terça-feira, 1 de junho de 2021

CEM ANOS DO MASSACRE DE TULSA


Tulsa, cidade estadunidense de Oklahoma, possuía em 1921 aproximadamente cem mil habitantes. Nessa cidade, como em boa parte do sul e de alguns estados do oeste dos EUA, havia leis discriminatórias,, que praticamente proibia os negros de votar, de participar de um júri de um julgamento e reservava aos brancos a maioria dos cargos públicos melhores remunerados. Eram as odiosas “Leis Jim Crow”, que garantiam a supremacia dos homens brancos sobre os negros, mas que não necessariamente sua riqueza e prosperidade.

A expansão petrolífera havia atraído pra a região mencionada muitos negros, que em razão da segregação institucional – brancos e negros eram proibidos de residir em bairros em que houvesse dois terços de outra etnia – agrupavam-se majoritariamente num bairro chamado Greenwood, que não obstante o racismo e as ameaças constantes aos negros realizadas pela famigerada Ku Klux-Klan, particularmente ativa na cidade e no estado, era um distrito próspero, bem distante da realidade dos guetos negros que se formavam em muitas cidades norte-americanas na década de 1920.

Muitos afrodescendentes possuíam seus próprios negócios. Havia uma classe média negra bem sucedida formada por profissionais liberais como médicos, dentistas, advogados e contadores. Havia ainda em Greenwood cinemas, livrarias e diversos estabelecimentos comerciais que pertenciam a homens e mulheres negras. A prosperidade dos afrodescendentes despertava a ira e a inveja dos brancos pobres da cidade. O bairro negro de Tulsa era chamado a “Wall Street Negra”, numa referência à famosa rua de Nova Iorque, onde se concentra até os dias atuais o poder financeiro dos EUA.•.
No dia 30 de maio de 1921 um jovem afrodescendente chamado Dick Rowland tomou um elevador num prédio no centro de Tulsa – o único que possuía um banheiro para o uso do de negros, quando foi acusado – ao que tudo indica de maneira falsa – de agredir uma jovem ascensorista branca. Rowland foi preso e uma multidão de brancos ameaçava linchá-lo. É necessário esclarecer que linchamentos de criminosos reais ou imaginários eram comuns em alguns estados norte-americanos nessa época. Turbas, instigadas por desocupados e provocadores, sempre se movimentavam quando algum crime – real ou imaginário – indignava os chamados “cidadãos de bem”. No sul das “Leis Jim Crow” os linchamentos de afrodescendentes, não necessariamente criminosos, eram tão comuns que nem mesmo mereciam as primeiras páginas dos jornais. Ou seja, era o reino da barbárie.

No verão de 1919 diversos tumultos raciais ocorreram em algumas cidades norte- americanas. Brancos e negros, desmobilizados do exército após a Primeira Grande Guerra disputavam trabalho nas fábricas e no comércio, o que gerava tensões raciais e aproveitadores racistas instigavam os brancos miseráveis a atacar trabalhadores negro, igualmente miseráveis em sua maioria. Em 1919 ocorreram tumultos em Chicago, Boston e Washington. Os fizeram parte daquilo que ficou conhecido como “Red Summer”. Dezenas de afrodescendentes foram assassinados com a complacência das autoridades, muito frequentemente associadas ou simpatizantes da Klan e de outros grupos supremacistas. Mas nada se igualou a Tulsa.

Homens negros, muitos deles veteranos da Primeira Guerra, armados, dirigiram-se á cadeia da cidade no dia 31 para proteger Rowland da malta de desordeiros. Um dos dois jornais brancos da cidade, o “Tulsa Tribune”, havia instigado a massa contra o jovem negro, aumentando a história da agressão para tentativa de estupro e assalto.

Não se sabe exatamente como começou o conflito. Testemunhas disseram que o xerife da cidade convenceu os afrodescendentes armados a se desmobilizar, pois garantiu que tinha tudo sobre controle. Mas um tiro foi disparado e iniciou um tiroteio entre brancos e negros que matou dez brancos e dois afrodescendentes. Foi a senha para o massacre.

Nos dois dias subsequentes milhares de brancos armados marcharam sobre o bairro negro destruindo tudo, não poupando homens, mulheres ou crianças. O ataque, realizado por terra e com aeronaves privadas – primeiro e talvez único ataque militar aéreo sobre uma população civil que se tem notícia nos EUA -, destruiu mais de 35 quarteirões e cerca de 10.000 negros ficaram desabrigados. Os danos materiais totalizaram mais de US $ 1,5 milhão em imóveis e US $ 750.000 em bens pessoais (equivalente a US $ 32,65 milhões em 2020).

O número de mortos é motivo de controvérsia até os dias de hoje, Embora oficialmente tenham sido contabilizados 39, as estimativas chegam a 300, na sua maioria afrodescendentes, tendo os sobreviventes abandonado a cidade em grande número.

Essa é uma história que permaneceu soterrada ao longo dos anos. Brancos e negros de Tulsa recusavam-se a discutir o assunto durante décadas.. Apenas em 1996, setenta e cinco anos após o massacre, uma comissão resolveu investigar o ocorrido, procurando reparar com indenizações os descendentes das pessoas mortas em 1921 e criar um parque em memória das vítimas do massacre em Tulsa, que foi inaugurado em 2010.

Aliás, a história do massacre tornou-se amplamente – e internacionalmente – conhecida graças à série Watchmen da HBO (1919), que faz menção ao trágico evento histórico no seu primeiro episódio. .

Pois é. Deus salve a América. Pois o diabo tem feito um bom trabalho há centenas de anos.

Ouça o podcast: Bancada Preta - Consciência Negra
A galera do programa Super Bate papo conversa com o pessoal da plataforma política “Bancada Preta”, que tem como objetivo eleger candidaturas pretas na Câmara Municipal de São Paulo e em outras cidades. É um esforço coletivo em prol de um projeto estratégico político organizado a partir de plenárias abertas a toda população da cidade, no contexto de uma iniciativa puxada pela Nova Frente Negra Brasileira, Rede Quilombação e Frente Favela Brasil.”

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