Não me digam, por favor, que Pelé não era um um ser humano exemplar. Ele não era mesmo. Sempre relevou o racismo existente no Brasil, eximiu-se de opinar politicamente na época da ditadura militar, isso quando não deu declarações canalhas como a que brasileiros não sabiam votar. Deixou de reconhecer uma filha legítima e envolveu-se, como empresário, em negócios suspeitos.
Por: Benedito Carlos dos Santos - Prof. de História
— Hélio Ricardo (@helioricardorio) December 29, 2022
Mas eu não vejo as pessoas julgar Pablo Picasso pelas relações abusivas que teve com as mulheres de sua vida ou John Lenon por ter sido um péssimo (e abusivo) esposo para a sua primeira mulher e um péssimo pai para Julian, seu filho primogênito. Ou Nelson Rodrigues por ter apoiado a ditadura.
Sim, Pelé, na vida cotidiana era feito de carne e osso e tinha enormes defeitos. Mas, qual era mesmo seu ofício? Ah, sim, ele jogava futebol!
O Brasil é um país curioso. Cobramos um monte de coisas de jogadores de futebol, sobretudo dos jogadores negros, mas muitos idolatram políticos venais que deveriam representar o povo, que são remunerados com dinheiro público para tanto. Alguns desses políticos são até chamados de "mitos"!
Exige-se também muito menos de personalidades, de artistas ou de jogadores brancos.
E no caso de Pelé, ele ousou enriquecer! Onde já se viu!! Eu me lembro quando Garrincha morreu. Pobre e alcoólatra, foi insensado pelos hipócritas que adoram um ídolo popular caído e decadente. O capitalismo brasileiro, afinal, não é feito pra preto e pobre. E à direita e à esquerda não são poucos romantizam a pobreza alheia.
Amamos ídolos que morrem na miséria. Destino normal para a carne preta, aquela que é a mais barata do mercado. E para o cérebro negro, que apodrece em presídios e manicômios.
Paulo César Caju era articulado, posicionava-se sobre raça e política e era massacrado pela mídia esportiva calhorda. Sócrates e Vladmir, líderes da Democracia Corintiana, eram chamados de comunistas e baderneiros.
Pelé, dentro das quatro linhas, foi o que Da Vince e Picasso foram para as artes, James Joyce para a literatura e Michael Jordan para o basquete. Um talento daqueles que surgem um em cada século, quando muito. Mas tinha dos defeitos: era negro e brasileiro. E um terceiro adicional: enriqueceu com o próprio talento.
Os adeptos do viralatismo, agora com pitada de revoltazinha infanto-juvenil, resolveram torcer para a Argentina na última Copa do Mundo. E os que não viram Pelé jogar insistem em comparar Messi com ele. Como diria Caetano em 1968, vocês não entenderam nada! A cada vinte ou trinta anos os argentinos elegem algum boleiro que dizem ser melhor do que Pelé. Já nomearam antes Di Stéfano e Maradona. Pois é.
Em 1963, final da Libertadores da América entre Santos e Penarol realizado em Buenos Aires, uma plateia argentina enlouquecida, hipnotizada por mais uma exibição brilhante, deixou Pelé completamente nu. Os portenhos arrancaram a roupa do craque como se disputassem uma relíquia sagrada. Se duvidarem pesquisem nos arquivos.
E para terminar: Eu frequentemente não gostava das coisas que Pelé fazia ou dizia, mas ele foi o maior jogador de futebol que vi jogar e pelo que vi, duvido muito que houve melhor.
Beckenbauer, Cruyff, Eusébio e Maradona foram fantásticos. Messi ainda o é. Mas todos estão longe do Atleta do Século. Muito longe.
E nenhum viralatismo ou argentinismo pseudo-rebelde vai mudar isso.
E tenho Dito
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