(Frustrado até o momento)
Por: Douglas N. Puodzius
Envido então, a pensar pelo tempo necessário sobre tudo o que fez nesse sentido. E isto significa não apenas dizer para si que fez alguma coisa, qualquer coisa. Mas, avaliar profundamente; saber se o feito foi de fato significativo ou se foi o máximo que conseguiu fazer com as condições físicas, materiais e subjetivas que teve a disposição para empreender esforços por este objetivo.
Peço também que não deixe de
considerar todo o quadro num ambiente adequado, sem interferência alheia. Faça
essa revisão como quem ora piedosamente. Cumpra a tarefa longe de todos, em sua
intimidade, inclusive, cuidando de adotar algum ritual de higidez com a verdade,
porque é preciso reduzir ao máximo as chances do uso de subterfúgios que direcionem
as conclusões para o caminho do auto vangloriar
ou autodesculpar desavergonhado. Nada é
absoluto para tanto, principalmente, entendimentos que quando melhor avaliados, do
ponto de vista de cidadão consciente da tragédia enfrentada, mostram-se pouco
criveis e/ou nada razoáveis. Em geral, as certezas que nos dispensam das
responsabilidades ou nos afagam o ego em demasia, emergem de compreensões que se
apoiam em premissas, fatos, narrativas, arrazoados, propositalmente ou não, distorcidos.
Além disso, o motivo para
apartar-se do mundo no momento de pensar sobre esse assunto, cinge ao fato de
que a solidão é o melhor estado para chorar a vontade. Aliás, talvez seja esse o fator mais importante para se tratar essa medida com muito carinho.
Enfim, a proposta é um olhar
para dentro na posição de crítico imparcial e justo, fazendo a expiação de
mente e coração abertos, sem medo, para reconhecer somente para si as glórias e
os pecados humanamente cometidos nessa trajetória. E mais... para que a partir
desse genuíno reconhecimento seja capaz de fazer bem mais e muito melhor no
futuro, que nos aguarda repleto de previsões amargas.
Proponho que comecemos nossas
reflexões aceitando que; como Sociedade, pouco fizemos pela nossa independência e
autonomia.
Contudo, sobre esse inicio de
discussão interior, vale uma explicação para evitar o cometimento de grande
injustiça: Quando me refiro a Sociedade; não falo de sociedade como povo.
O povo brasileiro é o
limitado e oprimido ser humano que foi muito além do que se podia imaginar nos
mais ufanistas sonhos civilizatórios. Ser vivente sem água, sem comida, sem
moradia, sem energia elétrica, sem escola, sem saúde e, principalmente, sem
amor, conseguiu sobreviver, matar a sede, comer, abrigar-se, iluminar-se,
estudar e cuidar do corpo e da alma, mesmo sem remédio e mesmo tendo em contra uma
elite que o deseja fora desse mundo. E fez tudo isso, conseguindo que o amor prosperasse
em sua existência. Portanto, auto apiedar-se pela inércia frente ao inimigo, acusando
o povo de não ter feito a parte que a ele cabia, segundo os interesses de quem
se autoproclama mártir inocente, é justamente usar de compreensões desviantes da
verdade para atender a vontade de ser reconhecido como militante responsável
contra o golpe.
Por outro lado, quando se diz
que a sociedade falhou, também nesse caso urge melhor conceituação, pois, é do
mal entendimento que se abre a janela de
oportunidade para confortar o ego. E esse berço esplendido, onde um individuo deita
a cabeça e dorme com a consciência tranquila, é a possibilidade de usar argumentos
que, não somente o isentam por coletivizar responsabilidades pelo fracasso, mas,
no limite da hipocrisia, prestam-se sobremaneira a despersonalizar os erros, propiciando
a conclusão de que, sim: Eu, pessoa, lutei todo tempo como bom combatente, mas,
a sociedade não ajudou.
Ora que o dito não pode
ensejar desculpas de tal monta, porque a sociedade a qual me refiro, não nos redime
de modo algum. A sociedade que falo é exatamente aquela que nos inclui sem
distinção. A sociedade que acuso de não ter enfrentado como deveria a luta pela
democracia, somos nós. Somos nós sim; esse emaranhado de seres sociais,
intricados em instituições, em empregos, em empreendimentos autônomos, gentes
com créditos de curto ou longo prazo ou sem bom nome na praça, fazedores de compras
de ideias insanas, corruptas ou simplesmente burras, de ideais perpétuos ou de
coisas para consumo instantâneo. Somos nós enlaçados pelas cordas da academia
ou da ignorância, sábios e crentes, todos comungando em encontros sacros ou
profanos, todos seres falantes conjugando a vida com o pé no chão do real ou
com a vista na tela, em existência virtual. Então, não vamos fugir a nossa
responsabilidade - pelo menos como sociedade – vamos aceitar que falhamos.
Dado o primeiro passo resta
então nos questionarmos: Qual a minha responsabilidade sobre esse Brasil que ontem
leguei para hoje? Qual a minha responsabilidade sobre aquele Brasil que deixarei
para amanhã?
A resposta de cada um, não
sei... talvez esteja soprando no vento, como dizia o poeta, o sábio companheiro
de Suplicy... No entanto, ao responder a primeira questão automaticamente estaremos
determinando a reposta da segunda e decidindo o destino do País. Pense
nisso!
Faça uma boa reflexão!
RECOMENDAÇÃO DO SBP
Nenhum comentário:
Postar um comentário