segunda-feira, 27 de setembro de 2021

AFEGANISTÃO OU O CRIA CUERVOS IANQUE II (OU QUANDO HOLYWOOD GLORIFICAVA BIN LADEN)

Ditado espanhol: “Cría cuervos y te sacarán los ojos”

Crie corvos e eles te arrancarão os olhos!

A ascensão dos grupos políticos no Oriente Médio, norte da África e Ásia Central denominados “fundamentalistas”, tem a ver, é claro, com a política imperialista, especialmente estadunidense, nas regiões mencionadas, mas também com o fracasso de partidos e agrupamentos laicos e seculares na região.(Por Benedito Carlos dos Santos - Continuação do texto publicado em 16/09/2021)

Talibã promove funeral simbólico dos países inimigos

No caso do Afeganistão com o fracasso do Partido Democrático do Povo do Afeganistão (PDPA), partido que unia nacionalismo anti-imperialista e comunismo, formado em 1967 a partir de uma junção de vários agrupamentos nacionalistas e de esquerda, que foi bastante influente no país até a década de 1990.

 Ex-rei do Afeganistão, Sahir Shah
O PDPA era o partido afegão apoiado pela URSS, mas apesar do suposto “centralismo democrático” praticado, era um partido bastante heterogêneo, convivendo no seu interior comunistas, socialistas moderados, nacionalistas afegãos e grupos que se autoproclamavam islamistas de esquerda. 
Foi fundamental para a derrubada da monarquia afegã em 1973, de resto um regime político fraco, que apenas era tolerado por senhores de guerra tribais, diversos deles envolvidos com a lucrativa produção de papoula, matéria prima para a fabricação de opiáceos como a morfina e a heroína.
É importante lembrar que o Afeganistão é até hoje o maior produtor mundial de ópio. De 80 a 90% da heroína consumida na Europa provêm de ópio produzido no país asiático.
A partir de 1978, quando o PDPA tomou o poder através da “Revolução de Saur” (Saur = mês de abril na língua pachtun) passou a realizar uma política de unificação política do país, limitação dos poderes dos chefes tribais, laicidade, maior participação feminina e outras medidas que não agradaram aos chefes e senhores da guerra das várias etnias que formam o mosaico heterogêneo do país, tais como pachtuns, uzbeques, tadjiques, hazaras, entre outras.
Houve vários problemas com as políticas do PDPA. Medidas autoritárias impostas de cima para baixo de maneira burocrática e ditatorial, no melhor estilo stalinista, são apenas algumas delas. Abundavam denúncias de favorecimento em relação à etnia pachtun, majoritária no Afeganistão, grupo no qual a esquerda local, através dos trabalhadores urbanos, classe média intelectualizada e pequenos proprietários, obtinha a maioria de sua militância. Sem contar políticas de deslocamentos forçados e prisões arbitrárias de opositores.
Havia ainda a questão de que muitos dos que se opunham ao governo supostamente comunista do PDPA e o denunciavam, opunham-se muitas vezes pelos motivos errados. Ou seja, muitos erros e arbitrariedades foram cometidos pelo PDPA, mas vários dos seus opositores se opunham ao partido exatamente por causa dos seus acertos.
Medidas inequivocamente positivas adotadas em relação à igualdade de gênero e modernização do estado não eram bem vistas por uma parcela numerosa das autoridades tribais do país. A monarquia e o efêmero governo republicano instaurado a partir de 1973 toleravam frequentemente a aplicação da lei islâmica nas aldeias, a opressão às mulheres e os poderes dos chefes tribais guerreiros, para os quais a lei islâmica e o Corão eram apenas desculpa para o exercício de práticas autocráticas.
Além do caráter autoritário de muitas medidas do PDPA, cujo enraizamento em algumas áreas e entre algumas etnias era precário, esse partido também se encontrava fortemente dividido. Aliás, sua fundação, resultado da união de diversos grupos, havia sido uma imposição da URSS e condição para apoiá-los. Inclusive financeiramente.
O PDPA possuía uma corrente mais moderada, denominada Parcham (bandeira), influente entre os intelectuais de classe média e trabalhadores urbanos, que era a favorita da União Soviética, e outra mais radical, os Khalq, composta principalmente por pashtuns das classes da mais baixas, principalmente das áreas rurais.
Uma vez no poder as duas correntes começaram a disputar a hegemonia no partido e no governo, levando a uma verdadeira guerra civil, com direito a perseguições e assassinatos. Sim, vocês leram direito, a esquerda estilhaçou-se após chegar ao poder. E alijou parte das forças armadas que não eram leais aos Khalq, privando o exército de quadros experientes e capacitados.
Sob a influência Khalq foi realizada uma reforma agrária desastrosa, levada a cabo pelos militares e burocratas pashtuns da facção do partido e do governo, na qual outros grupos étnicos, muitos dos quais pequenos proprietários, sentindo-se prejudicados e ameaçados, passaram a sabotá-la e apoiar o a princípio insipiente, mas que começou a ganhar força no início da década de 1980, movimento islâmico dos “mujahidin” (combatentes). Aqueles que o governo dos EUA chamaria na administração Ronald Reagan os “combatentes da liberdade”, ofertando-lhes, juntamente com o Paquistão, armas, recursos financeiros e treinamento. Que dariam origem mais tarde à Al-Qaeda de Osama Bin Laden e ao Talibã.
Recordando: Os mujahidins foram eternizados naquele filme pavoroso, “Rambo 3” (1988), estrelado pelo não menos pavoroso Sylvester Stallone, onde o bravo norte-americano liderava os audaciosos guerreiros afegãos contra os comunistas soviéticos, que como todos sabem, ao contrário dos mujahidins, são inimigos da humanidade e do mundo livre!
Bem, só que não!
RECOMENDAÇÃO DO SBP

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