segunda-feira, 14 de março de 2022

GILBERTO OLIMPIO: EM MEMÓRIA AO PAI E EM REVERÊNCIA AO HERÓI - DITADURA NUNCA MAIS!


O texto que Igor Grabóis publicou em seu perfil no facebook deve ser lido pelo maior numero de pessoas não apenas porque nos toca pela humanidade, aflorando o mais profundo sentimento que constituímos na relação pai e filho, mas por sua contribuição como documento que colabora para reconstituir uma história que ainda hoje, ou deveria dizer; ainda mais hoje, se quer esquecida, sufocada, trancafiada nos porões da ditadura. Por isso, ao contrário, devemos divulgá-lo sem pedir licença e sem aceitar criticas de revisionistas porque é sim uma historia de amor ao povo e uma fonte de coragem inspiradora, principalmente quando travamos essa luta contra o neoliberalismo fascista que nos oprime. Vamos lembrar para sempre para nunca esquecer esse momento que, mesmo entre a própria esquerda alguns relutem em reconhecer, é de fundamental importância no movimento de libertação, que continua sendo um sonho,. Para cada golpista que evocar a memória de Ustra, devemos evocar Gilberto Olímpio pela democracia e em nome da revolução socialista. Infelizmente ninguém o fez em 2014.

Gilberto Olímpio Maria (Mirassol, 11 de março de 1942 – Serra das Andorinhas, 25 de dezembro de 1973) foi um jornalista e militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desaparecido durante a ditadura militar brasileira após a Guerrilha do Araguaia, movimento guerrilheiro que aconteceu entre o fim da década de 1960 e começo da década de 1970, na região amazônica brasileira, ao longo do Rio Araguaia.

Segundo depoimentos oficiais, foi morto na Serra das Andorinhas, no município de São Geraldo do Araguaia, situado entre Marabá e Xambioá. É um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, um colegiado organizado pelo governo do Brasil para apurar mortes e desaparecimentos ocorridos durante a ditadura militar brasileira.

Fonte: wikiwand

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EM HOMENAGEM AOS PAIS 
EM REVERÊNCIA AOS HERÓIS DA PATRIA
UM TEXTO OBRIGATÓRIO

*Igor Grabois, economista, é diretor da Grabois Olímpio Consultoria Política.

Gilberto Olímpio, meu pai, teria feito, nesse último 11 de março, 80 anos. Gilberto é desaparecido político desde os combates do natal de 1973, na Guerrilha do Araguaia. Seus restos mortais nunca foram encontrados. As circunstâncias de sua morte jamais foram esclarecidas.

Meu pai sempre foi uma ausência presente em minha vida. Lembro de um jeep e uma Rural Willys que ele dirigia. Eram carros do partido. Lembro de sua figura no apartamento do Paraíso, um dos aparelhos do PCdoB nos quais passei toda a minha infância. A cronologia familiar diz que a última vez que esteve em São Paulo foi em abril/maio de 1971. Ou seja, o vi pela última vez dos quatro para os cinco anos.
Gilberto nasceu em Mirassol, na região de São José do Rio Preto no interior de São Paulo. Em 1945, meus avós se transferiram para a capital. Moraram, de início, na Bela Vista, às margens do córrego Saracura, hoje coberto pela 23 de Maio, depois na rua Florêncio de Abreu no Centro, em um cortiço na rua Bresser, onde meu tio de dois anos morreu de difteria, na Vila Maria e, finalmente, no Tatuapé, já no início dos anos 50.
O Tatuapé era um reduto dos comunistas, que davam a linha da vida política e cultural do bairro e de suas adjacências, do voto nas eleições à organização de times de futebol. Junto com a Mooca e Bangu, no Rio de Janeiro, o Tatuapé foi o bairro mais comunista da América do Sul. Região de Olarias e cerâmicas, o bairro do Tatuapé era um bairro de forte presença operária, de origem espanhola e italiana. Meu avô foi o secretário político do PCB até 1964. Minha avó Rosa Cabello, figura humana transcendental, foi da fração do trabalho de mulheres da direção regional do Partido em São Paulo. Meu avô foi presidente do sindicato dos coureiros e minha avó era operária têxtil.
Gilberto cedo se ligou à Juventude Comunista. Começou a trabalhar aos 14 anos na fábrica de vidros da Nadir Figueiredo na Vila Maria. Jogava futebol e treinava boxe na academia da família Zumbano, comunistas e boxeurs, do Tatuapé. No anedotário familiar, Gilberto afirmava ganhar lutas de Éder Jofre, campeão mundial e maior boxeador brasileiro de todos os tempos, o que parecia jactância. Apurei que era verdade. Eder era da família Zumbano e treinava com o meu pai e com outros membros da Juventude Comunista.
Em 1960, Gilberto partiu para Tchecoslováquia estudar engenharia. Nos anos 50 e 60 era comum os jovens comunistas receberem bolsas de estudo nos países socialistas. Entre seus colegas estavam Osvaldo Orlando Costa e Eduardo Pomar. Em 1962, houve a cisão entre os comunistas no Brasil, então divididos em duas legendas, PCB e PCdoB. O PCdoB, dirigido por José Duarte e Pedro Pomar, foi majoritário no distrital do Tatuapé. Gilberto formou com o PCdoB, ficando em lado oposto ao seu pai Antônio Olímpio, que ficou no PCB até 1965.
Gilberto, Osvaldo e Eduardo retornaram da Tchecoslováquia antes da conclusão do curso de engenharia. Gilberto se mudou para o Rio de Janeiro para compor a redação de A Classe Operária, jornal oficial do PCdoB. No Rio, conheceu minha mãe Victória Grabois, com que se casou em 1964.
Logo após o golpe de 64, o PCdoB optou por preparar a resistência armada contra o regime. Na visão do PCdoB, uma jornada de largo fôlego, que envolvia uma estratégia de áreas liberadas, onde o Partido teria raízes na população local e construiria bases firmes para um exército de libertação. Como parte da preparação, Gilberto foi para a China treinar com o Exército de Libertação Popular. Um sobretudo militar chinês ficou como recordação desse episódio.
O PCdoB enviou militantes para diversas partes do Brasil, para avaliar o melhor local para a estratégia de área liberada. Gilberto, Victória e Paulo Rodrigues, dirigente gaúcho do PCdoB e, depois, um dos comandantes da Guerrilha do Araguaia, viveram alguns meses em Guiratinga, interior do Mato Grosso.
Por fim, o PCdoB optou pela região do Bico do Papagaio, que compreendia o sul do Pará, oeste do Maranhão e o norte do atual estado do Tocantins. Gilberto, apesar de não ser membro do Comitê Central, compôs a Comissão Militar do Partido, junto com Maurício Grabois, João Amazonas, Ângelo Arroyo e João Carlos Haas Sobrinho. Em muitos relatos da guerrilha, a presença de Gilberto é omitida. Gilberto foi, segundo vários relatos, um dos melhores comandantes táticos da Guerrilha.
Gilberto atuou primeiro na região de Porto Franco, no Maranhão, depois se fixou no sul do Pará. Era conhecido como Pedro Gil.
Junto com outros sessenta brasileiros, Gilberto consta da lista de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. O Araguaia foi o episódio mais amplo da luta armada contra a ditadura. O de maior duração, de maior número de combatentes, da maior mobilização das Forças Armadas em meios e pessoal, com envolvimento popular e de uma larga faixa do território nacional. A memória dos guerrilheiros é vilipendiada por pseudo-historiadores, que se tornou a versão oficial da mídia para os fatos da guerrilha. E a esquerda ainda não fez um balanço histórico e político da experiência guerrilheira do Araguaia.
Filho da classe operária, comunista na mais fiel acepção do termo, Gilberto cumpriu a mais nobre tarefa do revolucionário, empunhar armas contra o inimigo de classe. Seu legado não é apenas um fato histórico. Ele é parte da experiência comunista em nosso país, das mais variadas formas de luta que os comunistas empreenderam. Nunca negaram nenhuma, sejam eleições, luta sindical, greves, manifestações ou luta armada.
Os brasileiros não logramos derrotar a ditadura. Os epígonos e áulicos da ditadura estão no poder. Nossa tarefa é derrota-los e nunca mais permitir que retornem ao poder. Recuperar a história e reverenciar os nossos heróis é parte da luta, não é passado, é presente.
Gilberto morreu aos 31 anos. Cabe lembra-lo para que sua herança permaneça.
RECOMENDAÇÃO DO SBP

Um comentário:

  1. Belo texto. Mostra a trajetória corajosa doa velhos comunistas. #forabozofascista

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