domingo, 25 de julho de 2021

FESTAS JULINAS: PAULISTAS LEMBRAM SÃO BORBA COM ENORME FOGUEIRA MEMORIAL

 

O POVO BRINCOU E DANÇOU QUADRILHA EM VOLTA DA FOGUEIRA 

AO SOM DA TRADICIONAL CANÇÃO JULINA: FOGO NOS FASCISTAS!

Por: Douglas N. Puodzius

Todos sabem que 24 de julho é data própria para se opor ao ódio e empreender ativismo social contra genocidas, como o é qualquer dia e hora de vida para quem luta por estabelecer na sociedade valores mais elevados de humanitarismo.


Pois muito bem... Foi nesse dia que, enquanto milhões de pessoas engajadas num protesto cívico contra facínoras e fascistas saiam as ruas Brasil afora, nas paragens de Santo Amaro se acendeu uma grande fogueira para lembrar os assassinatos de negros e indígenas cometidos pelo Capitão do mato, São Borba Gato.

O Santo Borba Gato era um bandoleiro usado pelo invasor Português para espoliar o povo brasileiro. Ele saqueava os lugarejos em nome da coroa e não media esforços para obter também para si propriedades e riquezas da terra brasilis, principalmente, dotadas de minas de ouro e prata.  E nesse desvio, o ladrão sempre foi apoiado pela igreja, razão pela qual, a cada sucesso de suas empreitas criminosas, dedicava fartas orações ao Senhor Deus cristão e não esquecia de prover ricos dotes para encher as burras dos templos que se estabeleciam no novo continente.

A pratica delituosa era meio de vida já estabelecido na família de São Borba, tendo ele herdado do sogro; São Fernão Dias Paes, o patrimônio que este acumulara durante vários anos de saques e delinquência cometidos contra os legítimos donos das terras e trabalhadores submetidos a um regime escravocrata.

O nexo criminoso era tão entranhado nas relações que, para solucionar as pendengas, até mesmo entre sua gente, o Santo não titubeava em resolve-las através da morte, como era o costume. E nesse caso, embora o problema tenha se apresentado sob tutela da própria coroa, ele não pensou muito antes de assassinar a sangue frio o Fidalgo Dom Rodrigo de Castelo Branco. O homem da corte lhe apresentara autorização expressa por El Rey, para o novo governante retirar-lhe as minas. Embora, a ordem se apoiasse na estranha alegação de que, Borba – o gatuno - tungara a propriedade de outrem sem a devida obediência à burocracia que regrava o saque, o Fidalgo seguiu destino reservado a qualquer um disposto a roubar do Santo aquilo que ele tomara do povo – com ou sem boa justificativa.

Por óbvio, como é próprio dos costumes da elite branca, o crime ficou impune e São Borba logo recebeu o perdão de Vossa Majestade, visto que os interesses pelo que ele rendia através de suas habilidades na gatunagem era bem maior do que a perda de tempo inútil defendendo causas apoiadas em um hipotético valor absoluto consignado a qualquer vida humana.

Não se tem precisão do momento de canonização de Borba Gato. Sabe-se apenas que em algum tempo da história, através dos ardis pusilânimes utilizados para reescrever seu passado inglório na formação de nosso país, a elite branca elevou esse funesto personagem a condição de grande bandeirante, desbravador dos sertões e herói lendário, tido atualmente no panteão das figuras icônicas, com status de modelo que inspirou o espírito empreendedor dos paulistas.

De fato, faz todo sentido a concessão deste lugar de honra a São Borba, pois, o personagem simboliza o que em verdade está posto na constituição de nossa nação e o que em concreto se observa no dia a dia de nosso povo. A sociedade depauperada e vilipendiada pela sanha da casta abastada deste estado e que assim se conserva como terra explorada, mantendo-se intocadas as estruturas coloniais que operam na administração e as submetendo à razão escravocrata que rege a relação capital trabalho no Brasil.

Na outra face dessa moeda Gatuna sempre esteve o cidadão, aquele que bem vivia de sua terra e de seu trabalho antes da chegada do grande bandeirante, e se viu alijado de tudo e posto em correntes para apenas servir aos desejos mais mesquinhos de El Rey e seus apaniguados. Então, no que concerne a elite branca, muito bem se conforma o título honorifico de São Borba, entretanto, ao trabalhador paulista, pelo contrário, expressa-se através dele o horror a que foram submetidos os seus antepassados e lembra o motivo de ainda hoje persistir o sofrimento.

Esse foi o sentido do 24 de julho deste corrente ano, quando se acendeu a pira utilizando como combustível um enorme monumento erigido pela elite branca para homenagear o algoz. Fazer jus a memória daqueles condenados ao mal destino em suas mãos e lembrar que a luta para dar fim a essa agonia é dever de todos aqueles submetidos ao regime de espoliação ainda operante em nossa terra.

Infelizmente a bela fogueira com as labaredas fulgurantes, que iluminaram o paço em Santo Amaro, já nas primeiras horas da manhã, queimaram solitárias. Era de se esperar que a jagunçada não permitisse uma reunião a caráter para apreciá-la nos conformes da festa; degustando milho cozinho, pinhão, paçoca e outras iguarias típicas dessas ocasiões, bebendo quentão ou vinho quente ao som de moda de viola. Contudo, o registro foi feito de diversos ângulos guardando em vídeo ou em fotos a grandiosidade do espetáculo e circulo nas redes sociais ilustrando, por um lado, o descontentamento da elite branca com o feito e, de outro, a conveniência de produzir tal evento no contexto atual.

Independente das posições nessa última discussão, é evidente que o simbólico tem sua importância e que é desejo desta nossa geração haver no futuro alguéns com a mesma coragem para acender outra fogueira memorial. E desta vez, o combustível será fornecido pela estátua do bandoleiro que ocupa a presidência e a quem, certamente, a elite branca não abrirá mão de homenagear com um momento não menos glamuroso daquele de São Borba. Torcemos, para que, nesse dia do porvir, possa o povo reunir-se no entorno para aproveitar a festança, pois, este será finalmente um povo livre - o povo que sonhamos.

Salve o povo brasileiro!

RECOMENDAÇÃO SBP


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