quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

A CULPA É DO POVO?


Por Prof. Benedito Carlos do Santos

Nós todos conhecemos o velho chororô de que “O povo é burro”, “O povo não sabe votar” e outras platitudes. Então, proponho essa reflexão aos jovens de esquerda que tanto se esforçaram nessas eleições e talvez estejam pela primeira vez concluindo nessa direção. 

Claro, não desejo conversar com a direita fascista bozoasnática. Dessa não espero nada mesmo. Ou melhor, espero tudo. De ruim! Estou me referindo aos supostos progressistas, que tem nos últimos dias mimetizado o discurso retrógrado que deveria ser exclusivo da direita e não deveria fazer parte do vocabulário de gente supostamente esquerdista. Ou eleitora de partidos de esquerda.

Eu sei. Derrotas eleitorais são frustrantes. Principalmente quando a gente tem certeza de que o nosso campo tem mais empatia com os pobres, ideias transformadoras e uma visão humanista acerca da gestão pública.

O coronel Aureliano Buendía, icônico personagem do livro de Gabriel Garcia Marquez, “Cem anos de Solidão”, promoveu trinta e duas revoluções e foi derrotado em todas elas. O coronel Buendía certamente é uma metáfora das diversas causas perdidas no nosso continente, revolucionárias ou não. 

Você está chateado com o resultado das eleições de novembro? Imagine a raiva de quem lutou pela democracia contra a ditadura militar apenas para ver o fim da ditadura desembocar na presidência de José Sarney. Ou capachos tecnocratas dos milicos como Roberto Campos – o célebre Bob Fields – serem elevados à categoria de herói do pensamento liberal pela sabujice da mídia corporativa. Ou um adorador de miliciano render homenagem no congresso a assassinos a soldo do regime castrense. E ainda chegar à presidência da república!


Imagine agora um norte-americano da “Old School”, que marchou contra a guerra do Vietnam e em favor dos direitos civis, ter que suportar governos como os de Ronald Reagan, dois idiotas da família Bush e ainda o famigerado Donald Trump. Agora imagine um velho operário inglês, eleitor do Labour Party, que teve que suportar o massacre contra a classe trabalhadora engendrado pela “Dama de Ferro”, Margaret Thatcher e logo depois ainda ter que conviver com a trairagem de Tony Blair, que converteu a Grã Bretanha num parceiro subalterno das aventuras belicistas dos EUA.

Então, meninos e meninas desculpem se esse velho socialista não está morrendo de pena de vocês que perderam uma eleição municipal! 

Entendo e respeito a frustração. Mas isso não lhes concede o direito de lançar aos ares – nas redes sociais - generalizações burras. Esse “povo” a quem vocês agora impingem o epíteto de burro, elegeu duas vezes Lula, duas vezes Dilma e vários prefeitos e governadores que pertenciam a partidos progressistas. Que muitas vezes trancaram-se em gabinetes refrigerados, privilegiaram a ação parlamentar e conchavos espúrios com forças sinistras e conservadoras.

= Já viram algo assim acontecer?


E, finalmente, caso vocês não tenham notado, mulheres, gente do povo preto, trans e militantes LGBTQI se elegeram com votos nas quebradas, desafiando pastores, milicianos e a grana abundante de políticos profissionais do embuste e da compra de votos.  Sim, com o voto do “povo burro”. Depreciar o tal “povo” é, no mínimo, uma falta de respeito com o trabalho e a abnegação desses companheiros e companheiras.

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