domingo, 22 de janeiro de 2023

ATÉ ONDE VOCÊ É REPONSÁVEL PELO GOLPE?

 

(Frustrado até o momento)

 Estou propondo esta reflexão para cada um daqueles que, como eu, acredita ter contribuído de alguma maneira para um país mais justo, solidário e democrático. 

Por: Douglas N. Puodzius



Envido então, a pensar pelo tempo necessário sobre tudo o que fez nesse sentido. E isto significa não apenas dizer para si que fez alguma coisa, qualquer coisa. Mas, avaliar profundamente; saber se o feito foi de fato significativo ou se foi o máximo que conseguiu fazer com as condições físicas, materiais e subjetivas que teve a disposição para empreender esforços por este objetivo.

Peço também que não deixe de considerar todo o quadro num ambiente adequado, sem interferência alheia. Faça essa revisão como quem ora piedosamente. Cumpra a tarefa longe de todos, em sua intimidade, inclusive, cuidando de adotar algum ritual de higidez com a verdade, porque é preciso reduzir ao máximo as chances do uso de subterfúgios que direcionem as conclusões para o caminho do  auto vangloriar ou autodesculpar  desavergonhado. Nada é absoluto para tanto, principalmente,  entendimentos que quando melhor avaliados, do ponto de vista de cidadão consciente da tragédia enfrentada, mostram-se pouco criveis e/ou nada razoáveis. Em geral, as certezas que nos dispensam das responsabilidades ou nos afagam o ego em demasia, emergem de compreensões que se apoiam em premissas, fatos, narrativas, arrazoados, propositalmente ou não, distorcidos.

Além disso, o motivo para apartar-se do mundo no momento de pensar sobre esse assunto, cinge ao fato de que a solidão é o melhor estado para chorar a vontade. Aliás, talvez seja esse o fator mais importante para se tratar essa medida com muito carinho.

Enfim, a proposta é um olhar para dentro na posição de crítico imparcial e justo, fazendo a expiação de mente e coração abertos, sem medo, para reconhecer somente para si as glórias e os pecados humanamente cometidos nessa trajetória. E mais... para que a partir desse genuíno reconhecimento seja capaz de fazer bem mais e muito melhor no futuro, que nos aguarda repleto de previsões amargas.

 

Proponho que comecemos nossas reflexões aceitando que; como Sociedade, pouco fizemos pela nossa independência e autonomia.

Contudo, sobre esse inicio de discussão interior, vale uma explicação para evitar o cometimento de grande injustiça: Quando me refiro a Sociedade; não falo de sociedade como povo.

O povo brasileiro é o limitado e oprimido ser humano que foi muito além do que se podia imaginar nos mais ufanistas sonhos civilizatórios. Ser vivente sem água, sem comida, sem moradia, sem energia elétrica, sem escola, sem saúde e, principalmente, sem amor, conseguiu sobreviver, matar a sede, comer, abrigar-se, iluminar-se, estudar e cuidar do corpo e da alma, mesmo sem remédio e mesmo tendo em contra uma elite que o deseja fora desse mundo. E fez tudo isso, conseguindo que o amor prosperasse em sua existência. Portanto, auto apiedar-se pela inércia frente ao inimigo, acusando o povo de não ter feito a parte que a ele cabia, segundo os interesses de quem se autoproclama mártir inocente, é justamente usar de compreensões desviantes da verdade para atender a vontade de ser reconhecido como militante responsável contra o golpe.

Por outro lado, quando se diz que a sociedade falhou, também nesse caso urge melhor conceituação, pois, é do mal entendimento que se  abre a janela de oportunidade para confortar o ego. E esse berço esplendido, onde um individuo deita a cabeça e dorme com a consciência tranquila, é a possibilidade de usar argumentos que, não somente o isentam por coletivizar responsabilidades pelo fracasso, mas, no limite da hipocrisia, prestam-se sobremaneira a despersonalizar os erros, propiciando a conclusão de que, sim: Eu, pessoa, lutei todo tempo como bom combatente, mas, a sociedade não ajudou.

Ora que o dito não pode ensejar desculpas de tal monta, porque a sociedade a qual me refiro, não nos redime de modo algum. A sociedade que falo é exatamente aquela que nos inclui sem distinção. A sociedade que acuso de não ter enfrentado como deveria a luta pela democracia, somos nós. Somos nós sim; esse emaranhado de seres sociais, intricados em instituições, em empregos, em empreendimentos autônomos, gentes com créditos de curto ou longo prazo ou sem bom nome na praça, fazedores de compras de ideias insanas, corruptas ou simplesmente burras, de ideais perpétuos ou de coisas para consumo instantâneo. Somos nós enlaçados pelas cordas da academia ou da ignorância, sábios e crentes, todos comungando em encontros sacros ou profanos, todos seres falantes conjugando a vida com o pé no chão do real ou com a vista na tela, em existência virtual. Então, não vamos fugir a nossa responsabilidade - pelo menos como sociedade – vamos aceitar que falhamos.

 

Dado o primeiro passo resta então nos questionarmos: Qual a minha responsabilidade sobre esse Brasil que ontem leguei para hoje? Qual a minha responsabilidade sobre aquele Brasil que deixarei para amanhã?

A resposta de cada um, não sei... talvez esteja soprando no vento, como dizia o poeta, o sábio companheiro de Suplicy... No entanto, ao responder a primeira questão automaticamente estaremos determinando a reposta da segunda e decidindo o destino do País. Pense nisso!

Faça uma boa reflexão!

RECOMENDAÇÃO DO SBP

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