segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A ESQUERDA CANCELADA. REDUCIONISMO ECONÔMICO OU IDENTITÁRIO?




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RAÇA X CLASSE II (OU SEJAMOS REALISTAS E ALMEJEMOS O IMPOSSÍVEL)

Aqui, Prof. Benedito Carlos dos Santos, continua a análise começada no seu artigo "REED X SOCIALISTAS? PRECISAMOS ILUMINAR O DEBATE POLÍTICO-IDENTITÁRIO" mostrando Reed, um professor emérito que cancelou sua palestra uma iniciativa a crescente ala esquerda do Partido Democrata – que apoiou Bernie Sanders.


No dia 18/08/2020 uma matéria do Globo, traduzida a partir do “New York Times”, relatava que Adolph Reed, intelectual negro marxista norte-americano, teve sua palestra cancelada na Universidade da Pensilvânia, universidade na qual é professor emérito.
A reportagem dizia ainda que membros dos Socialistas Democráticos da América, ala esquerdas em ascensão do Partido Democrata realizou articulações para “cancelar” o scholar. A razão seria a ênfase dada pelo professor, um velho combatente da causa socialista nos EUA – foi um dos fundadores em 1996 do praticamente extinto Partido Trabalhista dos Estados Unidos – na questão social em detrimento à questão de raça e sua crítica às lideranças negras por não vislumbrarem uma verdadeira “política de classes”, preocupados que estão em ocupar “os espaços” dentro do “Sistema”.
             

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Como foi dito no artigo anterior, Reed critica também as políticas do Partido Democrata, não poupando Clinton e nem mesmo Barak Obama, a quem ele acusa de neoliberaL.

Na verdade a iniciativa pelo “cancelamento” partiu de um grupo denominado Afrosocialists and Socialists of Color Caucus (AFROSOC), que acusa Reed de “reducionismo econômico”, ignorando, na visão desses críticos, os aspectos transformadores da luta identitária dos afroamericanos.


DSA AfroSocialist and Socialists of Color Caucus - Home | Facebook

Bom, vamos por partes:

1 -  Lendo o Professor Reed, fica clara a sua preocupação, como marxista egresso das lutas políticas dos anos de 1960 e 1970, de ressaltar a importância de uma aliança de classes inter-étnica, capaz de enfrentar a opressão capitalista e imperialismo norte-americano. Nada disso é novo. Velhos esquerdistas da América batalharam por isso, desde os socialistas e comunistas nas primeiras décadas do século XX, até a Nova Esquerda da década de 1960

2 - Essa análise (que sobrepõe a questão de classe à de raça), contudo, não agrada muito alguns setores progressistas dos EUA.
Como disse no artigo anterior, o “Red Scare”, impulsionado pelo espírito macarthista da Guerra Fria, deitou raízes profundas no país e até hoje assusta uma parte da esquerda norte-americana. Pautas étnico-identitárias, feministas, LGBTQI são até – e coloque-se muito “ATÉ” nisso – admitidas. E às vezes parcialmente incorporadas por alguns conservadores. Mas quando a discussão passa por mudanças na economia, na crítica ao imperialismo e na aliança de classes acima das diferenças de gênero, etnia ou orientação sexual, parece que a esquerda e a direita se unem! Com acusações de parte a parte!A direita acusando a esquerda de dividir o país e os grupos de esquerda digladiando-se se é mais importante discutir questões de raça e de gênero ou questões “meramente econômicas”. Por que não discutir ambas, oras?



3- Entendo um pouco a preocupação de alguns grupos ditos identitários. No passado essas pautas foram recusadas por parte da esquerda tradicional e militantes dos movimentos negros, feministas e de defesas dos gays foram acusados, de fascistas a diversionistas. O que muitas vezes era mera desculpa para manter dentro da própria esquerda atitudes machistas, homofóbicas e racistas.

Entenda quem são os antifas, que Trump acusa de orquestrar os protestos nos  EUA | Blog da Sandra Cohen | G1

(https://g1.globo.com/mundo/blog/sandra-cohen/post/2020/06/01/entenda-quem-sao-os-antifas-que-trump-acusa-de-orquestrar-os-protestos-nos-eua.ghtml)

     

Talvez, veja bem, talvez, o Professor Reed subestime o papel transformador de movimentos como o da afirmação da diversidade étnica. Dentro desses movimentos há de tudo um pouco. Angela Davis, com a argúcia de sempre, afirmou recentemente que não adianta nada diversidade e inclusão sem mudanças radicais na sociedade. E ela tem razão, é claro! Inclusão para criar gerentes capitalistas negros que ajudem a explorar os trabalhadores? Presidentes negros que implantem políticas neoliberais? Ou como vimos no Brasil, presidentes negros de fundações que depreciam os negros e afrontam seus ícones? Mas, vale a pena criar mais sulcos estigmatizando setores do próprio campo progressista? 
DSA AfroSocialist and Socialists of Color Caucus - Home | Facebook

5- Não, não se trata de esperar a revolução para resolver todos os problemas. Esse discurso já foi feito antes por gente que não fez a revolução e também não acabou com a opressão dos grupos marginalizados. Daí insistimos que é uma falsa dicotomia que, tanto lá como cá, divide o movimento progressista e fortalece os Trumps e Bolsonaros da vida. 

6- Por último: proibir alguém, que mesmo com discordâncias estratégicas, está no mesmo campo progressista, apenas torna urgente discutir essa tal “cultura do cancelamento”. Não estamos falando de fascistas, com os quais não se deve dialogar mesmo. Até por que eles não querem. Estamos falando de setores que atuam no mesmo campo da esquerda. Cancelar alguém do mesmo espectro ideológico nos remete às amargas disputas no passado entre stalinistas e trotskistas, entre outras pugnas amargas, que muitas vezes culminava com trocas de acusações infames, calúnias abjetas e... Cancelamento. As vezes até pela força. A História está cheia desses exemplos. A direita frequentemente não aprende anda com essa velha companheira – a História. A esquerda deveria ser diferente. A direita quer apenas que nada mude. O campo progressista onde estão, ou deveriam estar, os que querem mudar o mundo, deveria ser diferente. Ou estamos, para citar uma das máximas das barricadas de 1968, pedindo o impossível? 

Se for o caso devemos ser realmente realistas, e como diziam os jovens de Paris na época, almejar o impossível.

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