela elite branca para homenagear o algoz. Fazer jus a
memória daqueles condenados ao mal destino em suas mãos e lembrar que a luta para
dar fim a essa agonia é dever de todos aqueles submetidos ao regime de
espoliação ainda operante em nossa terra.
Infelizmente a bela fogueira com as
labaredas fulgurantes, que iluminaram o paço em Santo Amaro, já nas primeiras
horas da manhã, queimaram solitárias. Era de se esperar que a jagunçada não
permitisse uma reunião a caráter para apreciá-la nos conformes da festa;
degustando milho cozinho, pinhão, paçoca e outras iguarias típicas dessas
ocasiões, bebendo quentão ou vinho quente ao som de moda de viola. Contudo, o
registro foi feito de diversos ângulos guardando em vídeo ou em fotos a
grandiosidade do espetáculo e circulo nas redes sociais ilustrando, por um
lado, o descontentamento da elite branca com o feito e, de outro, a conveniência
de produzir tal evento no contexto atual.
Independente das posições nessa última
discussão, é evidente que o simbólico tem sua importância e que é desejo desta
nossa geração haver no futuro alguéns com a mesma coragem para acender outra
fogueira memorial. E desta vez, o combustível será fornecido pela estátua do bandoleiro
que ocupa a presidência e a quem, certamente, a elite branca não abrirá mão de
homenagear com um momento não menos glamuroso daquele de São Borba. Torcemos, para
que, nesse dia do porvir, possa o povo reunir-se no entorno para aproveitar a
festança, pois, este será finalmente um povo livre - o povo que sonhamos.
Salve o povo brasileiro!
RECOMENDAÇÃO SBP
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