A Ford anunciou, no dia 11, o fim da produção de veículos no Brasil. A decisão levou ao encerramento imediato das atividades nas instalações de Camaçari (BA) e Taubaté (SP), mantendo apenas a produção de peças para estoque, enquanto a produção de jipes Troller serão mantidas apenas até o último trimestre de 2021 em Horizonte (CE).
A Ford disse que fecharia suas fábricas no Brasil este ano, duas delas imediatamente, e assumiria encargos antes dos impostos de cerca de US $ 4,1 bilhões, uma vez que o governo não conseguiu lidar com a pandemia COVID-19 que ampliou a subutilização da capacidade de produção da empresa.São milhares de trabalhadores que ficarão desempregados no Brasil e na Argentina, além dos milhares atingidos indiretamente com as demissões.
Júlio Bonfim, Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari |
Segundo o presidente Júlio Bonfim, do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, 12 mil trabalhadores da Ford perderão seus empregos. No entanto, em seu discurso, parece que o problema das demissões teria sido resolvido com uma negociação entre os patrões e os operários:
“O encerramento pegou todos de surpresa. Após quase duas décadas lucrando em Camaçari, a Ford fecha as portas sem nenhuma negociação, numa situação lamentável e de completo desrespeito com os milhares de trabalhadores”
A mesma perplexidade quanto ao posicionamento anunciado pela montadora demonstra Claudio Batista, do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté e Região (Sindmetau), que afirma em nota que a decisão da Ford teria sido “unilateral” e “sem qualquer negociação com o Sindicato”.
Essa é a mesma postura vacilante das direções do movimento operário que levou em 2019 ao fechamento da fábrica Ford em São Bernardo do Campo (SP). Na época, os dirigentes sindicais propunham uma campanha de boicote: “Não compre um Ford até que a empresa decida ficar em SBC”. Wagnão, do PT, e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na reunião em que participou junto a direção da montadora nos EUA, chegou a propor ajudar a empresa a encontrar um comprador, a colaborar com a burguesia para “proteger” os empregos. É o que explica o artigo publicado pela Esquerda Marxista denunciando a postura destes dirigentes.
A experiência da Cipla, em 2002, serve de exemplo para o que deve ser feito quando o patrão ameaça fechar uma fábrica. A empresa, localizada em Joinville, tinha mais de 1.200 trabalhadores e foi ocupada. Formou-se um Conselho de Fábricas em que os próprios trabalhadores decidiam o que deveria ser feito. Este foi o início do Movimento das Fábricas Ocupadas tornando-se a prova da grande capacidade de luta dos trabalhadores.
No entanto, até o momento, as grandes lideranças da esquerda que poderiam se posicionar por greve e ocupação de todas as fábricas da Ford, sob controle dos próprios trabalhadores, desviam da luta e adotam como exemplo o governo de Alberto Fernandez na Argentina que parece ser um lugar melhor para um capitalismo mais “ameno”, onde a Ford deverá continuar normalmente explorando os trabalhadores. É o que demonstra Guilherme Boulos em publicação através do Twitter:
“Ford vai fechar todas as suas fábricas no Brasil. Vai manter produção na Argentina e no Uruguai. Então um impeachment, um teto de gastos, uma reforma trabalhista e outra da previdência não são suficientes para manter a ‘confiança’ nos empresários?”
Em outras palavras, Boulos cobra de Bolsonaro uma coerência com o liberalismo, ironiza com sua figura, mas em nenhum momento propõe um combate contra a burguesia. Curiosamente, semelhante posicionamento sobre a questão tem o apresentador de televisão Luciano Huck, representante da direita política:
“A Ford, uma das maiores montadoras do mundo, deixa o Brasil pra se manter na América do Sul só no Uruguai e na Argentina. Lá se vão mais de 5 mil empregos por aqui. Sobra descoordenação e falta confiança no país. É efeito da pandemia também, mas é sim ausência de liderança.”
O problema é que o capitalismo não tem fronteiras e as mesmas demissões que se aplicam no Brasil também se aplicam em outros países. A Ford é apenas um dos exemplos, mas vale lembrar que em maio do ano passado a direção da Renault decidiu demitir 15 mil funcionários em todo o mundo. Enquanto, no mesmo mês, a Nissan anunciava o fechamento de fábricas na Espanha e Indonésia.
A Ford obteve lucro líquido de US$ 1,1 bilhão no segundo trimestre de 2020, mostrando um alta em comparação ao lucro de US$ 100 milhões neste mesmo período no ano de 20191. Essa é a tendência do mercado capitalista, a de ampliar a taxa de lucro à custa da vida dos trabalhadores ao redor do mundo, levando milhões à fome e à miséria.
Em 2018, o diretor financeiro da montadora, Bob Shanks, já havia sinalizado a possibilidade do fechamento de fábricas da América do Sul, mostrando grande preocupações com o aumento dos lucros:
“Nosso negócio na América do Sul carece de uma forte posição competitiva de pilares de lucro (…). Não obtivemos um retorno adequado sobre o investimento no ciclo econômico mais recente, que vai de 2004 até o presente. Por essas razões, estamos avançando em um redesenho significativo de nosso modelo de negócios com foco em onde jogar e como ganhar.”2
Jogar e ganhar, neste caso, só tem um significado: atacar os trabalhadores nem que isso os leve à morte. Parece exagero, mas não é. Essa é a lógica do sistema capitalista que durante a pandemia da Covid-19 não tem poupado os trabalhadores de mais ataques.
O fechamento das fábricas da Ford, e a demissão dos trabalhadores, precisa ser combatido com luta, greve e ocupação. Não há outra saída, somente a ocupação da fábrica sob controle operário pode apontar para a emancipação real dos trabalhadores.
Esse é caminho de luta contra toda a burguesia, no Brasil e no mundo.
- Tirem as mãos dos nossos empregos!
- Contra demissão: ocupação!
- Ocupar e produzir sob controle dos trabalhadores!
- Estatização de todas as fábricas da Ford e garantia dos empregos!
- #Fora Bolsonaro! Por um governo dos trabalhadores, sem patrões nem generais!
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