sábado, 4 de dezembro de 2021

ENTRE NOIVAS E VICES - LULA TEM A OBRIGAÇÃO DE VENCER PELO BEM DO BRASIL

 
AS NOIVINHAS CRISTIANIZADAS - DO ARISTIDES E DO MERCADO – SERÃO ABANDONADAS NO ALTAR PARA OCUPAREM SOLITÁRIAS SEUS LUGARES NA LATA DE LIXO DA HISTÓRIA
Por Douglas N. Puodzius - Provocações sinceras

A discussão sobre o nome para ocupar a posição de vice na chapa de Lula feita por diversos atores do campo progressista, tem pecado pela falta de isenção e distanciamento necessários para realizar uma análise objetiva e competente da situação. Em geral são posições que se sustentam apenas na vontade do que se deseja como meio para o enfrentamento e não no seu efeito prático para a vitória da agenda que deveriam priorizar como fim da disputa que se avizinha.

A arenga que ocorre nesse tempo tão adiantado – Lula nem candidato o é de fato – já indica que os debatedores estão à deriva, levados pelas ondas da maré. Por si só, esse adiantamento de pauta demonstra que a mão não está controlando o timão. Parecem passageiros que, em meio à borrasca, sem se preocupar com o rumo, discutem quem vai ocupar a suíte, enquanto o senhor dos mares os empurra para as rochas.

E por que o tema vem à baila agora? Ora, simplesmente porque alguém - nem o PT e nem Lula – disse que o PT e Lula cogitam a possibilidade de Alckmin vir a ser convidado ou que o próprio teria se oferecido para compor como Vice na chapa Petista.

Bem, o fato é que se a coisa toda tomou centralidade por isso ou até por menos..., concordemos que, pelo tumulto causado na cena política, muitos acham de grande importância o assunto ser resolvido agora, mesmo antes de Lula ser declarado candidato. Afinal, tudo dependente de Alckmin estar ou não na chapa para ela ter sucesso ou ser um fracasso total, ou seja; é o vice quem vai determinar o futuro da candidatura de Lula.

O caso é que se tomarmos o controle do leme e voltarmos o barco contra a maré, que é o rumo certo para quem deseja desenvolver algum pensamento e propor alguma ação no campo da esquerda ou mesmo progressista, constataremos a irrelevância desta discussão e mais, teremos certeza de que seu caráter irrelevante não se baseia apenas em sua temporalidade apressada, mas porque o vice de Lula, no que concerne em ganhar ou perder a eleição, é uma total nulidade na equação.

Muito embora se diga que cada eleição tenha seu próprio contexto e dinâmica, a verdade é que; o que se tem de novo em cada pleito não surge do nada. E, mesmo assim, essa tal coisa inusitada que querem fazer crer magicamente aparece para contextualizar e dinamizar a disputa, não se desfaz por encanto após a contagem dos votos. Por outro lado, ainda que assim o fosse, esse ente divino não feneceria sem deixar lições, traumas, vítimas e consequências que infectariam o porvir. Portanto, vamos olhar essa eleição tomando os cuidados que se deve tomar quando se deseja realizar uma análise objetiva e competente. Sendo assim, vamos analisá-la com um mínimo de dialética para compreender o irrazoável debate sobre Alckmin.

Dizem que uma das principais funções da história é estudar o passado para entender o presente e melhor prever o futuro e, quando o assunto é a disputa eleitoral, ninguém exprime melhor esse adágio do que o Professor Alberto Carlos Almeida[i]. Ele diz que: as eleições presidenciais no Brasil são previsíveis. E para quem leu com atenção os seus livros sabe que a previsibilidade delas não se baseia na escolha do vice, mas na ideia de que, grosso modo, o nosso eleitorado está definido por desejos de igualdade/justiça social e liberalismo/dinamismo econômico que contrapõe Nordeste e sul, respectivamente.

Com base nessa premissa, fundamentalmente podemos explicar a eleição de 2018 e o que deste passado efetivamente se constitui com importância para o contexto e a dinâmica do pleito em 2022. Este parâmetro nos permite refletir com mais propriedade sobre a disputa atual colocando a escolha do vice em seu devido tempo e lugar, que é de longe o que se debate agora.

Para tanto, devemos levar em consideração que a eleição de 2018 foi o desdobramento de um golpe de estado e, como fase dessa tomada de poder, não respeitou um grau mínimo de exigências para classificá-la como um processo de escolha democrático. Nessa perspectiva, é bom que se diga; o Professor Alberto assevera que a previsibilidade a qual se refere esta lastreada em padrões, regularidades, não sendo, portanto, a bola de cristal que se usa para antever resultados de eleições fraudadas, como a 2018, por exemplo.

Contudo, mesmo entre os destroços é possível isolar alguns componentes e desprezar os efeitos das jogadas antidemocráticas e observar que os padrões demarcados para definição do voto do brasileiro podem explicar com consistência os resultados do último pleito.

Independente dos absurdos – Fakenews, prisão de Lula etc. - é notório que na disputa eleitoral passada o desejo por mais liberalismo econômico foi superado como fator chave de escolha de candidatos pelo discurso anticorrupção. Evidente também é; que a agenda de combate a corrupção não se impôs frente a promessa de mais justiça social.

Esse quadro colabora para compreender o desempenho pífio de Alckmin e do PSDB, representantes do liberalismo econômico, a ascensão de Bolsonaro que, desdobrando suas posições fascistas incorporou junto ao eleitorado o discurso anticorrupção, e a resistência da chapa do PT, que chegou ao segundo turno com reais chances de vitória, principalmente com os votos do nordeste.

Nos dias atuais poucos querem lembrar as inflamadas discussões sobre o nome de Haddad para substituir Lula na cédula, ou o quanto era temerário compor a chapa com Manoela Dávila como vice e quais alianças deveriam e não deveriam ser feitas para o sucesso da campanha. Esquecer dessas proposições é necessário principalmente porque o que de fato decidiu a eleição foi a fraude, contra o que nenhum desses iluminados centralizou seu debate.

Os discursos sobre Alckmin para vice de Lula, que hoje tomam o centro das preocupações de muitos, no futuro, serão tão somente aquilo que atualmente são aquelas excepcionais confabulações sobre a necessidade de que, para avançarmos na luta, o PT não poderia ter candidato em 2018 ou deveria se apresentar apenas como vice de Ciro Gomes ou mesmo, em 2014, abrir mão para a bem-aventurada Marina Silva, apoiadora de Aécio Neves. Toda essa arenga se resume hoje em lenga-lenga para uma boa prosa política.

Todas estas sabias ilações previam a catástrofe eleitoral e o fim do PT caso as recomendações não fossem seguidas, como acontece nas atuais prescrições para o vice de Lula. O tempo demonstrou que eram vazias, ingênuas e, por óbvio, ineficazes para conter o golpe contra a democracia, pois, o que se tratava antes e agora é uma disputa de agenda, onde nomes ocupam - quando ocupam - o lugar de último item no check list. E nesse caso, até Karl Marx preside o país se aceitar “A ponte para o futuro”.

O professor Almeida propôs o seguinte ponto de partida para pensar a eleição de 2018. Ele denominou de; premissa da renovação:

“A combinação entre recessão aguda e escândalos de corrupção, os piores da história brasileira, ao colocar no nível mais baixo a credibilidade dos políticos, deslocara PT e/ou PSDB da disputa presidencial.”

Num exercício hipotético com base nessa premissa seria possível testar os padrões eleitorais para prever o pleito de 2018, imaginando um esquema composto por duas cidadelas - PT e PSDB - que deveriam ser derrubadas para que o adversário prosperasse:

A cidadela do PT cairia se, considerando mais fortemente o momento recessivo e os casos de corrupção, o eleitorado esquecesse de todos os benefícios advindos das políticas públicas engendradas pelos Governos Dilma e Lula, enquanto a do PSDB sucumbiria principalmente se o eleitorado Paulista ignorasse ter mantido o partido desde 1994 ininterruptamente no poder.

Para cada cidadela caída o professor propôs um desdobramento para o segundo turno. No caso do PT; Ciro ou Marina disputariam com o PSDB e no caso de queda dos Tucanos, o PT enfrentaria alguém com um perfil semelhante ao de Jair Bolsonaro.

Como se constata hoje; Haddad e Manoela, dois sulistas, conseguiram representar a contento o desejo por mais igualde social no imaginário do eleitor, notadamente no Nordeste, mantendo a cidadela do PT segura contra os ataques antipolítica e anticorrupção.

Considerando o exposto, quando olhamos para 2022 podemos elaborar uma nova premissa da renovação e pensarmos o que de fato contará como fator para o sucesso da campanha eleitoral de Lula:

“A combinação entre desmonte das políticas públicas - principalmente voltadas para saúde, emprego e segurança alimentar - recessão econômica aguda e a ineficácia no combate à corrupção, ao colocar nos níveis mais baixos de credibilidade os expoentes dos discursos punitivistas e defensores do estado mínimo, deslocara fascistas e/ou neoliberais da disputa presidencial.”

Diante dessa proposição podemos acreditar que a cidadela do PT mantenha sua posição inalterada em 2022 e continuará abrigando aqueles que defendem um governo que promova mais justiça social, como aconteceu em 2018. Por outro lado, por minha conta e risco, estimo que o “e” nessa premissa prevalecerá sobre o “ou”, desmoronando as duas cidadelas: Dos fascistas e dos neoliberais.

Os postulados por um estado mais justo socialmente devem derrubar essa nova cidadela anticorrupção e se superpor aos discursos neoliberais, pois, não há mais espaço para as falsas soluções futuras, que prometem o prato de comida através do combate à corrupção e nem para discussões que não envolvam combater a fome, acolher os desalentados e empregar rapidamente o contingente desesperado do país, não tendo como agente motor dessa solução o Estado.

A desidratação das propostas neoliberais que defendem resolver essas questões sociais via iniciativa privada e privatização do estado já não têm a mesma acolhida acrítica por parte da população como até pouco tempo atrás. Podemos observar a evolução desse posicionamento menos condescendente entre o povo, pela patinagem da terceira via que, impulsionada por financiamentos astronômicos e campanhas midiáticas intensas não soma para além de vinte por cento de preferência entre os eleitores, bem como se indica essa fadiga de material, na brutal queda de credibilidade do outrora poderoso ministro da economia, o posto Ipiranga, atualmente tido apenas como outra figura folclórica do governo Bolsonaro, com suas promessas vazias de promover um espetáculo do crescimento nos seus incontáveis amanhãs.

Além de tudo isso, devemos ter em mente que se Haddad e Manoela, uma dupla atacada de todas as maneiras mais pusilânimes, impensáveis até mesmo para uma campanha fraudada como a de 2018, num contexto econômico difícil, porém, com um grau de proteção social satisfatório ainda garantindo algum bem estar,  tendo realizado poucos dias de campanha e com Lula preso e censurado, conseguiram resistir e manter a cidadela petista praticamente intacta, diante do atual quadro de terra arrasada, a disputa com Lula como candidato ganha uma potência estrondosa para a derrocada das cidadelas fascistas e neoliberais.

Enfim, diante desses argumentos poderíamos usar aquela velha expressão: “Tá no papo”. Acontece que, quanto mais no papo está maior a necessidade de o campo hegemônico utilizar de ferramentas antidemocráticas para manter o poder. E é nesse ponto que as discussões sobre o vice perdem suas consistências atualmente, pois, entendem essa posição na lógica do voto. Mas a escolha de um candidato por parte do povo depende da agenda, depende de o candidato se encarnar no imaginário popular como detentor da proposta – hoje mais latente - de mais justiça social. Um posto que Lula ocupa quase que naturalmente e sem concorrentes.


O Vice é a oferta da cristianização[ii].

Em determinado momento da Campanha os agentes antidemocráticos deverão reunir seus exércitos para dar fim a um processo no qual a derrota é certa. E nessa hora, pontes de ligação com aquela banda da elite e seus operadores predispostos a aderir o golpe será fundamental para contrapor fisiologicamente os acenos dos golpistas.

Numa reunião contra a democracia as propostas nada tem a ver com aquele lenga-lenga patriótico e anticorrupção, que são as justificativas apresentadas entre louvores a Deus, Pátria e a família nos discursos para o público, mas, com promessas de cargos e dinheiro que é o real interesse dos mercenários - milicianos do judiciário, do congresso, das forças armadas e do mercado - em troca do apoio a ruptura institucional. E é óbvio que não se anula a força dessas ofertas com chamadas a consciência democrática ou apelos em favor da soberania da Pátria. O jogo é sujo e é necessário alguém para chafurdar nessa lama antes de o País atolar num lodaçal, como o que nos encontramos atualmente.

Temer foi peça chave no golpe de 2016. Atualmente tido como um dos maiores traidores do Brasil, ele poderia ter sido aquele que se recusou a aderir a aventura golpista e atuar contra ela, aumentando as chances de a mesa ser virada naqueles dias tenebrosos de quebra da ordem institucional. E personagens como: Aécio Neves, Romero Jucá, Paulo Skaf e até mesmo o General Eduardo Villas Bôas, tomariam destino, senão idêntico ao de Eduardo Cunha, certamente diferente do que assistimos nos tempos atuais e bem mais próximo da infâmia que se reserva aos derrotados nesse tipo de empreitada.

Ninguém sabe quantas vezes esses mesmos atores ou outros de igual estirpe – longínqua na história política brasileira - tentaram levar adiante suas intenções antes de 2016 e qual papel jogou José Alencar, vice de Lula, para barrar as conversações iniciais, pois, é normal que essas movimentações aflorem somente depois de consolidada uma tropa com reais chances de vitória, senão ficam restritas aos porões fétidos de onde se originam todas as ditaduras e se tornam assuntos proibidos, sabidos apenas por poucos envolvidos na trama e na contra inteligência.

Então, nada está no papo e, menos ainda, a tarefa de reunir um exército em torno de Lula  tem início ou depende exclusivamente da escolha do Vice. É necessário cuidar da proposta que manterá a cidadela do PT fortalecida e poderá derrubar as cidadelas do fascismo e do neoliberalismo para consolidar uma vitória pelo voto popular. Esse cuidado com a agenda passa por saber quais pontos podem ser negociados para anular as tratativas golpistas que permitirão discutir um nome que esteja pronto a chafurdar na lama para garantir o acordo, que poderá: pacificar a sociedade com um mínimo de democracia, tirar o país do mapa da fome, acabar com a miséria absoluta e a extrema pobreza, elevar o país a quinta potência econômica do mundo com distribuição de riquezas,  funcionando a pleno emprego, como referencia mundial nas questões de gestão e transparência públicas e proteção de minorias e do meio ambiente e etc...

Assim é que se lida com essa banda podre da sociedade brasileira quando a melhor opção, que é uma revolução sangrenta, não está posta no horizonte. Florestam Fernandes advertia que deveríamos escolher um caminho para fazer a revolução; ou por dento ou por fora do sistema. A esquerda brasileira dispensou o instrumento apropriado para cortar o mal pela raiz e não pode se dar ao luxo de viver marcando uma posição que nunca avança e só regride. Então, deve usar todos os instrumentos para a tomada do poder sem moralismos burgueses e seguir impondo sua agenda e buscando construir uma nova hegemonia com a certeza de que, desta maneira consensuada, nunca será aquela de seus sonhos, mas cada vez menos opressiva social e economicamente para o povo e menos propensa a rupturas institucionais.

A cristianização dos oponentes de Lula é um desdobramento plausível de acontecer ainda no primeiro turno das próximas eleições e mais ainda provável num eventual segundo turno. Entretanto, para que as traições ocorram, as portas devem estar abertas para aqueles que vislumbrarem a derrota de seus candidatos, pois, sem outro caminho a seguir, o golpe será a única maneira de garantirem sua continuidade no poder, que é só o que lhes interessa. Reservemos, portanto, um chiqueiro para os abrigar como convém onde possamos vigiá-los de perto e abatê-los no momento apropriado.



[i] Autor dos livros: A cabeça do brasileiro e o voto do brasileiro

[ii]Cristianização, na política brasileira, é a situação em que um candidato perde o apoio do seu partido, que passa a apoiar outro com mais chances de vitória numa eleição.


RECOMENDAÇÃO SBP

2 comentários:

  1. O AUTOR EXPÔS, NA MINHA OPINIÃO, MOTIVOS PARA NÃO SE ESCOLHER UM VICE PUSILÂNIME COMO O PICOLÉ DE CHUCHU.

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  2. Excelente análise do momento político, estão mudando o foco no vice.

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