Sobre Lula já diziam que: “Se fica solto; torna-se Presidente, se o prendem; vira Herói e se o matam; vive como Mito”.
Por: Douglas N. Puodzius
À primeira vista o confuso senso
nos remete a classificar o dito como uma frase feita por e para Lulistas fanáticos.
Acontece que o adágio supostamente idílico com relação a Lula, vem se confirmando
no tempo desde quando o homem, outrora encarcerado em Curitiba, foi tomando seu
lugar de herói injustiçado, referendando o epiteto que assim o previa, quando na
condição de prisioneiro. E não menos agora quando, solto, galga degraus mais elevados
de popularidade nas pesquisas que investigam as condições dos postulantes ao
posto de presidente do Brasil e, novamente, vai tornando realidade aquilo que dele
se dizia caso o deixassem agir com liberdade.
Subsiste, contudo, no vasto mundo
da esquerda, as vozes leoninas que trazem os selos reveladores das dissidias que
estão no porvir e defendem que o prenuncio da epopeia ufanista contida na maldita
sentença lulista se sustenta apenas dentre os apaixonados seguidores do ex presidiário
herói. Entretanto, é bom lembrar que esse tempo que passa e que comprova o
dito, também cobra uma posição definitiva da esquerda sobre Lula, para que seja
possível avançar com unidade na luta contra o fascismo e o neoliberalismo, que
é o que de fato deveria interessar ao campo progressista.
A verdade é que os eventos vão se
desenrolando e se constituindo em realidade que estapeia os argumentos daqueles
que por ignorância, teimosia ou pior, por interesses mesquinhos se apegam a fantasias
que versam sobre a possibilidade de enfrentar 2022 carregando um fardo paraguaio
revestido com plumas e paetês intelectualóides, que se insurge como
representante de uma terceira via fajuta ou cavalgando ao lado de qualquer
cavaleiro usando uma armadura de lata e que, quixotescamente, aos brados exija
para si a liderança de uma esquerda impotente.
O que a direita bem sabe o que
muitos na esquerda dita revolucionária ignora e deveria saber: é que em 26 de
julho de 1953, dentre os 133 combatentes que investiram contra o Quartel Moncada, não havia nenhum comunista, ninguém sonhava com
uma grande pátria socialista ou qualquer coisa do tipo, tratava-se tão somente
de uma luta pela soberania de Cuba, pela liberdade de um povo. E acreditem, sabem
bem os pensadores da direita, que o primeiro país para o qual os
revolucionários estenderam a mão solidária foi para os Estados Unidos. E mais,
também sabem que o não reconhecimento americano do novo governo cubano e pior,
as investidas contra este para reinstalar a ditadura, foram responsáveis por
encaminhar Fidel e seus camaradas para a instituição de um estado socialista na
ilha.
Meio século depois daquele fatídico
movimento, diante de uma Cuba livre, soberana e socialista, Fidel foi enfático
ao declarar: “não haveria revolução sem Moncada”. E paradoxalmente,
naquele dia, de 1953, a tentativa de tomar o quartel foi um fracasso que resultou
em seis mortes e na prisão de praticamente a metade do contingente guerrilheiro
que se dispusera a seguir com Fidel, Rui e Abel Santamaría.
Lula é o pacato cidadão que,
assim como o advogado Fidel, partiu da posição de presidente, que só pretendia
garantir três refeições diárias para seu povo, lançando-se desde o calabouço em
Curitiba para ocupar seu lugar de liderança numa cruzada em defesa da soberania
do País, como ele mesmo já repetiu mil vezes.
A proposta de Lula, quando centraliza
o discurso no tema da soberania, traz em essência o gatilho revolucionário Moncadista.
Acontece que se parece impossível pensar sobre revolução neste país, um tanto
de fomento a coragem revolucionária se encontra em Lula.
Lula então é quem a elite teme de
verdade, simplesmente porque sabe das coisas, que muitos da esquerda recusam aceitar.
Lula é sim um negociador, um conciliador, isso ele aprendeu na vida, mas, antes
desse jeito paz e amor, ele é e continua sendo um nordestino arretado. E se ele disser “Não!” a elite sabe que
a promessa de – “ir, mas levar pelo menos um” - deve ser levada a sério
e pode ser consumada.
Então, para entender porque Lula
é sim a única esperança para esquerda, faz-se necessário reler o aviso com mais
cuidado e tanto quanto a elite, levar a sério suas premissas e conclusões: “Se
fica solto; torna-se Presidente, se o prendem; vira Herói e se o matam; vive
como Mito”.
Por enquanto, nessa luta contra a elite, a esquerda já decidiu por continuar restrita à sua luta institucional e assim determinou que a vitória passa por ocupar a presidência. Lula está solto. Não percamos mais tempo em busca de nomes que não existem. A esperança branca já caiu de quatro no início do século XX e a hora não se presta para desperdiçar energia com fetiches. Partamos então para a ação, pois, o tempo nos cobra essa responsabilidade.
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