Por: Ricardo Santoro
Esse amor não é exclusivo ao tio do churrasco que no momento enverga sem nenhum garbo a faixa presidencial. Não nos esqueçamos também do juiz “Batman” com ares de vingador paladino da lei, ou de outro colega de toga com noção de justiça seletiva, ainda amado por parte dos indignados da Paulista, os adoradores do pato amarelo da FIESP. Mas, durante essa crise pandêmica, estamos colecionando tipos, nem tão raros, com uma rapidez - quase como acontece com a moda de roupas, utensílios e eletroeletrônicos.
Bom exemplo dessas figuras é de ex-ministros da saúde que passaram a ser amadas e despontam como guardiões da correção política e profissional e, inclusive, sonhando em ser uma “terceira via” na sucessão presidenciais. Aliás, é bom que se diga; o fato de terem sido bolsonaristas de primeira hora, tendo participado da campanha eleitoral do Coiso, é um fato esquecido rapidamente por eles e por seus defensores.
Nessa semana tivemos o surgimento de mais uma personagem heroica, uma infectologista que rapidamente fez parte da equipe do Ministério da Saúde, portanto do governo, no combate à pandemia.
Nas suas declarações na CPI da COVID, colocou-se contra as atitudes dos atuais mandatários em relação ao combate e prevenção, e principalmente, ao chamado “tratamento precoce”, popularmente, identificado pela Cloroquina e Cia. Foi o gatilho para ser alçada como figura admirável e correta.
Não entro aqui na discussão sobre a capacidade e formação da médica, que parecem inegáveis. A doutora possui realmente – ao contrário dos ocupantes do ministério do Inominável - patrimônio intelectual para saber o que afirmou. O interessante é louvarmos que uma médica pratique seu ofício com base no que a ciência moderna orienta, como se exercer uma profissão corretamente e com seriedade fosse uma exceção moral. Bom, nesse governo acaba sendo mesmo.
E o que mais incomoda em tudo isso é que bastou um posicionamento profissional sério para que mais uma vez se esquecesse de que essas pessoas faziam parte do governo e que, portanto, concordavam com os direcionamentos políticos e econômicos da gestão atual.
Mesmo que não concordem com o presidente na questão específica da COVID, não me parecem discordantes dos direcionamentos de uma política econômica e social excludente e protetora de uma elite, do qual essas pessoas fazem ou querem fazer parte.E pior. Boa parte da mídia segue pelo mesmo caminho: o ex-ministro da saúde é herói, o presidente é vilão. Enquanto isso um certo ministro da área econômica, responsável por um programa de desmanche, empobrecimento e exclusão da maior parte dos brasileiros é seletivamente poupado de qualquer crítica. Aliás, é apagado de qualquer notícia negativa.
E embalados em mais de 2000 mortes diárias, seguimos no desmantelamento social que foi chancelado em cada voto ou abstenção que serviram para eleger essa malta política irresponsável.
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