Alguém já disse que toda obra é um documentário do seu próprio tempo. Ou seja, não há obra ficcional sobre o passado ou o futuro que não espelhe o presente.
Por Benedito Carlos dos Santos
Nesses tempos sombrios de neofascismo, negacionismo criminoso, fake news e tentativas de assassinato da ciência e da cultura não há como deixar de saldar o filme “Marighella” do ator baiano Wagner Moura. Até a escolha do ator – Seu Jorge -, igualmente afrodescendente, mas de pele mais escura do que o revolucionário comunista, reveste-se num ato político num país que tende a embranquecer personagens históricos relevantes.
Não, o filme “Marighella” não é perfeito. Longe disso. Há situações simplificadas em demasia e algumas forçadas de barra encenadas para criar efeitos dramáticos. Impossível imaginar que saída de Marighella, um dirigente dos mais destacados do Partido Comunista, ocorresse de maneira tão frívola quanto a que é retratada na obra.
O episódio da leitura ao vivo do documento redigido por Marighella após a tomada da Rádio Nacional – que por si só já daria um filme – não faz justiça ao grande jornalista Hermínio Sacchetta, trotskista, contrário à luta armada naquele momento por razões estratégicas que, não obstante, arriscou sua segurança para divulgar a carta, pagando o preço com prisão e desemprego.
A despeito das limitações óbvias de resumir em pouco mais de duas e meia a complexidade de uma vida extraordinária e de um momento histórico tão difícil, o filme de Wagner Moura merece ser visto. Suas qualidades são inegavelmente maiores do que os seus defeitos. Passa longe de ser um mero panfleto esquerdista. Ali está retratada a pusilanimidade dos esbirros corruptos da ditadura, que não se importavam de ameaçar, torturar e matar, como, aliás, fazem até os dias de hoje. Assim como o sacrifício de mulheres e homens que sangraram e morreram enfrentando a opressão de um estado terrorista protegido por criminosos de fardas e distintivos. E cujo nacionalismo hipócrita se acomodava perfeitamente aos ditames de Washington.
“Marighella” merece ser visto, coincidentemente – ou não – lançado no mês da Consciência Negra e no mês da morte de Carlos Marighella, se não por outro motivo, por sua reconstrução de época, minimalista, mas eficaz, e do desempenho extraordinário de Seu Jorge no papel do revolucionário baiano.
E se tudo isso não for o suficiente, o filme merece ser visto como a dose de realidade necessária num mar cinematográfico poluído por videogames mal disfarçados de obras cinematográficas.
Marighela é negro! E vive!
#Forabozofascista
DIA 12.NOV - SEXTA-FEIRA às 19HS
A LUTA CONTINUA, CAMARADAS!
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